Na manhã seguinte, eu me sentia até ridícula por todo aquele medo, não havia necessidade daquilo tudo, havia passado, não havia nada demais, não tinha porque ter algo, meu pai inclusive teria me avisado caso houvesse, como ele sempre fazia, ainda mais se fosse urgente, nível alguém estar prestes a invadir nossa casa — e descobrir que Theo "TJ" Denwick na realidade tinha algo que podia ser usado contra ele, uma filha.
Eu caminhava pelos corredores, no intervalo principal da manhã entre as aulas, girando minhas chaves de casa entre meus dedos, indiferente ao que acontecia a minha volta, então vendo Hannah entrando na mesma sala que eu, já que tínhamos aquela aula juntas.
Hannah, a garota do telefone.
Ela sorriu quando me viu deixando meus livros em minha mesa, me cumprimentando. Ela tinha entrado pela porta do professor, que ficava perto da mesa dele, mas tinha uma porta na traseira da sala, essa era a que eu tinha usado. Todas as salas do meu colégio eram assim.
— Oi, Lauren. — Falou.
— Ah, oi, Hannah. — Sorri de volta, levemente surpresa, não conversávamos muito. Digo, não conversávamos nada. — Desculpe pela grosseria aquele dia no telefone, a propósito, eu estava meio irritada. — Expliquei.
Meio era eufemismo.
Ela riu, concordando.
Hannah era mais baixa que eu — bem mais —, seu cabelo era escuro, os olhos eram azuis como água, ela gostava bastante de usar shorts jeans e blusas normais, sem muitas estampas, e usava óculos. Ela também gostava de usar tranças embutidas, mas nunca estava desarrumada, e seus olhos estavam sempre com rímel. Ela era inteligente pra caramba, e não dava mole pra absolutamente nenhum cara do colégio.
Aparentemente Jason adorava quebrar o padrão.
— Com Jason, eu sei. — Foi sua resposta.
Isso me fez sorrir, concordando com clareza. Ela me encarou após isso, curiosa.
— Eu fiquei curiosa, mas ele não quis me dizer. Por que ele estava querendo tanto falar com você?
Franzi o cenho, fingindo pensar.
— Bom, porque ele é um babaca filho da puta que não pensa no que faz.
Ela parou, me encarando, parecendo em choque.
— Credo. — Levantei uma sobrancelha. — Ele disse que você ia dizer exatamente isso, nessas palavras, nessa ordem.
Encarei ela, chocada.
— Sério?
Ela concordou, indiferente.
— Ele disse exatamente assim. — Falou.
Isso me fez levantar uma sobrancelha novamente.
— Bom, ele é. — Abri um sorriso enorme. Isso fez ela rir. — Fico feliz que ele saiba disso também.
Eu me sentia meio previsível, depois dessa.
— Ok, então, era só isso mesmo. — Falou, sentando-se em sua cadeira e abrindo um livro de romance (certo...). — Boa sorte se livrando dele.
Fiz um gesto de desdenho.
— Me livrando de quem? — Ela sorriu ao abaixar os olhos para o livro, comigo me sentando em minha cadeira, analisando o livro de matemática e o livro de ciências humanas.
Considerei os dois como se estivessem em uma competição de qual era mais pesado, então pegando o de ciências humanas.
Era o que eu queria estudar.
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