Às vezes, surge uma sensação angustiante de viver em uma bolha. De seu corpo estar amarrado, e o nó frouxo, com você, ainda assim, estando parado ali, não conseguindo mover um músculo. Os olhos, fixam em algo e nada ao mesmo tempo, enquanto o ar percorre e arrepia sua pele, causando uma sensação quase absurda de gelo. Sua audição te traia, te deixando escutar aquilo que vai ser menos angustiante e, em meio a tecnologia dos eletrodomésticos você se pega por poucos segundos, pensativo. Todos os dados e fios, estão dispostos a te ajudar, com a internet e seu meio fácil de te tirar da seca, com apenas o ato de digitar algumas palavras. E sim, vai ser bom. Por segundos você vai se apegar aos seus próprios toques, porque não tem os que quer. Porque, não pode e não vai ter a sensação real, e tirar a dor da superfície é muito mais fácil que encarar o grande buraco que existe lá embaixo.
Eu estava deitado na cama há algum tempo. Pensativo demais. O sofrimento faz isso às vezes. Te dá espaço para parar, sentar e refletir, porque todo o resto é banal. O amarelo se torna cinza; riso é lento e, seu gato não parece mais fofo. Não percebi que a água caia por meu corpo enquanto tomava banho. Contava os pingos, mas me fixava mais em todas as outras coisas que agora conseguia me lembrar. A mente de um adolescente se sobrecarregando de informações, enquanto por fora, ele continuava a não se render.
Sobre o que falaria hoje na roda de conversa? Sobre o que estava pronto. Jogos, mulheres, festa. Isso! Todas as frases prontas já estavam selecionadas. Sempre estiveram. Agora bastava dizê-las com convicção, usando gírias para enfatizar.
Era tão fácil parecer muito bem. Homens tem essa facilidade. Mulheres se deixam render, conversando com outras pessoas sobre isso, mas... Com quem falaríamos? Minha mãe não serviria, ela já tinha aguentado dezessete anos de complicações. Meu pai era alguém com quem não trocava muitas palavras e, meus amigos eram, em sua maioria, garotos com frases prontas.
Homens criaram o sistema, mas não sabem mexer na própria CPU.
Dizem que a música que uma pessoa escuta diz muito sobre ela. Naquele dia em especial, eu coloquei o aplicativo para tocar músicas do Jaymes Young.
O que isso queria dizer sobre mim?
Eu nunca tinha por própria vontade escutado esse tipo de música. Chris gostava delas. Fumava músicas melódicas como se fossem uma droga mais potente que a maconha. Talvez era sua forma de superar o que sentia, usando das letras para tentar refletir sobre o que passava.
Eu escutava rock. Talvez, só quisesse um barulho bem alto nos meus ouvidos para que não conseguisse pensar. Eu era alguém diferente quando pensava. Era... Introspectivo. Como Victor. Talvez frágil. Ser frágil não era algo bom, me causaria muitos problemas, e por isso, eu colocava o casaco de frio com o nome da escola, sendo, na verdade, o escudo que me separava do resto. Era mais fácil seguir em frente do que voltar, analisar e, tentar consertar as coisas.
Quando subi as escadas, ignorei minha mãe que estava sentada na mesa da cozinha, com cara de choro. Até mesmo, fingi não estar escutando o barulho que a corrente de metal fazia sobre a mesa. Meu corpo sentia o problema. Quando me virei para sair, tendo uma xícara com café nas mãos, ela me chamou. Pensei em ignorar. Tentar pensar que não era mais um problema caindo como granizo, mas quando me virei, vi o colar com a ampulheta em suas mãos.
— Você me prometeu — ela citou. Promessas. Eu fazia muitas delas. Nem sempre cumpria. — Me prometeu que ficaria longe deles, e agora isso volta para à minha casa!
Ela deixou o colar cair sobre o material plano, enquanto chorava nas próprias mãos.
Como eu deveria reagir? É agora que eu sorrio? Ou... É agora que faço uma piada sobre o último jogo de futebol, que na verdade não vi, mas que mesmo assim vai fazer sentido só porque a maioria é igual? Chorar, talvez? Era uma pena que isso eu não conseguia fazer. Não mais. Aquele era um dado que tinha sido apagado do programa.
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Não (Me) Ganhe
Teen FictionAos dezessete anos, Will Belmarques era um completo idiota. O tipo de ser ignorante em sua própria caixa, focado em seu próprio mundo. Daqueles que acham que a arte da vida é não fazer absolutamente nada. Mas para à minha sorte o tempo muda o homem...