Logo após o primeiro intervalo me sentei na cadeira em frente ao espelho luminoso. A maquiagem dava a sensação de que havia algo grudento no meu rosto, mas o resultado era impressionante.
— Uma ótima abertura! — Uma das garotas disse, enquanto tinha a mão no meu ombro. — Mas quase se atrasou.
Sorri, e ela deixou um beijo no meu rosto.
— Fico feliz que tenha vindo, o público gosta quando você está presente.
Ela me soltou, com um dos trapezistas me dando um aceno com a cabeça.
Eu não trabalhava no circo, e sim no parque, por isso, não recebia nada por estar ali. Apenas ia porque meus pais trabalhavam. Até mesmo minhas irmãs faziam algo, usando da voz para prender o público em um espetáculo, enquanto os dançarinos faziam suas especialidades.
Peguei a cartola de cima do criado, e continuei a andar pelo breve corredor de espelhos, onde todos os que seriam os próximos se olhavam, para garantir perfeição, e parei no espaço para os figurinos. Somente havia uma pessoa ali, que sorriu ao me ver, correndo para me dar um abraço.
— Vai me sufocar — tentei alertar, mas isso fez o enlace ainda maior.
— Você veio! Faz duas semanas que não vem! — Ela exclamou. Olhei por um tempo para seus fios lilás com bob's, e ela tirou o sorriso quando percebeu. — Eu estou me arrumando. Não me olhe desde jeito!
Dei um meio sorriso, e isso foi o suficiente para que ela me puxasse pelas araras enquanto pegava roupas as colocando nas minhas mãos. Ao fim, ela parou em frente ao único espelho que tinha ali, e começou a colocar um por um na frente de seu corpo.
— Qual acha que fica melhor para hoje? — Ela me perguntou, enquanto tinha um vestido bege à frente do corpo. Ele parecia ficar colado no corpo, o que daria espaço para mostrar curvas. — Esse não parece bom?
— Me parece perfeito.
Eu não sabia nada sobre roupas. Apenas concordar com ela seria o suficiente porque ela entendia.
— Talvez eu deva ir sem nada. Acredito que vai ficar melhor — brincou.
— O público gostaria.
— E você morreria de ciúmes — ela parecia convicta.
Resolvi não dar uma resposta. Apenas deixei as outras roupas na arara ao meu lado, e dei as costas, indo atrás de algo para mim. Eu teria que entrar de novo, e precisava escolher outra roupa. Talvez algo que causasse impacto.
— Você some por duas semanas e ainda me ignora! — Ela gritou. Literalmente.
— Eu respondi suas mensagens.
Ela já estava ao meu lado, e olhava fixamente para o meu rosto. Por segundos desistiu, me ajudando a escolher uma roupa. Foi ideia dela o blazer azul.
— Vá com o bege — aconselhei. — Mas ir sem nada não seria uma má ideia. Você seria como à Katy Perry em California Gurls.
— Você não tem limites. Sempre tem uma comparação para fazer — sorriu. — Vamos, eu te ajudo a fazer outra maquiagem no rosto. — E dizendo isso segurou minha mão.
Enquanto saíamos percebi que ela levava o vestido bege na outra mão; quando iria fazer uma observação cheia de referências à um filme, nos encontramos com minhas duas irmãs no corredor. Elas se olhavam no espelho, consertando o cabelo e o batom, e pareceram se espantar quando viram que a garota que me puxava não estava pronta.
— Entramos daqui duas apresentações! — Minha irmã mais nova exclamou.
— Nem mesmo arrumou o cabelo! — A mais velha por apenas um ano continuou o coral de reclamações.
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Não (Me) Ganhe
Teen FictionAos dezessete anos, Will Belmarques era um completo idiota. O tipo de ser ignorante em sua própria caixa, focado em seu próprio mundo. Daqueles que acham que a arte da vida é não fazer absolutamente nada. Mas para à minha sorte o tempo muda o homem...