23 = O (não mais) Eu de Antigamente

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Naquela manhã, minha mente tinha riscado, reproduzindo sempre a mesma coisa:

"Ágatha, Ágatha, Ágatha, Ágatha..."

Era um saco!

Me sentia um idiota que não conseguia parar de pensar na mesma garota. Não importando o que eu tentasse fazer, minha mente voltava a rir de mim, fazendo o nome dela piscar pela minha mente. Nem mesmo um banho gelado resolveu o problema. Ou resolveu temporariamente, até eu abrir a gaveta que agora tinha meias, e lembrar de quem tinha me dado elas.

Eu sou um otário. Um completo otário.

Quando subi, Finley tomava sozinho o café da manhã. Apontei para as escadas, como forma de perguntar sobre minha mãe.

— Sua mãe... estava brigando com o seu pai de madrugada. Ele saiu, talvez direto para o emprego, e ela agora está dormindo.

— Duvido muito. — Coloquei minha mochila na cadeira da cozinha. — Ela não consegue parar de trabalhar.

— Na verdade, Will, ela disse que vai parar por um tempo, desde que... — E lá vinha ela com sua proposta. Já não bastava eu estar usando óculos? — Você leia isso e faça um resumo.

Peguei o livro novo, e li o nome na capa. Não me estranhei por aquilo. Ela sempre me mandava ler livros de filósofos e sociólogos só para que Theodore citasse. Um adolescente mais sábio que um monge.

— Sua mãe também pediu para que você subisse. — Ele logo disse. — Parece ser algo sobre...

— Eu sei. — Guardei o livro. Não tinha nada contra Nietzsche. Leria o livro quando pudesse. — É sobre o personagem.

Tirei o óculos do bolso, e passei a mão pelos cabelos enquanto subia as escadas. Dei dois toques na porta, e ela me mandou entrar. Eu sabia que ela não estava dormindo, mas vê-la sentada na cama segurando seu bloco grande de desenho me assustou por um momento.

— Senta, filho — ela disse, apontando para a ponta da cama.

Me sentei, com ela, que estava sentada na cadeira do computador, me observando. Passei a observá-la também, notando que sua barriga estava grande. Muito grande.

— Quer tocar? — Minha mãe perguntou — Melissa chuta muito. Talvez consiga sentir.

Foi ela quem se levantou, e ficou à minha frente. Coloquei a mão em sua barriga, sentindo Melissa chutar. Minha mãe parecia gostar, mesmo que aquilo doesse. Sorria como uma mãe coruja.

Ownt, você ficou tão fofo assim!

Não sabia se ela estava elogiando minha aparência com os óculos, ou se essa era sua forma de pedir desculpas.

— Eu tenho que ir para à escola, mãe.

— Ah, sim, verdade. — Ela voltou a pegar o bloco, se sentando na cadeira, deixando um dos pés apoiados no assento. — Posso te desenhar?

— Me... desenhar...? — Perguntei surpreso.

— Eu sei que é idiota, e por favor não ria de mim — eu nem ao menos tinha dado indícios de que fosse fazer tal coisa, mas ela quis logo me avisar. Continuando assim, a sua fala: — Mas... Quando eu fiz o Theodore, Will Belmarques me veio a mente. Como vai ser um livro com algumas figuras, eu pensei em...

— Por isso o óculos? — Apontava para eles.

— Era a única coisa que Theodore tinha, e você não.

Theodore era um garoto legal. Alguém que em toda sua vida nunca tinha se metido em brigas, fumado droga, bebido álcool, ou pegado alguém. Theodore, era gentil, e educado, e sua alma era livre de seu próprio corpo, sendo apenas mantido pelo seu intelecto avançado demais para a idade.

Não (Me) GanheOnde histórias criam vida. Descubra agora