Devia ser umas oito da noite, com sorte. Meu pai estava sentado na varanda da frente, nas escadas, me encarando conforme eu caminhava até em casa. Ele me olhou de cima a baixo antes de se levantar, me abraçando com força.
— Achava que tinha acontecido alguma coisa. — Falou, me soltando. — Tentei te ligar agorinha, mas seu celular estava fora de área.
Fiz uma careta ao ouvir aquilo.
— Desculpa. Meu celular morreu. — Expliquei. — Fiquei treinando até tarde e depois fui dar uma volta, desculpa, pai. — Ele concordou, beijando minha testa e soltando o ar.
— Sinto muito, querida.
Concordei com a cabeça.
— Acho que dessa vez talvez precisemos nos mudar. — Falou. Encarei ele, suspirando.
— O que for melhor, pai. — Dei de ombros, com ele fazendo uma careta.
— É só injusto com você, as aulas já começaram e você já deve até estar pensando no seu projeto para...
Fiz bico para aquela, com ele me encarando, sério. Meu colégio tinha como nota final e mais importante um projeto baseado em algo social, independente do que fosse. Contanto que tivesse resultados, mesmo que mínimos, para um grupo ou grande parte da população, seria aceito. Podia até mesmo ser a formação de um novo parque por perto da cidade ou o estudo do céu, mas tinha que ter algum resultado para as pessoas.
— Não pensou ainda? — Meu pai perguntou ao ver meu olhar. Neguei, torcendo o canto da boca, com ele rindo. — Você realmente é minha filha. — Ele passou a mão por meus ombros, com nós dois entrando em casa. Meu pai tinha o hábito de deixar tudo para última hora.
Eu me perguntava de quem eu tinha herdado isso.
— Pelo menos você voltou. — Falei, sorrindo para ele, com ele concordando, indo até o balcão da cozinha.
Ele tinha ficado fora por cinco dias dessa vez. O recorde era uma semana.
Ok, deve haver alguma dúvida. Bom, primeiro de tudo, meu pai não é um pai tão comum assim. Ele é um traficante. Creio que tudo se explique, agora, inclusive um dos motivos da separação de meus pais, é claro.
O outro era meu irmão — meu irmão mais velho que tinha um lugar incrível em um dos cemitérios de Miami. Isso mesmo, meu irmão mais velho e morto. Mas o principal motivo de todos era o fato de minha mãe ter uma amante, isso aí. Agora elas estavam juntas oficialmente, mas na época eram amantes. Minha mãe não tinha interesse em ficar comigo e meu pai queria ficar comigo, no caso, eu morava com meu pai. Bom, na realidade ele morava comigo, já que eu estava mais em casa do que ele.
— Fiz espaguete. — Falou, comigo me jogando de cara no sofá, ouvindo sua risada.
— Eu estou morta. — Falei, sentindo dois pares de patas em minhas costas. Wat.
Ela se enrolou em minha coluna, se deitando ali mesmo, comigo levantando o rosto, vendo meu pai levantar um prato logo ao lado do sofá.
— Ok. — Falei, abrindo um sorriso e me virando, derrubando a gata, que me encarou, irritada.
Dei um tapinha em sua cabeça antes de pegar o prato, me sentando no sofá de pernas cruzadas quase embaixo de mim.
Comíamos em silêncio, com minha gata entre nós dois, quando meu pai falou.
— Você não atrapalhou seu treino por minha causa, né? — Perguntou, comigo negando.
— Não, consegui treinar de todos os jeitos. — Respondi, mastigando a comida. Ele suspirou, concordando. — Está tudo bem, pai.
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