27 = Não (me) Ganhe

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Quando abri os olhos o sol bateu diretamente em meu rosto. Cocei os olhos, e me virei, batendo de frente com os olhos de Ema que estava de cabeça para baixo. Ela apertou meu nariz, e pulou da parte de cima da beliche. Seus cabelos se arrepiaram, caindo pelo rosto.

— Vamos! — Ela gritou mas assim que me viu cobrir o rosto, pulou em cima de mim, começando a me cutucar. — Levanta!

Tirei o cobertor dos olhos, e foi como se tivesse voltado no tempo.

O cheiro do amaciante de jasmim entrava pelas minhas narinas, enquanto os cabelos marrons de Ema caiam sobre seus olhos marrom claro. Sua voz, mesmo diferente, ainda dizia coisas para me provocar enquanto ainda sonolento. Por isso, resolvi agir como reagiria no passado.

— Eu já vou levantar, inferno! Sai!

Ema saiu de cima de mim, e foi até à janela agora à sua frente, que permitia que o sol entrasse pelo cômodo. Ainda coçando o olho, me sentei na cama, a observando. O verde das plantações fazia seu cabelo se destacar.

Desci da beliche, enfiando o pé no meu chinelo azul, e só aí reparei que o chinelo roxo de Ema ainda estava perto do meu. Ela estava descalça. Assim, como nos velhos tempos.

— Ema, você continua doida — resolvi dizer. Ela virou a cabeça em minha direção, antes de passar pela porta, que ficava ao lado da beliche.

— Vamos fazer o café da manhã.

Sai pela porta, e por mais que quisesse seguir seus passos, por estar correndo pelo corredor Ema já estava longe, tendo até mesmo aberto a porta que dividia os quartos dos outros cômodos. Quando enfim também cheguei, vi que ela tinha tirado muitas coisas da geladeira.

— Pensa rápido! — Ela gritou, antes de me jogar cenouras. Uma por uma. Três no total. — Vamos fazer quesadillas.

Olhei para as cenouras em minha mão. Ema era vegetariana. Esse sempre foi um dos principais motivos para eu ter comido legumes por quase toda à minha infância.

— Eu vou ajudar a fazer, porque quero escolher o meu recheio — arregacei a manga da blusa, e abri a farinha de trigo que estava em cima do balcão. — Vamos fazer em dobro?

— Claro que sim. Acho que eles não tomaram café ainda. Acordaram às cinco da manhã. Eu escutei o barulho da porta se abrindo.

Apenas concordei. Ema colocou a vasilha em cima da mesa, e jogou o fubá comigo jogando a farinha.

— E agora... — ela pareceu olhar em volta, tentando lembrar o que viria.

— Óleo, Ema — lembrei.

— Ah, sim! — Ela sorriu, pegando o óleo que estava ao seu lado. — Ainda bem que te ensinei a cozinhar.

— Você me pagava para cozinhar, enquanto ficava sentada naquela cadeira — apontei para a cadeira que ficava na ponta da mesa da cozinha.

— Se Deus não me deu um irmão, então eu precisava usar o meu primo — Ema riu do que ela mesma disse, comigo acompanhando.

Ela foi dosando a água morna, e me deixou amassar, enquanto ela fazia o que se colocaria dentro. Em uma panela ela começou a fazer o recheio dela, que teria vegetais e pimenta, e o meu, que teria carne, feijão vermelho e... Alguns legumes. Já tinha me acostumado com eles. Enquanto ela ainda preparava, cobri a massa deixando descansar, e me sentei na mesma cadeira que ela se sentava.

— Não coloque pimenta. E cuidado para não se queimar. Não quero receber bronca do seu marido de 2 metrôs — disse, apenas para implicar.

— Não se preocupe. Ele sabe que eu já sou bem grandinha para fazer as coisas — ela olhou de relance para mim. — Mas... Como vai ser? Você disse que me contaria o que aconteceu enquanto estive fora.

Não (Me) GanheOnde histórias criam vida. Descubra agora