quarenta e quatro.

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— Vou buscar o seu almoço — Kristen, a enfermeira que passou a manhã inteira a cuidar de mim, anunciou, depois de  (voluntariamente) terminar de pentear o meu cabelo. Ela cuidou de mim como se cada parte do meu corpo fosse feito de porcelana. Para além de ser simpática, é uma boa compainha.

Haden também gostou dela e pôde ir para casa ver como seu irmão está sem se preocupar comigo. Eu não queria que o mesmo fosse embora, mas ele mencionou que estava com saudades do irmão em alguma parte da nossa conversa então, o mandei ir embora, mesmo que não quisesse ficar sozinha, mas ele prometeu que voltaria em breve então, só me resta esperar.

— Não — neguei, a lembrança do jantar de ontem me fez torcer a boca em desgosto.

— Você precisa comer, querida.

— Não estou com fome — menti e ela percebeu porque ergueu as sobrancelhas. — Eu juro — insisti na minha mentira.

— Não acredito — respondeu, irredutível. — Sei que a comida daqui não é a melhor do mundo, mas é para o teu bem se quiser ir embora daqui o mais rápido possível.

— Tudo bem — deixei cair os ombros, derrotada. — Mas por favor, não traga sopa.

Ela riu.

— Falyn, é justamente isso que você precisa comer.

Simulei um choro e limpei as lágrimas falsas no meu rosto, como se fosse o fim do mundo.

— Não seja dramática.

— É que dói no coração, comer algo contra a sua vontade — voltei a tentar persuadi-lá.

— Após você comer, essa dor vai passar.

— Você não vai para o céu — a provoquei, ela rolou os olhos com humor e foi embora com a promessa de voltar em breve.

Fiquei a contar ovelhas mentalmente — sendo que não tenho nada para fazer — até Kristen voltar com a sopa dos infernos e fazer questão de ficar ao meu lado até acabar. No fim, ela bateu de forma suave na minha cabeça e disse que sou uma boa menina.

Em alguma parte da tarde, ela precisou ir embora porque têm de cuidar de outros pacientes e deixou-me sozinha.

Tentei fechar os olhos e dormir, mas não estou com sono. Talvez devesse voltar a contar ovelhas até ficar com sono, mas sei que não adiantaria nada. E um dos motivos que está a contribuir para a minha insónia é o medo de uma aparição repentina do Sr. Robert. Ainda não me sinto segura. Muito pelo contrário, o meu ritmo cardíaco aumenta só de pensar nisso. E o facto de que não consigo nem ficar de pé durante trinta segundos piora tudo porque não irei conseguir me defender.

Jesus, como odeio aquele homem. Sinto tanta vontade de chutar a bunda dele e o expulsar do planeta terra para sempre.
Não aguento mais pensar nele. De ser atormentada até nos meus pensamentos e iniciar uma crise de ansiedade incapaz de ser controlada.

O meu coração quase parou de bater quando a porta foi aberta e uma figura masculina apareceu. A minha respiração baixou gradualmente assim que reconheci Theron. Por um momento pensei que fosse seu pai.

— Você me assustou — foi a primeira coisa que falei, no instante em que ele fechou a porta atrás de si. — Pensei que fosse outra pessoa — completei, o observando se sentar numa poltrona, perto de mim, mas isso não me incomodou. A presença dele já não me causa tanta antipatia quanto antes.

— O meu pai?

— Sim — respondi.

— Não se preocupe com isso — me encarou. — Ele pensa que você está num estado grave — fiz uma expressão de quem não entendeu nada e ele explicou melhor. — Eu disse-lhe que os médicos disseram que já não podem fazer nada  por você e que só nos resta esperar algum milagre. E ele acreditou.

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