Depois do jantar

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A pizza finalmente chegou e todos atacaram, inclusive os meninos, o que provava que Roger estava certo em afirmar que seus companheiros também estavam com fome.

Parar para comer nos fez parar de conversar por um momento, o que me fez perder a conta de quantos momentos de silêncio tivemos naquela noite. Foi totalmente desproposital, mas reparei que Brian só pegou as fatias cobertas de queijo, deixando as calabresas de lado.
Fiquei tentada a perguntar porque, mas me segurei, seria outra pergunta boba pra se fazer. Talvez ele fosse alérgico, mas se fosse, teria falado e pediríamos outro sabor de pizza. Percebi que já estava criando muito caso sobre um pedaço de pizza. Deixei isso pra lá, e também tentei segurar minha curiosidade dos motivos da escolha de Brian.

Foi quando me atentei pra outra coisa sobre ele. Ele ia me contar sobre a guitarra dele, a mesma que eu tinha achado tão bonita, tanto em aparência quanto no som.

Reuni minha coragem e me virei pra ele.

-Se não se importa, Brian-falei-você ia me contar sobre a sua guitarra. Onde comprou ela?

-Eu não comprei-ele me respondeu numa mistura de modéstia e vergonha- quando eu era mais novo, os meus pais não tinham condições de comprar uma guitarra elétrica então eu e meu pai tivemos a ideia de fazer uma.

-Tá brincando!-exclamei um pouco mais alto, impressionada-sua guitarra foi feita em casa? Mas ela é tão perfeita...

-Chrissie, se continuar enchendo os meninos de elogios, vão achar que está fazendo isso por interesse-Jo me alertou.

Eu realmente tinha elogiado demais o Smile naquela noite, não a troco de alguma coisa, ou por ser falsa, ou sei lá mais o quê que eles tenham pensado, mas fiz isso só por achar que eles realmente mereciam. E, de um certo modo, eles tinham coisas em comum comigo, o que poderia nos tornar amigos. Além disso, já tinha ficado óbvio que Brian e eu tínhamos a personalidade em comum.

-Eu não ligo, pode me elogiar o quanto quiser-Roger ousou dar uma piscadinha pra mim.

-Ei! Eu disse que ela está elogiando vocês três-Jo deu um tapinha no braço dele, que mesmo depois da bronca, ainda ganhou um beijo da namorada.

-Vocês podem desgrudar um pouco um do outro pelo menos pra comer?-Tim reclamou e eu concordava com ele.

-Não!-responderam Jo e Roger, que se beijaram outra vez.

-Assim fica difícil...-deixei escapulir baixinho.

Notei Brian sorrindo discretamente, como se concordasse com o que eu tinha dito.

Deixamos o casal feliz e grudento pra lá, e nós três terminamos de comer. Tim pegou sua parte do dinheiro para pagar a conta, ele pegou a parte de Roger, antes que passasse por Brian, ofereci dez libras, mas o guitarrista me impediu.

-Não precisa Chrissie-disse ele-vocês são nossas convidadas.

-Oh... -aquilo foi inesperado e bem-vindo-obrigada. Mas se tiver uma próxima vez, faço questão de ajudar.

-Está bem-Brian sorriu concordando e eu sorri de volta.

Tim pegou a parte de Brian e acertou a conta.

-Não sei vocês mas, eu já queria ir embora pessoal-Tim anunciou, mas nem Roger nem Brian pareciam querer ir-temos show amanhã se lembram?

-Se quiser pode ir-Roger deu de ombros-eu alcanço vocês.

-Você vai do que se viemos juntos?-Brian apontou-não me parece que tenha serviço de táxi por aqui.

-Ai Roger... Me diz como você ainda é nosso amigo-Tim cobriu o rosto de frustração-quer saber, vou te dar um desconto porque você vê a Jo pessoalmente muito pouco, vou tirar uma soneca na  van, Bri dirige quando você quiser ir embora, tá bom assim?

-Pra mim tá ótimo Tim-o baterista deu um dos seus sorrisos travessos-você é o cara!

-Tá...-Tim murmurou impaciente e nos deixou lá.

Brian se levantou e olhou por um instante pra mim. Eu sabia que ele queria me chamar pra ir pra fora, mas ainda assim estava hesitante. Nós dois estávamos. Mas eu ainda queria ouvir a história da guitarra.

-Eu não aguento mais ver esses dois pombinhos feito chiclete-disse baixinho em tom de brincadeira, apontando pra eles.

-Quer ir lá fora?-vi que Brian aproveitou a deixa, mesmo soando tímido e incerto.

-É...-eu murmurei e assenti freneticamente.

Minha timidez tinha batido de novo. Andamos lado a lado, ele deixou que eu saísse primeiro e veio bem atrás de mim. Nós nos recostamos na van, e Brian olhou pro céu novamente, naquele jeito misterioso e filosófico.

-Eu sei que estou soando muito repetitiva mas...-olhei para as minhas mãos suadas-eu queria mesmo saber mais sobre... Sabe, como fez sua guitarra.

-Ah eu não me importo com as perguntas-ele sorriu-eu gosto de falar da Red Special e quase ninguém pergunta sobre ela...

-Red Special? Deu nome a ela? - percebi.

-Não me acha estranho por dar um nome pra um instrumento?-ele ficou meio triste.

-Não, não de forma nenhuma-eu balancei a cabeça-mostra que ela é... realmente especial. Perdão pelo trocadilho.

-Perdoada-Brian riu-e obrigado por não me achar estranho.

-Não, eu não acho-senti aquela vulnerabilidade outra vez-eu também tenho que te agradecer por não me achar estranha.

-Não há de que-ele disse-agora entendo porque Jo e Roger se dão tão bem juntos.

-Ah eu também sei-entendi o que ele quis dizer-ambos pegam no nosso pé!

Eu ri e ele também acabou rindo. Quando o riso se encerrou, ele olhou pro céu de novo. Acabei imitando ele.

-Aqui na beira da estrada dá pra ver o céu melhor - finalmente criei coragem pra falar, intrigada por ele ficar tanto à procura de não sei o que lá em cima.

-Ah com certeza-ele sorriu-eu costumo me distrair facilmente com um céu desses.

-Queria ser astronauta quando era criança?-chutei.

-Bom não exatamente-Brian explicou e voltei minha atençào pra ele-eu estudo matemática, e física, até que daria pra ser mas, só entender sobre os astros aqui na Terra estaria bom.

-Bom, se consegue achar tempo pra ser guitarrista e universitário, quem sabe pode continuar estudando pra isso também-eu encorajei, admirada pela força de vontade dele.

-Quem sabe um dia-ele suspirou, olhou pro céu, e então sorriu pra mim.

-Como na minha interpretação de "Doing All Right" - eu comentei.

-É... - Brian concordou.

Eu continuaria falando, mas um bocejo me interrompeu. Brian me imitou dessa vez. E para a sorte do nosso descanso, Roger e Jo finalmente tinham aparecido para finalmente voltarmos para a Universidade.

Brian tomou o volante e dessa vez foi eu que fui ao lado dele no banco do passageiro. Tim dormia no banco de trás e Jo e Roger se ajeitaram com cuidado para não acorda-lo. Brian prestava atenção na estrada e eu também. E em silêncio, percorremos o trajeto de volta a Universidade de Leeds.

Pelo olhar de ChrissieOnde histórias criam vida. Descubra agora