Agora, vamos continuar a contar a vida do idiota do Will Belmarques. É, porque só um idiota seria capaz de aceitar uma aposta sem pensar duas vezes!
Meu Deus, onde eu estava com a cabeça? Em cima do meu pescoço era que não estava, com certeza!
Agora, eu teria que bolar um plano, que fizesse com que a garota mais difícil da escola, aceitasse, sem mais nem menos, namorar comigo.
Isso porque a vida não é a porra de um filme adolescente, em que a garota se apaixona por você somente por ver seus olhos azuis; e eu já começava me ferrando, porque meus olhos eram tão marrons que chegavam a ser pretos.
Puta merda, Will, parabéns!
Mexendo em meu bolso da calça puxo de dentro dele a chave de casa. Coloco dentro da fechadura e a giro, e só quando escuto o "trec" da porta é que a empurro, fechando a mesma assim que passo por ela. Sigo em direção ao meu quarto, mas não sem antes reparar no quanto a casa estava vazia e solitária. O barulho do cano de água, que às vezes ecoava pelo meu maravilhoso quarto, só deixava as coisas mais evidentes; às vezes, nem mesmo parecia que três pessoas moravam ali. E que futuramente, seriam quatro.
Mesmo que tentasse, não conseguia parar de pensar que talvez os meus pais não se importavam nem um pouco comigo. Me deixavam em casa, para fazer tudo para eles, e eu quase nunca os via.
Sempre quando pensava sobre isso, meu semblante mudava, e me pegava vagando em minhas memórias; o pequeno Will estava lá. Lá no fundo. Quase sendo jogado do barranco das memórias, só sendo mantido porque às suas memórias com os pais presentes, preenchiam às minhas, sem eles por perto.
Não era possível que em meus plenos dezessete anos, eu conseguisse contar nos dedos os "passeios" que eu tinha tido com eles. Na verdade, eles nem mesmo podem ser denominados como passeios; não quando você é pequeno e tem que acompanhar o seu pai no trabalho, porque sua mãe não te quer em casa, a estressando. Ou quando à sua mãe tem um encontro de fãs, em que fica por mais de três horas assinando livros, enquanto você — eu, no caso — apenas deita em um puff, e dorme.
Minha situação com os meus pais nunca foi fácil, mas antes, era melhor. Antes, quando morávamos perto da vovó, e tínhamos o apoio dela para as coisas.
Depois que ela morreu nos mudamos para a nossa casa na cidade, e aí minha mãe buscou seu sonho de ser escritora, enquanto meu pai, tentava se virar com o trabalho que encontrava, na tentativa de suprir as nossas necessidades.
Acho que a única vez que posso realmente contar como um passeio de verdade, é quando eu soube que os meus pais iriam ter um bebê, e para comemorar, eles compraram pizza. Não sei se eles se ligaram que essa é a minha comida preferida, mas eu gostei disso, e gostei ainda mais quando eles se viraram para mim e, perguntaram qual sabor eu queria.
Sim, esse sempre vai ser o meu melhor momento com eles, e o mais real.
Abri os olhos, devagar, e olhei para o "teto" do quarto por alguns segundos. Estava tão enrolado que chegava a ser cômico.
Igor tinha chegado no ano anterior, e já tinha uma namorada; era o capitão do time; bem afeiçoado — na minha opinião não era bonito, mas as meninas achavam. Tudo isso, unido aos músculos que ele parecia tirar do ar.
Enquanto isso, eu ainda tinha que fazer o almoço, e lavar o banheiro. Tinha que estudar. Tinha que voltar a treinar hockey. E ainda por cima, tinha que arrumar uma namorada.
Respirei fundo, abri a cômoda que ficava ao lado da escada, e tirei a blusa branca, vestindo uma salmão, bem folgada, que tinha um símbolo que eu não fazia ideia do que era. Também vesti um short azul, e dei o nó nos cordões.
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Não (Me) Ganhe
Teen FictionAos dezessete anos, Will Belmarques era um completo idiota. O tipo de ser ignorante em sua própria caixa, focado em seu próprio mundo. Daqueles que acham que a arte da vida é não fazer absolutamente nada. Mas para à minha sorte o tempo muda o homem...