Quando acordei, Finley estava parado na minha frente, sem camisa. Era a primeira vez que eu comprovava que sim, homens podiam ter tantos gominhos no abdômen quanto o rambo.
O poder amazônico era impressionante. Tinha até medo de ver minha prima, Ema.
Na última vez que a tinha visto, ela era magra, tinha 1,59 e reclamava constantemente da rapidez que seus pelos cresciam. Meu medo não era ela voltar como à Sarah Jessica Parker, e sim, parecendo um gorila.
A idade não faz bem para todos...
De todas as formas, aceitei o convidativo sanduíche que ele me estendia, e o observei até seu caminho para os degraus da escada.
— Saiu para correr às oito da manhã? — Resolvi perguntar.
— Não, às quatro. Depois eu fiz algumas outras coisas, que envolvem minha religião, mas, fora isso, eu só voltei para cá, e dei o café à sua mãe antes dela sair.
— Ela já saiu? — Ele concordou, por isso, voltei a dizer. — Que coisas da sua religião? Me diz aí... Somos primos. De segundo grau.
— Eu rezo — resumiu. — Cinco vezes por dia. Em horários específicos.
— Wow, isso é... Diferente — me levantei. Finley somente sorriu. — Sabe que, se fizer isso em público, vão te achar um maluco, não sabe?
— Se eu me importasse com as palavras, não teria fugido do meu país. — Finley se levantou, pegando a toalha em cima do corrimão para me entregar. Ele parecia querer desabafar sobre algo, e foi o que fez. — Por mais que seja muçulmano, eu só não consigo acreditar que matar por Alá ainda é um fim justificável. Hitler matou os judeus por causa do que acreditava, mas isso não fez do desastre menor do que foi.
— Sócrates uma vez "disse" — fiz as aspas com a mão — que o erro vem da ignorância humana. Acho que quando se entende os pontos de vistas diversos, o contexto deixa de ser... Fechado.
— Não acho que se trate de ser fechado. Quando eu conheci sua prima — e lá ia ele começar a falar da Ema — ela me ensinou que, o Deus é um só. O nome muda, mas ainda é o mesmo. Idealizamos a força maior da forma que gostaríamos de ser.
Eu não era ateu como Arraiá, ou cristão como à minha mãe. Eu, na verdade acreditava que haviam certas coisas certas em cada religião, como outras que eram discutíveis.
Eu seguia minha própria filosofia.
— Finley — coloquei a mão em seu ombro — fico feliz de enfim encontrar alguém que tenha senso crítico o suficiente para acreditar que o bem e o mau são subjetivos. — Tirei a mão, voltando a consertar a toalha no ombro. — Na minha filosofia, ter senso crítico é essencial. Sem senso crítico, o ser humano vive em uma bolha de falso conhecimento, alimentado pelo conhecimento empírico, que hoje se pode resumir a: preguiçoso.
Ele boiou no que eu disse, por isso sorri. Minha prima Ema era boa em muitas coisas, mas ela nunca poderia bater de frente comigo quando se tratava de Filosofia.
Anotem um ponto para o Will, caso alguém esteja contando.
Agora, qual o ponto disso tudo? Esperem meus caros.
Segundo a teoria do conhecimento, adolescentes são facilmente influenciado pelas opiniões alheias. Pelo que acham sobre eles, e sobre o que eles podem passar como imagem para os outros. Os corpos crescem, e a corrida para o auto descobrimento começa.
O meu ponto nisso tudo, é que a adolescência é difícil, e eu não posso ser culpado pelo meu erro.
A questão maior, que me fez ter que explicar sobre o comportamento de jovens deprimidos, é que eu romantizei muitas coisas. Em mais específico: Ágatha. E isso foi proposital, mas não algo que eu decidi.
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Não (Me) Ganhe
Teen FictionAos dezessete anos, Will Belmarques era um completo idiota. O tipo de ser ignorante em sua própria caixa, focado em seu próprio mundo. Daqueles que acham que a arte da vida é não fazer absolutamente nada. Mas para à minha sorte o tempo muda o homem...