cinquenta e um.

3.9K 310 74
                                    


Entrei no quarto de Liane, peguei no seu cobertor e voltei correndo para sala. Quando os seus olhos caíram em mim, ela gesticulou de forma exagerada que eu a cobrisse. Revirei os olhos e lancei o cobertor na sua direção.

— Agora tem tempo de me ouvir? — perguntei, com as sobrancelhas erguidas.

— Nem por isso — deu de ombros. — Que tal preparar um café para mim? Depois disso poderíamos conversar.

Fiz cara feia, e ela acabou rindo. Quando entrei aqui minutos antes sem bater na porta com a justificação de que precisava contar algo urgente para ela, a mesma disse que só iria me dar atenção se eu levasse o seu cobertor. E já convivo com ela o suficiente para saber que sem o seu cobertor, não dá para ter uma conversa saudável com ela.

— Tudo bem — riu. — Pode falar, estava brincando.

Parei em frente da tevê para que ela prestasse atenção em mim e não na novela mexicana, depois comecei a falar:

— Numa noite qualquer, peguei na mão de Haden, e vi uma tatuagem. Perguntei-lhe o que aquela aranha horrível significava, ele riu e me disse que o mesmo tinha medo delas, que só a fez porque na cabeça do Haden de dezassete anos era uma forma de superar o seu medo delas  — contei, andando de um lado para outro e Liane me encara concetrada. — Até aí tudo bem, é meio estranho, mas tudo bem — dei de ombros, vendo a garota na minha frente erguer as sobrancelhas, como se quisesse que eu continuasse. — Mas aí, nas costas dele também tinha uma tatuagem. De uma data, 26 de novembro. Nesse instante fiquei curiosa e queria perguntar oque aquela data significava, mas aí ele percebeu, me beijou e me fez esquecer.

Liane desviou o olhar do meu, coçou a garganta e abriu um sorriso. Que com certeza não tem nada a ver com a história que acabei de contar.

— Então, quer dizer que vocês os dois já... — fez um gesto estranho com as mãos, mas sei muito bem o que significa. Senti o meu rosto ficar quente.

— Nós não fizemos nada — menti, envergonhada.

— Claro — desmereceu as minhas palavras.

— Pode por favor, comentar sobre o que acabei de contar? — tentei fugir do assunto.

— Tudo bem. Não irei comentar nada sobre o que claramente não aconteceu — enfatizou o "não" de uma maneira exagerada. — Agora, voltando ao assunto inicial: Haden supostamente tatua coisas que sente medo, como uma forma de conviver com elas diariamente até superar? É isso?

— Acredito que sim...

— E você quer saber o que essa data significa?

— Sim, porque a maneira como ele fugiu do assunto não foi normal — me sentei ao lado dela.

— Porque não pergunta de novo? Talvez ele responda — incentivou.

— Perguntei, mas ele disse que não era nada. Que era só uma data aleatória e eu não insisti porque da última vez que insisti apenas para ele falar sobre coisas aleatórias e superficiais não correu muito bem — relembrei. — Ele nunca fala nada sobre ele. Nada. E não estou exagerando. Um dia perguntei o sabor de bolo preferido dele e a única resposta que recebi foi "quer assistir esse progama The Voice comigo?" E fim.

— Haden é uma pessoa difícil — comentou, o que já sei.

— Mas com esse comportamento torna tudo impossível. É como se não o conhecesse — lamentei. — Eu gosto tanto dele e me machuca saber que ele não confia em mim nem para responder coisas banais sobre ele.

— Com o passar do tempo, talvez ele se abra mais, entende. A facilidade que você tem de falar sobre sua vida ou das coisas que gosta não é a mesma que a dele, então não fica irritada ou chateada por ele não falar com você como você gostaria — tentou me manter calma. E sei que, no fundo, está  certa. — Você também já tem certeza de que ele gosta muito de você, então o problema nem é confiar ou não em você. Talvez ele ache esses assuntos irrelevantes ou nem seja nada de mais como ele diz, Falyn.

NeutroOnde histórias criam vida. Descubra agora