11 = Razões Oculta(da)s

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Aspirei o ar, puxando com força ao ponto de sentir meu pulmão se comprimir.

Voltei a colocar o fone, deixando Landing In London ocupar minha mente. Minhas mãos suavam, e o jogo nem mesmo tinha começado. Resolvi descer os degraus da arquibancada, até o que seria o nosso lado. Diferente das competições de hockey normal, cada lado não era separado por uma parede, e sim, pelo vão da escada, que separava cada lado como se fosse uma linha.

A porta se abriu, e Arraiá entrou por ela, enquanto passava seu cabelo liso para trás. Ele estava com seu famoso lenço vermelho preso no passante da calça, e com seu converse da mesma cor.

Arraiá era ateu, mas, por algum motivo que nunca respondeu, sempre que tínhamos jogos ele colocava o lenço e o converse.

— Você sempre fica nervoso antes dos jogos. — Sua mão tocou meu ombro.

— Fala o treinador supersticioso que sempre usa as mesmas coisas para dar sorte.

Olhei para ele, e esse, juntou as mãos como se rezasse, até rir.

— Precisa relaxar. Falta uma hora para o jogo. — A porta novamente se abriu e olhamos os dois em direção ao som, vendo Ágatha entrar por ela com seus patins. — Gosta mesmo dela?

Olhei novamente para ele, depois de ter acompanhado como um cão carente as ações dela, no gelo.

— Acho que... — Ela fez um giro. Parecia concentrada demais. — Algo nela me intriga.

Arraiá concordou. Quinze minutos depois a porta se abriu de novo, e um garoto entrou por ela e se sentou em uma das fileiras acima de nós.

Seus olhos eram afiados, como o de uma ave, e ele apontou seus olhos para a pista em que Ágatha estava.

— Olha a concorrência chegando — Arraiá brincou, enquanto passava a mão pelo nariz levemente.

O cheiro que o garoto exalava era bom, e conseguia chegar até nossa fileira. Seja quem fosse, tinha bom gosto, e isso eu precisava admitir. O mesmo ficou ali, sentado, observando, não esboçando nem mesmo um sorriso. Estava sério, e com um caderno no colo e um lápis no bolso.

Quando Ágatha saiu, faltavam trinta minutos para o jogo começar. Ela me deu um beijo, e sorriu para mim, até levar seu olhar para o garoto sentado, que retribuiu o sorriso que ela lhe deu.

Quinze minutos depois ele ainda estava lá, assim, como todos já haviam chegado.

Igor parecia estar irritado, o que era bom para nós. Já Felipe parecia calmo demais.

— Eu deixei meu irmão com a psicóloga dele — explicou. — Ele só vai ficar sentado do lado de fora da sala, mas ao menos vai estar do lado da secretária. É algo melhor que deixar ele na casa da vizinha. Lá pelo menos não tem barulho, e tem brinquedos.

Concordei, voltando meu olhar para Noah.

— Pode pesquisar sobre ele? — Olhei para o garoto sentado na quarta fileira. — Algo nele me incomoda.

Noah olhou em sua direção, antes de tirar o celular do bolso.

Noah, era um detetive quando se tratava de descobrir redes sociais. Ele descobria em pouco tempo, e quando não conseguia, pedia ajuda a seus amigos online.

— Opa... — Ele se aproximou de mim, sete minutos depois. — Ele tem mais de sessenta mil seguidores no Instagram! — Me mostrou. — Ele é um digital influencer!

— E o que ele está fazendo aqui? — Me perguntei.

— Talvez só vendo o jogo. — Arraiá nos interrompeu. — Temos que ganhar, e garantir que ele tire uma foto nos parabenizando.

Não (Me) GanheOnde histórias criam vida. Descubra agora