No carro de volta para casa, vejo a paisagem passar por mim, o dia estava ensolarado, mas para mim ainda estava nublado. Meus pais estavam na frente, havíamos acabado de sair do hospital, onde passei dois dias por conta do que havia acontecido comigo. Minha filha estava comigo agora e dorme com sua cabeça em meu colo e eu não consigo parar de pensar sobre o quão infeliz o rumo da minha vida percorreu. Ainda no caminho, tento me controlar, enquanto pensamentos e lágrimas chegam sem cessar. Estou devastada, com dores, machucada e sinto que a qualquer momento estou preste a desfalecer, mas por minha filha, tento suportar. Eu a abraço forte e engulo o choro, enquanto penso sobre o que me tornei. Assim que Lívia chegou no hospital para me levar para casa com minha mãe, ela correu para os meus braços e não quis mais me soltar. Então, não seria eu que iria soltá-la.
Meu pai pediu que eu não a levasse no colo, mas eu disse que suportaria. E pensando bem, está tudo bem.
Fecho forte meus olhos, quando lembro das últimas cenas que tive com Jonathan e quando fecho meus olhos, sei que serão lembranças pavorosas que nunca mais irei esquecer. Ficarão marcadas para o resto da minha vida e da vida dela. O que lamento.
Conheci meu esposo e ele me prometeu amor. Éramos uma promessa. E confesso que ele conseguiu mexer meu coração muito mais vezes, do que em toda a minha vida longe dele. Sempre que ele estava por perto, meu coração pulsava mais forte, minha respiração ficava descontrolada e meus músculos se agitavam. Quando falo assim, parece que estou falando de amor. Mero engano, esses sintomas fazem parte de uma emoção chamada medo. E esse foi o sentimento que mais senti nos últimos anos.
Enquanto estava casada com ele, eu fiz duas sessões de terapia escondida dele e lá descobri que as coisas que eu sentia era reflexo do medo. Também descobri que medo não é sinal de fraqueza e sim um sentimento involuntário e natural que sentimos quando nos sentimos ameaçados e convivemos com ela por muitos anos em nossa vida. Umas pessoas sofrem mais e outras menos.
Em alguns anos da minha vida, esse sentimento foi desencadeado pelo meu marido. Ele prometeu sempre mexer com meu coração, com os anos a promessa foi mantida, mas não da maneira que sonhei. Hoje estou voltando para casa dos meus pais, até eu conseguir minha casa. E quando o carro para ao lado da casa deles, olho para meu pai, vejo seus olhos em mim, sei que ele está preocupado, mas sinto também que está aliviado por finalmente eu ter voltado para casa e eu lamento por ter procurado ajuda tarde demais.
E o que mais me deixa amedrontada, é que, o que ficou para trás ainda continuará me assustando.

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Medo
Roman d'amourDepois de um casamento abusivo, Clara Brayner está livre novamente. Finalmente poderia viver feliz novamente com sua pequena Lívia. No entanto, mesmo sabendo que havia conseguido a "liberdade", ela sabia que seus passos não podiam ir tão além. Seu e...