You...

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34º Você...



[Regina]

― Então você acha que a pessoa que você via antes do acidente acontecer, possa estar morta? ― Martin pergunta, após me ouvir por longos minutos sobre tudo que lembrei e descobri desde a última vez que vim ao consultório. Sobre a minha ida até o local do acidente e a lembrança da pessoa que vi antes de tudo acontecer, sobre a ida até o carro no ferro-velho e a lembrança da ligação que eu recebia ainda dentro do carro, sobre a história do quadro de Emma e sobre a lembrança clara de Kristin e Lilith. Depois da sessão de fisioterapia, eu contei tudo para Zelena e pedi para minha ruiva ligar para Ricky e pedir um encaixe o mais rápido possível. Nós conseguimos para o dia seguinte, no finalzinho da tarde. Eu estava sendo a última paciente.

― De acordo com o que Zelena leu na internet, sim! ― Minha irmã me cutuca com força. Quando direciono meu olhar para ela, minha ruiva balança a cabeça negativamente. O que eu tinha feito de errado?

― Nem tudo que lemos na internet é verdade, Regina. ― A voz de Ricky me faz voltar a atenção para ele e o que diz me fez entender o motivo de censura de Zel. ― Quando ocorreu o acidente, você soube de algum atropelamento ou algo do tipo, Zelena? ― Nós dois direcionamos a atenção para ela e minha irmã nega rapidamente. ― Viu alguém caído no chão, além da sua irmã? ― Volta a questionar.

― Quando nós chegamos ao local, apenas ela estava lá, rodeada de paramédicos.

― Enquanto sua irmã esteve em coma, algum oficial procurou vocês para falar que sua irmã, além de ter infligido a lei, matou ou ao menos atropelou alguém? ― Minha ruiva volta a negar.

― Então, o que você sugere que seja? ― Indago, um pouco irritada com tanta pergunta feita para afirmar que o que Zelena me disse não era verdadeiro.

― Talvez, você só precise de um pouco mais de estímulo para conseguir ver o rosto da pessoa. ― Responde calmamente, cruzando as pernas e se encostando no acento. Olho para minha irmã e pela sua expressão, ela parece se agradar da resposta. Confesso que também fiquei mais aliviada ao saber que, aparentemente, eu não tinha matado alguém. ― Que tal nós tentarmos agora? ― Sugere. ― Talvez agora seja mais fácil, com todas as informações que você já tem. ― Zelena toca em meu braço, incentivando-me.

― Ok!

Martin se levanta da poltrona e puxa sua cadeira giratória para mais perto, enquanto Zelena me ajuda a deitar na outra.

― Você já sabe o que fazer... ― Ele diz quando eu já estou deitada. Eu assinto e fecho os olhos. Inspiro e expiro como ele sempre pede, escuto-o contar baixinho em ordem decrescente, também escuto o som de batida e de motor de carro e então deixo a minha mente mergulhar nas lembranças mais uma vez.

Em ordem, eu me vejo dentro do carro, vendo a pessoa do outro lado da rua, mas sem enxergar o seu rosto, escuto as buzinas fortes, depois os faróis ao meu lado, vindo em minha direção e a batida acontecendo. A situação era tão real que eu podia sentir o impacto. Era uma sensação horrível. O momento acaba e mais uma vez eu não consigo saber quem estava do outro lado.

Em seguida, eu me vejo deitada no chão, com a cabeça apoiada nos braços de Graham, que fala algumas coisas de forma desesperada, mas eu não o escuto, enquanto as pessoas ao redor me olham com expressões apavoradas. Assim como da outra vez, nada me faz entender a presença de Graham ali.

De repente as imagens mudam e como no momento do carro, lá no ferro-velho, eu me vejo chorando e ignorando a ligação. Mas, diferente das outras lembranças, ela não acaba quando eu me vejo jogando o aparelho no banco do carona. A cena continua. Forço-me ao máximo para me manter ali, até que eu tenha ao menos a resposta de quem me ligava. O celular volta a tocar e dessa vez eu atendo. Meu esforço estava dando certo.

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