Sabe quando, há dor na felicidade? Quando, há chuva no verão, ou... quando há uva passa azeda no bolo de chocolate?
Essa, sempre foi a minha vida.
Eu sempre fui como um emaranhado de emoções perdidas. Um vendaval inexplicável. Uma carência reprimida. Eu sempre fui um problema.
Meus pais disseram que, desde criança eu apresentava problemas de socialização.
Enquanto crianças normais corriam, eu, apenas observava. Enquanto pré-adolescentes discutiam sobre o sutiã novo, eu, tinha vergonha de mostrar meu corpo aos outros, com isso se estendendo até a minha própria mãe.
O que piorou, depois que fiz o primeiro corte.
Porque, em seguida vieram outros, e outros. O término da ação nunca parecia vir. Como se fosse um túnel sem luz. Um caminho sem volta.
Na Segunda-feira, o dia foi completamente ruim.
Depois de ter tomado café com minha família, na tentativa de manter as aparências, coloquei tudo para fora, com a escova de dentes indo cada vez mais fundo na tentativa de não deixar que nada sobrasse no meu estômago.
Algo que, segundo a ciência, é um ato falho, porque depois que o alimento é engolido, não há mais volta. Todos os nutrientes já foram digeridos.
Mas, era algo que mesmo falso, me dava a sensação de que estava menos inchada.
Eu era assim quando nasci. Inchada. Um bebê, acima do peso. Uma criança acima do peso.
E mesmo quando se é criança, coisas ficam na sua mente. Como, as ofensas usadas somente pelo seu peso, cor, ou diferença, e... Quando o garoto que você gosta diz que nunca ficaria com você, por você ser gorda.
É... Coisas que ficam. Criam traumas.
Mesmo depois de anos, as garotas da minha sala, continuaram a não gostar de mim. Apenas me achavam "metida", quando a única coisa que eu fazia, era apenas não dizer nada. Não me aproximar de ninguém, por medo de me machucar, e de machucar os outros. Porque a minha vida já era uma merda, e eu não precisava de alguém nela, para levar para o poço junto comigo. Mas, isso resultou em elas dizerem à uma professora nova: "Ela é metida. Não fala com ninguém só porque é loira e tem olhos azuis".
Eu deveria me sentir especial por isso?
Deveria me sentir bonita só por ter uma característica que quase ninguém tem?
Eu não via dessa forma. Não me achava bonita só por isso. O conjunto da obra me parecia feio, sem graça, horrível, e eu sentia inveja delas. Garotas no padrão normal, que saiam de casa, sem pensar duas vezes. Sem antes se perguntar, se valeria a pena sair, mesmo sendo horrível.
Inveja delas, porque não pareciam se importar com os olhares, enquanto eu, me perguntava se alguém tinha descoberto sobre minhas cicatrizes, ou, se naquele dia eu estava mais estranha do que o normal.
Há anos eu não tinha um espelho no meu quarto. Meus pais tinham até mesmo tirado o do banheiro. Uma medida de fazer com que eu parasse de me olhar, e me sentir inferior. Mas, a verdade, é que eu não precisava de um espelho para isso.
Vinha de dentro. De algo muito mais profundo, que me fazia sentir horrível, não importando a estação, ou o que vestisse. Eu era horrível.
Meu irmão em casa, quase não falava comigo. Às vezes, ficava ausente do jantar, para não ter que me ver colocar a comida, e muitas vezes, não comer.
Ele não era bom em fingir que estava tudo bem. Não era bom em tratar sua irmã mais nova como alguém normal, quando não entendia o porquê dela não comer. Ou, mesmo comendo, o porquê de colocar tudo para fora.
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Não (Me) Ganhe
Teen FictionAos dezessete anos, Will Belmarques era um completo idiota. O tipo de ser ignorante em sua própria caixa, focado em seu próprio mundo. Daqueles que acham que a arte da vida é não fazer absolutamente nada. Mas para à minha sorte o tempo muda o homem...