O professor particular está a falar algo sobre logaritmos, mas não consigo prestar atenção. Não estou interessada, o que não devia estar a acontecer porque preciso muito de estudar tal como preciso do oxigênio para respirar.
Ele percebeu que a minha mente não estava ali porque por vezes fazia uma pergunta e eu o deixava no vácuo, mas dessa vez o mesmo não deixou passar. Insistiu até eu fingir que entendia tudo o que saía de sua boca e no fim lançou-me um olhar sério que dizia “espero que dá próxima vez esteja mais atenta”. Senti-me um pouco mal, por isso anuí positivamente e ele foi embora.
Suspirei e foquei a minha atenção num ponto fixo qualquer.
Está um pouco frio, por isso abracei o meu corpo e encolhi-me na cadeira de madeira onde estou sentada. Mesmo com as meias estampadas com flores calçadas os meus pés ainda estavam congelando, porém nem com essa temperatura estou com vontade de subir para o quarto. Passo todo o meu tempo lá que só a ideia deixa-me enjoada.
Por conta do silêncio, escutei uma voz cantarolando baixinho uma música que desconheço. Greta está com fones no ouvido e a atenção voltada para o celular quando entra na varanda. No momento em que os seus olhos caem em mim a observando, os seus passos cessam de forma bruta.
Consigo perceber que uma batalha interna está formando-se na sua mente, quando ela desvia o olhar do meu e dá meia volta, mas para no meio do caminho e se volta para mim de novo.
Cansada de ficar em silêncio, resolvo ser a primeira a falar alguma coisa.
— Oi — digo, assim que ela tira os fones.
— Olá — murmura, e com passos hesitantes, se aproxima. Ela guarda os seus objetos eletrônicos em cima da mesa e se senta na mesma cadeira em que o professor particular estava minutos atrás.
— Como você está? — quis saber.
— Bem e você?
— Também — respondi.
O silêncio pétreo voltou. Estávamos desconfortáveis demais para levar a conversa adiante. Tudo o que falamos uma para outra foi muito pesado e não é, algo que podemos contornar com facilidade, mas não podia não pedir desculpa. Falei muita coisa que não devia.
— Desculpa por ontem — falamos em simultâneo, e a mesma soltou um riso nasalar.
— Eu é que tenho que pedir desculpa. Fui muito estúpida. Nada do que falei fazia sentido — começou, a encarar as suas mãos. — Estou tão envergonhada — adicionou, com a voz quase inaudível.
— A culpa não é só sua…
Ela me interrompeu e disse:
— É sim, você não fez nada de errado e eu ataquei-lhe sem motivo nenhum. A única que tem de ser perdoada sou eu.
— Tudo bem, já passou — tentei encerrar o assunto.
— Obrigada — sorriu para mim.
— Theron me contou tudo ontem — soltei, de repente.
As suas sobrancelhas castanhas se uniram.
— Tudo o quê?
— Tudo sobre essa situação.
— Ah — soprou. — Ainda o odeia?
— Não sei — dei de ombros.
Não sabia mesmo. Será errado sentir empatia por ele agora?
— O seu irmão disse que está ocupado demais para arranjar uma solução para tudo isso — divaguei. — Porque ele não pede sua ajuda?
— Eu sugeri isso — falou. — Mas ele disse que quanto menos eu souber o que nosso pai faz, a minha sanidade mental permanecerá intacta. E eu entendo, que ele só quer me proteger. Por isso fico longe desse assunto.
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Neutro
RomanceSe meter com as pessoas erradas tem as suas consequências. Falyn Lake conheceu um rapaz. E tudo o que ela queria era o mesmo longe de sua vida, mas ele já tinha outros planos para ela.