04 = O Casamento (diferente)

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Emília me passou o endereço, e o motorista me deixou em um ponto no meio do nada. Mato de um lado, e um pouco mais de mato do outro.

Eu tinha pego o ônibus, e mesmo sem trânsito, tinha demorado quatro horas para chegar. Então, eu literalmente não fazia ideia de onde estava.

Tirei meu celular do bolso e, disquei o número de Emília. Ela atendeu no quarto toque, e com muita calma, perguntou:

"Já chegou?"

Olhei a minha volta, notando algumas casas em meio à selva.

"Olha... se era para eu estar perdido, então sim. Estou no meio do mato, me sentindo na fazenda de novo".

Emília pareceu rir, para logo em seguida dizer: "Ok. Estou indo te buscar". E desligou, não me dando nem tempo para responder.

A única coisa que ainda poderia fazer, era me sentar no banco do ponto, e esperar que ela chegasse de carro, ou sei lá o que, para me buscar.

Depois de doze minutos, escutei ela me chamar, mas estava quase dormindo, por isso, somente a escutei quando está estava na minha frente, com as mãos segurando o vestido longo laranja.

— Will, acorda!

Abri os olhos completamente, e procurei de forma rápida o carro.

— Emília... não vamos apé... ou vamos? Perguntei, querendo muito que ela dissesse "não", mas não foi exatamente essa a resposta que ela me deu.

— Claro que sim. Anda, vamos! — Me puxa pelo braço.

Deixei que Emília me puxasse, e ela, sem cansar, subiu a ladeira, e andou pela lateral da calçada, enquanto me levava.

As casas dentro da vegetação se assemelhavam à chácaras e sítios, o que me fazia imaginar que o casal faria a cerimônia do lado de fora, e que a festa talvez fosse do lado de dentro da casa.

E eu estava certo, claro.

Assim que Emília parou de andar pela lateral da calçada, e começou a entrar no meio do mato, sabia que tínhamos acabado de chegar.

— Bem-vindo, Will, a um casamento Judaico.

Assim que o pedaço de folha saiu da minha frente, vi sobre o que ela estava falando.

Acabamos entrando sem querer perto do altar, que era ao ar livre, sendo montado como se fosse uma tenda, onde véus revestiam a sua parte de cima, e desciam pelas laterais, onde eram abertos. Alguns jarros de flores envolviam a armação, além das cadeiras brancas estarem posicionadas em cantos precisos, a nossa frente.

— Você precisa usar isso. — Vi o que ela tinha estendido a mim, e era um chapeuzinho. — Se chama Kipá.

— Tudo bem, só não sei se vai combinar com o meu estilo. — Olhei para meu terno, e minha calça azul, querendo que ela notasse e, concordasse comigo.

— Está... aceitável — disse, por fim.

Olhei para ela da cabeça aos pés; o seu vestido laranja tampava o seu decote, além de também tampar suas pernas. Estava bom nela, assim como qualquer outra roupa longa que ela usava.

— Deixa eu te perguntar... por baixo dessa roupa longa, você veste alguma coisa? — Curiosidade me consumia.

Emília olhou para mim de relance, mas de forma proposital não me respondeu, deixando que eu e a minha pura e inocente imaginação pensássemos na resposta.

— Ei! — A chamei, já que tinha me deixado para trás. — Sua mãe vai estar aqui?

— Claro que vai — responde como se fosse o óbvio. — É a filha dela se casando.

Não (Me) GanheOnde histórias criam vida. Descubra agora