Pelo olhar de Chrissie

De volta a Londres

Nós passamos mais uns dias na França, finalizando o álbum, e enquanto os meninos não estavam trabalhando, saímos juntos à noite, mas infelizmente, acabávamos tomando direções opostas. O cansaço batia mais cedo em mim, Brian e John, isso sem contar que Jimmy dormia cedo, então eu e minha família passávamos mais tempo no hotel à noite que em qualquer outro lugar.  Freddie acabava arrastando Roger durante a noite toda, percorrendo todos os lugares que eles julgavam interessantes em Paris. Esses hábitos noturnos só me deixavam ainda mais preocupada com esses dois.

Pra mim, o pior era que Freddie não queria contar das suas aventuras noturnas, não sabia se ficava feliz por ser poupada de certos detalhes constrangedores, ou triste, já que geralmente quando ele saía, era claro que se comportava como um veículo desgovernado. Quando Roger e Freddie ficavam fora, voltavam tarde e acordavam quase beirando a hora do almoço.

-Parece que alguém vai ficar sem café da manhã - comentou John ao vê-los finalmente aparecer, enquanto almoçávamos.

-Não tem problema Deaky - Freddie respondeu como se aquilo não o tivesse atingido - pulamos direto pro almoço.

-Freddie - eu o chamei, tentando contornar aquela situação constrangedora - eu sei o quanto você gosta de sair, e como deve ser legal conhecer todas as coisas diferentes aqui da França, mas... nos preocupamos com você, com os dois aliás, então, não tem como pedir pra você não sair, nem estou pedindo isso, não acho que tenho o direito, nem tenho mesmo, é só que... só se cuida, quando estiver na rua, tá bem?

Mercury me olhou atento, respeitoso com meu argumento, mas no fim, acabou sorrindo.

-Você é uma fofa, sabia, sra. May? - respondeu ele - é muito comovente como se preocupa comigo, e eu agradeço, de verdade, mas sem querer ser rude, Jimmy precisa muito mais da sua atenção.

Eu sabia que no fundo ele só queria despistar o assunto da noitada e ignorar o meu sermão, mas o jeito que ele falou aquilo acabou doendo um pouco. Meu olhar se desviou rapidamente pra Brian, que se compadeceu de mim na hora, e eu disfarcei meu constrangimento do que Freddie disse tomando um gole de água. Senti Brian segurando a minha mão por debaixo da mesa.

-Freddie, pega leve... - pediu meu marido, com a maior paciência do mundo.

-Desculpa, desculpa - Mercury ergueu as mãos em sua defesa - não queria ser rude, é só que, eu sou grandinho, sei me cuidar.

-É, Chrissie, a gente tá no topo do mundo, sendo astros de rock, temos que aproveitar tudo isso, não faz mal curtir um pouco - Roger concordou com Freddie pro meu desespero.

-Eu só espero - consegui me recuperar do susto e manter uma postura firme - que você não esqueça que tem um filhinho e uma esposa esperando por você.

-Eu sei, e nunca esqueceria deles - Taylor olhou nos meus olhos e senti sua sinceridade - não fiz nada de mais, Chrissie, é sério.

-Ok... - suspirei, cansada.

Apenas terminei minha refeição em silêncio, não querendo mais continuar aquela conversa. Não fiquei magoada com Freddie, apenas preocupada. Era da minha natureza, e ele era como um irmão pra mim, então não queria que nada de ruim acontecesse com ele. Mais tarde, Roger veio conversar comigo e confessou que o que ele fez que poderia não ter sido tão bom assim foi ter flertado com umas fãs e outras moças que não o reconheceram, mas nada além disso, ele me jurou. E mesmo assim, ele reconheceu que não deveria ter feito isso, pelo menos nada de pior tinha acontecido. Desse jeito, quis muito voltar pra casa logo.

Então, de volta a Londres, as coisas voltaram um pouco ao que eu estava habituada. "Jazz" foi o álbum que o Queen lançou, não foi um absoluto sucesso como álbuns anteriores, mas suas vendas foram boas o suficiente. Com um novo álbum, vinha os shows de divulgação, outra coisa que já fazia parte da minha rotina e me situava de novo ao normal. No entanto, por mais que sempre estivéssemos todos juntos, Freddie estava cada vez mais isolado de nós. Enquanto os meninos estivessem trabalhando juntos, ele era como eu me lembrava da primeira vez que o conheci, entusiasmado, determinado, teimoso para manter suas ideias valendo entre a banda, rindo aqui e ali, como só amigos faziam. Mas depois disso, quando ele saía e estava com Paul, parecia se transformar em outra pessoa, querendo apenas aproveitar tudo que a vida podia oferecer, no pior dos sentidos. Ainda assim, me preocupava com ele, e o amava como um irmão.

Foi um dia depois de colocar Jimmy pra dormir que Brian viu o quanto eu estava distante, pensando justamente no Freddie.

-Tudo bem, minha linda? - Brian me perguntou depois que nos ajeitamos pra ir dormir.

-Não é nada, é só... - suspirei, eu precisava falar, mas aquele assunto me desgastava - Freddie tá me preocupando, demais, acho que até mais do que eu deveria.

-Eu sei, nós também estamos preocupados, e não tem como fazer ele enxergar que esses hábitos são ruins - meu marido concordou - você sabe que é impossível dizer não ao Freddie, não sabe?

-Eu sei, isso que é o pior, o que você faz com alguém que não quer ser ajudado? - questionei Brian em busca de ajuda.

-Não sei, Chrissie, não sei mesmo - Bri estava triste com tudo aquilo também - acho que só nos resta continuar oferecendo a nossa amizade.

-É, acho que sim - me encolhi no peito do meu marido, que me abraçou, tentando me contentar com aquela solução.

Por mais triste que eu estivesse ao pensar em Freddie, não me dei por vencida. A amizade entre a minha família, os Deacon e os Taylor ainda era forte e Freddie fazia parte das três famílias, mesmo que fosse apenas no nosso coração, o que já era suficiente, e nós ainda nos víamos, mesmo que não fosse do mesmo jeito que uns anos atrás. Foi pensando em tudo isso que resolvi promover outro encontro nosso na minha casa, para assistirmos a um filme como na época que os meninos se conheceram.

Logo a casa ficou um pouco mais cheia que de costume, agora que tínhamos três menininhos. Felix ainda era bem novinho, mas era impressionante ver o cuidado que Robert e Jimmy tinham ao brincar com ele. Assim, enquanto as crianças brincavam, assistíamos à estreia de Uma Nova Esperança na TV. Um pouco depois de Luke encontrar Obi-Wan, atendi a campanhia que tocou bem naquele momento. Só podia ser nosso amigo atrasado de sempre. Abri a porta e não houve erro na minha dedução.

-Oi, Freddie - disse um pouco surpresa, um pouco desapontada.

-Oi - ele parecia anormalmente envergonhado - desculpe o atraso, e desculpe por... tudo o mais que eu tenha feito que possa ter te magoado.

-Está tudo bem, mesmo - consegui sorrir - todos nós temos nossos passatempos preferidos, só tenho que compreender os seus...

-Eu sei que não sou fácil - confessou ele - mas obrigado por me entender.

Não consegui dizer mais nada, o comportamento dele ainda me abalava, mas naquela noite, focaria em pensar nele como meu querido amigo, nada além disso. Terminei de convidá-lo pra entrar, e ele se acomodou entre nós. Todo mundo estava genuinamente interessado no filme, o que me deixou feliz por termos algo que gostávamos em comum e me fez esquecer as preocupações pelo resto da noite.

A/N: Gente, meu dia foi muito corrido e ainda tenho compromisso amanhã de manhã, mas aí está o capítulo. Acho que esse capítulo foi influenciado por umas conversas que tive com a minha amiga sobre a vida doidona do Freddie. Fazer ele sendo rebelde com a Chrissie partiu meu coração,  enfim, o drama ainda não acabou, mas não se preocupe que vai ter mais fofura das crianças. É isso, obrigada por acompanharem, té mais!