17 = Não fui (ou fui?)

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Não tinha mais como voltar para a aula. Minha própria mente me xingava. Um lado, medindo o quão pervertido eu era, e o outro, composto em sua maioria por espectros femininos, apenas balançava a cabeça em concordância.

O melhor lugar para ir agora, seria: casa. Lá pelo menos eu não ficaria olhando para o banheiro, imaginando que horas ela iria sair dele. E não teria a tentação de entrar eu mesmo nele — nem mesmo me importando se era feminino ou não.

Eu tinha uma consciência laica, e nisso, a grande massa votava a favor de ir para casa. Como sou a favor da democracia, aceitei o voto da maioria.

Ágatha queria um tempo. Eu julgava isso.

Mas "tempo" é uma palavra difícil de descrever. De quanto tempo ela precisaria? Quanto tempo ela ainda tinha? Por quanto tempo eu aguentaria?

Passei pela sala de aula, sabendo que perderia uma das minhas aulas preferidas. Também sabia que meus amigos perguntariam à Emília por que não entrei na sala. Eles com certeza sabiam que eu estava com ela.

O engraçado de Emília era que, tudo que ela sabia, eles sabiam. Tudo que eles sabiam, ela sabia. Ainda não me dizia nada sobre como ela conseguia tantas informações, mas era algo engraçado de se notar.

A escola não se opunha a saídas. Ainda mais quando ela era feita por um garoto de dezoito anos.

"Às vezes, nós somos a pedra".

Eu me sentia pesado. Não era exatamente culpa. Era o começo de um talvez surto?

A adrenalina voltava a correr pelas minhas veias. Não notava mais minha respiração. Podia sentir o mundo se tornar pequeno, enquanto as pessoas pareciam ser ainda menores. Um dia elas já foram tão pequenas que eu sentia que eram frágeis demais. Agora, eu tinha várias pessoas frágeis demais à minha volta, comigo, tendo que pensar nas ações que tomaria.

Responsabilidade não era algo fácil. Eu teria que lidar melhor com tudo. Ao menos, tentar.

◆◈◆

Coloquei a música do Arctic Monkeys — I Wanna Be Yours, para tocar. A letra em sí era mais importante naquele momento. Escolher uma música pela situação fazia a sensação de se estar em um filme ainda maior.

Seria bom se fosse. Eu poderia dar um pause, pegar uma pipoca, e jogar no google spoilers do final, apenas para saber como deveria lidar melhor com todo o meio.

Segredos que eu mantive em meu coração

São mais difíceis de esconder do que pensei

Talvez eu só queira ser seu

Eu quero ser seu, eu quero ser seu

Quero ser seu

Quero ser seu

(Quero ser seu)

Só tirei os fones quando abri a porta de casa, vendo Finley sentado confortavelmente no sofá da sala, assistindo a alguma programação qualquer, mas que para ele parecia ser muito interessante.

— Finley! — Gritei, mas a programação era mais interessante, o que me rendeu um simples "oi, Will". O jeito seria me aproximar mais, para que ele aceitasse o que eu iria lhe propor. — Era com você mesmo que eu queria falar agora!

Não (Me) GanheOnde histórias criam vida. Descubra agora