22 = (cons)Ciência

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Respira. Pausa. Volta. Respira. Pausa. Volta.

Continuei a repetir para minha mãe, enquanto a água caia em sua cabeça. Finley trouxe uma toalha e foi quem me ajudou a levá-la até a cama.

Eu e Finley estávamos treinando quase todos os dias. Em apenas alguns dias de treino, minha mãe tinha ficado completamente sozinha, o que resultou nela desmaiando de sono na cafeteria. Seu sangue com certeza estava entupido de metanfetamina e café, mas naquele segundo, enquanto sua respiração estava rápida seu corpo não acompanhava a reação. Como se estivesse estafada depois de um grande porre.

As palavras do médico ainda eram as mesmas. Em todo exame. Se ela não parasse, talvez algum problema surgiria na hora do parto, mas minha mãe no fundo não parecia ter esperança de que sairia daquela gravidez de risco viva. Escrever era a única coisa que ela sentia que poderia cobrir o vazio. O vazio que sua presença deixaria quando se fosse.

— Como... Está à Ema? — Perguntei, me virando para trás para conseguir ver Finley, que estava sentado no chão perto da porta. — Ela vem mesmo?

Ele apenas concordou. Ela viria para o aniversário de morte da nossa avó, e eu não queria esconder que esperava que ela cuidasse da minha mãe por mim.

Antes, a cada crise da minha mãe eu esperava que meu pai chegasse em casa, para só assim ir dormir, mas agora Finley estava ali. Por um mês, Finley fez o que eu fazia. Por um mês, Finley Theodore Vitti deixou que Will Belmarques fosse um adolescente.

Ágatha não parecia bem. Talvez, ela nunca pudesse dizer que algum dia já esteve, mas o fato de estar me afastando me dizia que ela planejava algo ruim. Eu precisava ficar perto dela, para ao menos garantir que ela estivesse bem. Não adiantaria de nada ver Ágatha às uma da manhã, então, eu gastei meu dinheiro para entrar no Winodel Park, carregando fichas por todos os bolsos.

Não pensei que adiantaria de algo, mas mandei mensagem a todos. Seja lá quem estivesse acordado às uma da manhã, poderia pegar alguma ficha de graça e ganhar algo às minhas custas. Porque, eu particularmente era horrível, não tinha talento para pegar ursos em máquinas. Meu talento se resumia à coisas que eu podia acertar: tiro ao alvo, cesta de basquete. E graças a isso eu estava entupido de doces. O que era bom. A ciência dizia que açúcar demais fazia mal, mas eu não estava me importando. Naquele dia eu pedi que a ciência fosse dormir, e só deixasse à minha parte inexperiente acordada.

— Cara, você parece um Candy Crush ambulante! — Jeff exclamou antes de roubar um chiclete de corda. — Achou mesmo que podia vir ao meu terreno, ganhar quase todos os doces, sem esbarrar comigo? — Apontava para si, fazendo uma cara estupidamente convencida.

— Eu esqueci que você trabalhava aqui. — Estava mentindo, claro. — E você provavelmente não notaria se eu não tivesse mandado mensagem no grupo. Você com certeza estava jogando aquele jogo novo de encontro...

— Pelo visto, Sherlock não morreu — Jeff usou o chiclete como se fosse um cigarro, ele até mesmo assoprou uma falsa fumaça. Era patético, mas eu ri disso. — A Akane está ainda mais bonita nessa versão.

— Me poupe dos detalhes. Não quero saber a nova cor de cabelo que ela ganhou. — Voltei a me levantar. — Eu pretendo andar por aí até ter gastado todas as fichas. Então, até mais — já estava até mesmo lhe dando um tchauzinho, quando ele me impediu de fazer tal coisa.

— Ei! — Jeff gritou. — Você é maluco? Quer gastar 78 fichas, sozinho?! Nem mesmo o Om Nom conseguiria comer tantos doces!!

— Então, talvez eu tente ganhar algo de pelúcia.

Não (Me) GanheOnde histórias criam vida. Descubra agora