18 = (dois) Pais

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Meu dia começou engraçado. Depois de Emília de Azevedo cabular duas aulas, ela simplesmente apareceu me puxando para o canto, me perguntando sobre o que era várias coisas. Várias coisas que ela não fazia ideia do que eram. Somente escutar aquele tipo de coisas vindo da boca de uma garota como Emília me fazia achar graça.

Ela nem mesmo sabia o que era o Kama Sutra.

Stop! — Pedi. — Você disse que fizemos esse tipo de coisas? — Ela concordou, o que me fez rir ainda mais enquanto a via ficar vermelha. — Emília, me escuta — segurei em seu braço, para que prestasse atenção em mim —, é melhor parar. Desse jeito, vai me complicar também.

— Elas ficaram perguntando!! — Exclamou. — Perguntaram um monte de coisa e eu fui dizendo "sim, sim!", "Claro que fizemos, amiga.", "Várias vezes".

— Disse para quem?!

— Para aquelas garotas do terceiro. Aquela garota que ficou com você é uma falsa! Ela disse que ficou com um homem que namora, e ainda falou que a namorada dele não devia ser tão boa quanto falava — Emília colocou a mão na cintura. — Senti vontade de bater na cara dela. Como pode ser tão falsa?! Me chamar de amiga e ficar com o meu "namorado".

— É a realidade. — Passei meu braço em volta de seus ombros, começando a guiá-la. — O que ela disse sobre mim?

Emília sorriu, antes de olhar para meu rosto.

— Ela estava praticamente rindo da minha cara, Will! — Emília parecia impressionada. Mal sabia que esse tipo de coisa era até normal. — E depois, pessoas como essas se fazem de inocentes! Dizem que foram seduzidas!

Emília estava fazendo seu trabalho, então, eu precisava me certificar de fazer o meu. Por isso, lá estava eu, depois da aula, sentado nos bancos da sala de teatro que se organizava no pátio, aonde ficava o palco.

Cobalskin estava no centro. Ele coordenava a peça, parecendo mostrar como se fazer as coisas.

Eu não deveria estar ali, mas, depois de muito discutirmos ele se rendeu.

Eu tinha insistido para que ele me ensinasse, e logo em seguida engatei a ideia do plano de estudo ser em sua casa. Casa essa que ninguém nunca tinha ido, ou sabia. Ninguém nem mesmo tinha visto algum dos pais dele nas reuniões. Antes, algum dos pais o levava até à porta da escola, mas os vidros eram escuros. Não se sabia se ele tinha uma boa relação com os pais, ou, se eles mal se falavam.

Era a minha oportunidade. Só minha, se os panacas dos meus amigos não estivessem nos seguindo.

Foi Emília quem me avisou que eles iriam também. Naquele momento eles estavam sentados nas últimas fileiras, e sempre que eu me virava via que eles fingiam estarem dormindo. Algo esperto. Eu não iria acordar alguém que não conhecia. Depois que soubessem aonde o misterioso Cobalskin morava, poderiam só tocar a campainha e pedir um café.

Voltei minha atenção a ele, que parecia ajudar alguma garota quanto as falas. Ela gostava dele. Com certeza gostava, e deveria estar escutando "blá, blá, blá" enquanto ele falava. Sua atenção era voltada apenas para a boca dele, que ela parecia querer chupar como se fosse uma uva doce. Quando ele se virou, ela ainda continuou a olhar, mas agora com o olhar em um local mais embaixo.

Não eram só os garotos que olhavam para partes específicas de mulheres, o inverso também existia.

Sorri, resolvendo me levantar, para interromper aquele clima existente por só um lado. Coloquei o cotovelo no palco, e chamei Cobalskin, que se agachou à minha frente.

— Cobalskin, quando isso vai terminar? Não aguento mais ver aquela garota te olhar como se te imaginasse nú.

Ele seguiu meu olhar, vendo de quem eu falava.

Não (Me) GanheOnde histórias criam vida. Descubra agora