— Eu sei.
Deixo minha voz ultrapassar o sentido lógico, observando minhas costas rasparem contra a parede, enquanto deslizo meu corpo para o chão. O ambiente esfriou de uns segundos para cá e Cassandra parece mais calma.
Acho que nós duas deixamos nossas pulsações estabilizarem. Às vezes nós precisamos respirar e deixar o tempo congelado só pra pensar. E é isso o que ela está fazendo. Posso descrever cada um dos estágios que alguém passa após perder alguém. Cassandra está em negação. Se eu dissesse isso em voz alta, me diriam que o filho dela ainda não morreu, então ela não está de luto.
Mas ela está.
O modo como ela esfrega as mãos nas pernas nuas e afaga os pés na madeira, é desespero contido. Uma parte dela morreu no momento em que o filho dela entrou no hospital. Eu perdi uma parte de mim quando entrei no hospital sangrando, em uma madrugada de maio. Lá no fundo eu sentia um vazio, do tipo que não sabia identificar. Meu coração pareceu bater mais pesado.
— Acho que isso é Deus me castigando. — ela sussurra. — Por eu não ser uma boa pessoa.
Ela deixa a cabeça tombar para o lado, jogando o peso de si para a parede. Aperto os punhos. Não sei o que dizer á ela e nem sei se acredito em Deus. Nunca parei para pensar muito nisso. Quer dizer, se acontecem coisas boas, as pessoas dizem que é por causa dele. Mas se coisas más acontecem, as pessoas culpam a si mesmas por erros que não tem ligação alguma com as tragédias. Então escolho dizer a única coisa que eu posso;
— Ele ainda não morreu. Você tem que ter esperanças.
— Esperança dilacera, Alexie. — sua voz está mais baixa que a minha.
— Me conta sobre ele. — mesmo no escuro, posso ver seu sorriso.
— Ele tem cinco anos. — ela se afasta um pouco da parede, curvando os joelhos. — Ama o Homem-Aranha, quer ser jogador de lacrosse... — acho que ela está chorando. Mas dessa vez é tão silencioso quanto o bater das asas de uma borboleta. — Travis adora a natureza e coelhos. Nunca foi muito fã de pintar ou desenhar. Isso ficou na Lília, ela ama a arte. — Cassandra está distante, deixando sua bochecha molhar por quanto tempo seu coração permitir. — Sempre achei muito bonita a relação dele e da Lília. Quando soube que teria gêmeos, meu mundo girou e coloriu. Acho que isso trouxe meu lado mais amoroso á tona.
— Você parece ser uma ótima mãe.
— Eu tento dar o meu melhor. Eles não merecem menos que isso.
Meu peito afunda. Gostaria de ter tido alguém que me amasse da mesma forma que Cassandra ama os filhos.
— E o pai? — Ela não responde por longos segundos.
— É um pouco problemático. É o Kian.
Como se fosse possível, uma parte de mim quebra mais. Parece que a dor acha um lado que ainda esteja inteiro e o perfura. Agora é a minha vez de deixar a cabeça pesar para o lado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Through Collision
RomantikO fogo pode queimar, mas a gasolina é o gatilho. Aparentemente, Lexie e Kian não são bons. São autodestrutivos e renegados. Quando seus olhos intensos se cruzam, todo o curso de suas vidas céticas muda. Eles sabiam que a aproximação poderia causar u...