Nós ficamos mais alguns dias no Brasil, durante mais três noites, em que os meninos se apresentaram mais uma vez no Rio e outras duas vezes em São Paulo. Ao fim da nossa estadia, acabei gostando do lugar, apesar de não me adaptar ao calor. Entre verão e inverno, preferia mil vezes o frio, o que era uma boa desculpa para ficar em casa, já que mesmo com toda a mudança na minha rotina, continuava não gostando de sair muito.
John e Roger estavam ansiosos para voltar pra casa, nas suas ligações Deaky sempre perguntava de Bobby, se nesse tempo em que estávamos fora, ele já tinha aprendido a andar ou falar, e Taylor, sendo o meloso que ele sempre foi, ficava pendurado no telefone com a esposa, descrevendo pra Dominique cada detalhezinho dela que ele sentia falta.
Já Freddie... Tinha algo o incomodando, com certeza. Não sabia dizer se era saudade de casa, ou preocupação com detalhes técnicos do show, mas o que realmente começou a me preocupar foram os sumiços dele logo depois das apresentações. Ele se despedia da gente, enquanto saíamos juntos pra um lugar e ele ia pra outro, completamente diferente. Brian me disse que ele costumava fazer isso nas turnês às vezes. Mesmo assim, com essa explicação, não deixei de me preocupar. Freddie estava enfrentando alguma coisa, e de novo, não iria nos contar.
No entanto, quando voltamos à Inglaterra, ele voltou um pouco a ser como costumava ser, sarcástico, irreverente e comprometido com o trabalho. Os meninos continuaram com os shows de "A Day at the Races" em Londres, e começaram a trabalhar nas canções do próximo álbum.
Um dia, enquanto Brian estava compondo, saí para dar uma olhada no quintal rapidamente. Tinha algumas flores crescendo ao acaso num cantinho, o que atraía abelhas e borboletas. Eu me aproximei do canteiro, dando uma olhada mais de perto nas flores, quando me deparei com algo muito desagradável.
O que vi acabou provocando um choro inesperado em mim, e quando dei por mim, não conseguia me controlar. "Meu Deus, o que deu em mim?" pensei em silêncio. Prestando atenção nos barulhos de dentro de casa, percebi que Brian tinha parado de tocar, e um pouco depois, ele estava de pé ao meu lado.
-O que foi? - ele perguntou cheio de preocupação, segurando minhas mãos.
Minha voz não saiu quando tentei falar, então o guiei pela mão até o que eu tinha visto. Era uma pequena borboleta amarela, quando eu a tinha visto, estava batendo as asas muito lentamente, como se estivesse dando seu último suspiro. Então ela não se mexeu mais, e não tive coragem de tocá-la pra ver se...
-É, ela morreu - Brian disse, cuidadoso.
-A pobrezinha não tinha culpa de nada... - eu respirei - por que ela tinha que ir assim, tão de repente?
Eu olhei de volta pra Brian e vi que meu marido estava confuso e assustado com a minha reação. Bri apenas me deu um abraço, e quando me olhou, sem saber ao certo o que dizer, vi que estava formulando uma ideia.
-Você quer... - ele hesitou, meio que tentando se convencer da própria ideia - enterrar ela? Talvez ajude a lidar com o processo de luto...
-É, é... - fui voltando aos poucos a me acalmar.
Não consegui pegá-la, Brian fez isso, pelo menos consegui assistir, seu dedo indicador longo e delicado tirou a borboleta do chão, e a deixou na palma de sua mão. Tive coragem de cavar um buraquinho com as próprias mãos, Brian a depositou ali, e e eu cobri. Observei profundamente o túmulo inusitado e então, senti a tristeza passando, entendendo que o tempo da borboleta tinha chegado ao fim porque era a hora dela.
Depois de passar por essa crise de luto, tive outra sensação estranha. Os dias seguintes tinham esfriado, mas enquanto todo mundo vestia agasalhos a mais, me sentia confortável só com meu cardigã. Brian até me oferecia sua jaqueta, mas eu dizia que ele precisava dela mais do que eu. Então quando dias quentes vieram, passei a sentir muito frio a ponto de me enrolar numa coberta e usar o comprido cachecol de Brian que era igual o do Doutor quando assistíamos televisão.
Meu marido quase pulou pra trás quando me viu toda agasalhada daquele jeito.
-Chrissie, você tá bem? - ele perguntou, sentando ao meu lado.
-Tirando o frio, eu estou... - franzi o cenho, tentando decifrar o motivo da sua preocupação.
-Meu amor, está quente lá fora, e aqui dentro, eu não tô com frio - ele foi me explicando - tem certeza de que não está doente?
-Não, eu não tô, sério - assenti várias vezes e Bri não se deu por convencido.
Ele pôs uma mão na minha testa, julgando que eu estava com febre.
-Você tá quente - constatou ele - mas não é febre.
- Eu já disse que não estou doente! - insisti, um pouco mais alto do que queria - desculpa...
-Você vai ao médico, sra. May - Brian estava bravo comigo não por eu ter gritado, mas porque eu realmente não achava que precisava de médico - sem falta!
-Ah Bri... - reclamei - e o meu trabalho? Você vai mesmo me dar um dia de folga só pra ir ao médico?
-Vou sim - Brian assentiu - e nada de reclamar. Agora você sabe exatamente como me senti quando tava no hospital.
-Ah, isso não vale! - declarei - você estava convalescendo e eu só estou com frio!
-Você tá com frio enquanto o clima tá quente! - ele insistiu com esse argumento.
-Você tá vendo que essa é uma discussão muito tola? - questionei, já me cansando.
-Hã ram - Brian concordou - mas você vai ao médico.
-Tá bom, tá bom, eu vou - acabei cedendo para pararmos com aquela conversa boba.
Brian tinha os afazeres da banda e não podia me acompanhar, então enfrentei a consulta sozinha. Eu nem sabia como descrever o porquê de ir ao médico ao médico, apenas descrevi o que meu marido achou estranho em mim pra me julgar doente. Por fim, a Dra. Carter apenas me mandou fazer um exame de sangue, e por ele, poderia dizer se eu tinha alguma coisa. Foi o que fiz, e antes de ir para casa, chequei os resultados. Estava tudo bem, como a doutora tinha me garantido, exceto por um detalhe que ela não quis me contar. Quando vi o que era, entendi o porquê. Ela queria que eu descobrisse sozinha. Entrei em estado de choque, sem saber como conseguiria voltar pra casa depois da minha descoberta.
A/N: Bom, acho que vocês entenderam as referências... só isso que eu vou dizer.
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Pelo olhar de Chrissie
Fiksi PenggemarChrissie Mullen só estava vivendo sua vida, focada nos estudos, e alcançar seus objetivos de uma vida estável quando de repente ao encontrar um grande amor, vê sua vida mudada, se adaptando a um sucesso inesperado. (Ou a história da banda Queen con...