Coffee

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32º Café



[Regina]

Minha irmã me oferece um copo de água e eu o tomo em um gole só. Os dois pares de olhos me observam atentamente, esperando que eu responda à pergunta.

O que você lembrou?

— Regina, está tudo bem? — Martin me pergunta, hesitante e preocupado. Com a minha respiração já mais calma e o meu coração batendo menos acelerado, eu assinto. — Se você não quiser falar sobre...

— Eu vi o Graham. — Soltei, interrompendo-o. Minha irmã franziu o cenho, com certeza se fazendo a mesma pergunta que eu fiz, e o Dr. assentiu, pensativo.

— Graham é... — Olhou em suas anotações. — É o marido da sua amiga Rose?

— Eu não sei... — Dou de ombros. — Eu nunca o vi aqui. — Acrescento, confusa. Eu nunca tinha visto o Graham daqui, apenas o da outra realidade, eu não sabia como era o seu rosto e se eram a mesma pessoa. Até então, sabia apenas que tinham o mesmo nome.

— Ele também aparece em uma realidade, certo? — Confirmo com um balançar de cabeça e ele volta a olhar em suas anotações. ­— Ele é noivo da sua irmã. — Afirma, ainda de cabeça baixa, olhando para o caderno em seu colo. — O que mais você viu? — Volta a me observar atentamente.

— Eu não sei onde estava, mas estava deitada no chão, com a cabeça apoiada nos braços dele. As pessoas ao meu redor, me olhavam com expressões apavoradas. Tudo estava um caos. Eu não sentia o meu corpo. O Graham tentava falar comigo, ele parecia estar apavorado também, mas eu não conseguia ouvi-lo.

— Você lembra de ter visto mais alguma coisa? Algum detalhe que possa te identificar qual a realidade que estava? — Volta a perguntar e eu nego. Eu estava tão surpresa e confusa por ver o Graham ali, que não me atentei para detalhes.

— Mas acho que a aparição do Graham já exclui algumas opções, não é? — Zelena pergunta, entrando na conversa. Ricky tinha lhe dado a permissão para entrar na conversa também, se fosse para dizer algo que tivesse a ver com o assunto.

O Dr. pede um minuto antes de responder e baixa os olhos para as suas anotações novamente.

— Bem, de acordo com os relatos, a aparição de Graham exclui apenas uma realidade.

Meu coração se aperta. Eu sabia bem qual a realidade que excluía.

— É a que eu sou noiva da Emma, não é? — Ele assente e eu sinto meus olhos marejarem. Tirando o fato de eu não ser muito apegada a minha irmã, era a minha realidade preferida. Eu não tinha sofrido acidente, era noiva de Emma, minha irmã e minha mãe estavam vivas, eu não precisava de Psicóloga, terapia e fisioterapia, não vivia em confusão comigo mesmo para saber o que era verdade ou não...

— Rê... — Zel toca em minha mão e a aperta. — Eu sinto muito... — Seus braços me rodeiam e me confortam em um abraço apertado. Então permito que minhas lágrimas se derramem e molhem o meu rosto e a sua blusa.

Ficamos alguns minutos em silêncio e abraçadas, até que me sinto mais calma e o choro cessa.

— Como eu posso ter a certeza que o que eu lembrei é a verdade? Que tudo isso aqui é a verdade? — Perguntei, segurando a vontade de chorar novamente. Eu não queria acreditar que uma das minhas realidades preferidas não era a real. Eu torcia para que sua resposta me desse a esperança de que ainda existia a possibilidade dela ser a verdadeira, mesmo a lembrança tendo excluída. Eu tinha a tola esperança de que tudo fosse apenas um pesadelo no qual eu ainda estou vivendo, e que quando eu acordasse, eu estaria nos braços de Emma, após uma noite inteira de amor em comemoração de mais um ano de noivado, ou então, que estaríamos nos preparando para voltar à Miami para comemorar por lá também.

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