24 = Partido(a)

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Era o dia do jogo. Em tão pouco tempo aquela disputa estava iniciada. Igor ligou no mínimo 4 vezes para cada um querendo checar se todos estavam acordados. Noah, que tinha ido dormir tarde depois de ter maratonado pela segunda vez Friends, não atendeu em nenhuma das quatro vezes. Somente cuspiu palavrões em um áudio, enquanto reclamava.

Meu primo Finley, por outro lado, já estava acordado, e já tinha rezado. Seu sorriso era enorme, e enquanto o via levar a colher com leite e cereal a boca, me perguntei o porquê.

Isso... Até alguém tocar a campainha, com minha mãe descendo à escada apressada, para ir abrir a porta. Quando Finley também se levantou, eu tive a comprovação, antes mesmo de escutar sua voz.

Era Ema. Ela tinha finalmente chegado.

Continuei a comer meu sanduíche, não querendo notar meu nervosismo. O recente medo formado em meu estômago, que parecia revirar. Pelas vozes, todos pareciam felizes, jogando conversas aleatórias em cheque. Minha mãe me chamou com a mão, pedindo para que me aproximasse, mas continuei a ficar sentado.

Desde de criança, Ema era a mais velha. Algo lógico quando ela nasceu anos antes de mim, mas... Não era só isso. Ema era o meu objeto de inveja. Aquela que tinha tido toda a atenção de nossa avó, por ser a mais velha, e sendo assim, a que mais tinha capacidade de ajudá-la.

Meus pais, nunca foram presentes da forma que eu gostaria. Minha avó foi a pessoa que ensinou Ema a cozinhar, com ela, me obrigando a ajudá-la. Minha avó não sabia, mas parte da mesada de Ema era dada a mim por ela mesma, comigo tendo que fazer algumas das tarefas de casa em seu lugar. Quando minha avó morreu, somente tinha sobrado Ema vestida de preto. Ema calada. No mesmo dia em que ela descobriu que poderia ditar sua própria vida à partir dali apenas colocou uma lanterna solar, uma bússola, seus dois tênis all star, duas blusas regatas e três calças em uma mala, e pegou o primeiro ônibus.

Ela agora tinha formado uma família. Ema, que sempre esteve a frente de Will Belmarques, tinha formado uma família, enquanto ele fazia merdas. Ela sempre estava à minha frente. Estar na frente dela depois de tanto tempo me dava medo. Medo, dela estar tão diferente de forma positiva, que eu começasse a me perguntar "o que diabos eu fiz esse tempo todo?".

O sanduíche continuou na minha mão, e eu continuei a olhar para ele. Isso, até que ela se cansasse de somente me ver sentado, sem notar sua presença.

— Will... — sua voz saiu, de forma calma.

Era quase o mesmo tom. Agora menos anasalado, e mais vibrante.

Larguei o sanduíche, e fiz uma retrospectiva do que tinha vivido desde a morte da nossa avó. Esperava que os cabelos marrons quase loiros, não estivessem totalmente loiros e rebeldes. Esperava que ela ainda continuasse uma tábua de passar roupa, sem nenhum corpo. Esperava que ela não tivesse mudado tanto.

Nos olhamos por alguns segundos. Cada um, notando o quanto o outro tinha mudado. Seus cabelos ainda eram cacheados e marrons, estando até que bem cuidados. Ela agora tinha tanto peito quanto à Kim Kardashian, como sempre dizia que queria. Ema parecia acima de tudo, feliz.

— Oi.

Foi somente o que eu disse, com ela sorrindo em minha direção.

Eu talvez tivesse mudado muito. Mais massa muscular, a voz não era mais a de um garoto mimado, e, agora eu não deixava mais meu cabelo crescer ao ponto das pontas ficarem encaracoladas. Apenas o suficiente para que pudesse fazer um penteado legal.

Ah, e... Tinha a tatuagem. Algo que ela não viu na hora.

— Will...! — Minha mãe exclamou. — Vem conhecer o marido da sua prima!

Não (Me) GanheOnde histórias criam vida. Descubra agora