We go to Miami

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4º Nós vamos para Miami


[Regina]

— Você se lembra de onde mora, certo? — Perguntou-me Zelena, de repente. Encarei-a sem mover o rosto e balancei a cabeça afirmativamente. — O que você esqueceu exatamente?

— Essa é uma pergunta bem difícil. — Respondi ainda sem encará-la. Movimentar o pescoço para os lados doía um pouco.

— Do que você se lembra? — Sorri. — O que? — Entrou em meu campo de visão. — Pergunta difícil também?

— Não... É que... — Sorri sem graça. — A última coisa que eu lembro é... — Olhei para minha mãe pelo retrovisor interno. A essa altura ela já deveria saber da minha ilusão e provavelmente da minha orientação sexual. Ou será que não? Ao menos na minha realidade ilusória, ela sabia e tinha aceitado muito bem. — Bem...

— Pode dizer... — Incentivou-me, minha irmã.

— A última coisa que eu lembro é de acordar com... — Fiz uma pausa e respirei fundo. — Com a Emma me... — Encarei o olhar da minha mãe pelo retrovisor interno. — Beijando e... — Não completei a frase.

— Entendo. — Sorriu de forma maliciosa.

— Eu não posso te dizer exatamente do que lembro ou não, porque tudo que eu lembro que aconteceu antes de eu me acordar no hospital, não passou de uma mentira, e eu não sei quando essa mentira começou. Simplesmente a realidade e a ilusão se mesclaram, e eu não sei onde uma termina e a outra começa. — Tentei explicar, mas pelo seu olhar, acho que baguncei sua mente.

— Acho que... — Fez uma expressão pensativa e ficou apontando no ar, como se ligasse pontos. — Acho que entendi. — Sorri. — Mas, mudando de assunto... — Deu um sorrisinho e eu já imagino do que ela vai falar. — Hoje à noite tem um show de reggae em Clearwater. O que você...

— Nada disso. — Minha mãe interrompeu de forma autoritária. — Regina acabou de sair do hospital. Não se esqueçam das palavras do Doutor.

— E...? — Indagou Zelena de forma irritada.

— E que sua irmã está impossibilidade de se defender, mal pode se movimentar, e você sozinha não poderia defender as duas... — Explicou. — Regina está indefesa ainda, e nem pode fazer esforços.

— Sua mãe tem razão. — Comentou papai. — Clearwater é muito longe de casa... Se acontecer alguma coisa...

— Não são nem duas horas de Orlando. — Reclamou Zelena. — Vamos de carro. Regina tem a cadeira de rodas. Não vai fazer esforço algum. Vocês exageram tanto... — Bufou irritada. Zelena era a mais velha, mas sua atitude a faziam parecer ser a mais nova.

— Ainda assim, é longe e eu não quero sua irmã longe das nossas...

— Vocês... — Interrompi mamãe. — Não vão me tratar como uma criança. — Avisei de forma séria. — Se eu quiser, eu vou. Se eu não quiser, eu não vou.

— Regina... — Advertiu meu pai.

— Eu não quero ser rude com vocês. — Expliquei. — Mas não quero que me privem de sair só por eu estar... — Fiz uma pausa procurando a melhor palavra pra definir como eu estava. Mas não encontrei. — Assim... — Finalizei.

— Não vamos, nem queremos fazer isso, meu amor. — Rebateu meu pai. — Só não queríamos que você fosse para tão longe, e saísse por ai, durante as primeiras semanas... — Explicou.

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