Um ano estranho

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Um tempo depois que Freddie foi embora para a Suíça, fomos nos adaptando à vida sem o Queen propriamente dito, sem ensaios, sem shows, mas com a mídia de olho em tudo.

Era estranho ficar em casa a maior parte do tempo, minha rotina sempre fora agitada, tanto como professora como assistente pessoal de Brian, mas era algo bom, de certa forma, se ignorasse o motivo de ficarmos em casa.

Fui preenchendo os momentos com livros novos, e mais maratonas de Doctor Who, e é claro, cuidar de Jimmy e Louisa. Levar meu filho mais velho pra escola era uma coisa que sempre fazíamos os três juntos. Quando eu parava na biblioteca de Barnes, Brian queria me acompanhar e pegar livros do seu próprio interesse. Em dias em que ele estava com mais paciência, me acompanhava trazendo a Lou com ele, e dando atenção e autógrafos a qualquer um que o reconhecia. Mas entre esses fãs que encontrávamos por acaso, sempre tinha alguém que perguntava quando seria a próxima turnê da banda.

-Estão organizando - dava uma mãozinha ao meu marido, já que ele se abalava com esse tipo de pergunta - esse tipo de coisa leva tempo pra ficar pronta, sabe? Mas é só prestar atenção quando eles divulgarem pra saber.

Minhas respostas eram suficientes para os fãs, mas estavam um pouco longe de ser verdade para nós. Havia dias em que Brian se sentia triste, deprimido, culpado. Nesses dias, ele não ia à biblioteca comigo, tentava evitar falar sobre o Freddie ou o Queen, o que era praticamente impossível às vezes. Eu tentava confortá-lo como podia, o fazendo lembrar que nada daquilo era culpa dele. Com o passar dos meses, Brian foi melhorando. Chegou até a trabalhar numa música nova, mas não a finalizou por completo, acrescentava e adaptava suas ideias pra ela quando sentia vontade.

Nas minhas tentativas de consolá-lo, acabei me lembrando de uma coisa que Brian amava fazer e eu aprendi a amar por causa dele.

-Bri, eu estava pensando... - comecei a dizer, enquanto tirava a mesa do jantar - quer ir pra Hyde Park? Só eu e você? Digo, eu amo as crianças, mas, podemos levá-los outro dia com a gente...

-Não é má ideia - ele me deu um pequeno sorriso, falando baixinho.

Na noite seguinte, deixamos Jimmy e Louisa com Gracey, e depois do jantar, fomos ao lugar que fazia literalmente anos que não íamos.

-Escolheu uma noite perfeita pra virmos, Chrissie - refletiu Brian observando o céu estrelado, enquanto caminhávamos lado a lado de mãos dadas.

-Pois é, e nem consultei a meteorologia nem nada - acrescentei, um tanto risonha - tudo que eu me importei foi em te distrair um pouco.

-Ah, meu amor - ele me puxou pra mais perto dele - eu sei, eu sei que não é fácil pra você, eu só estou tentando não pensar muito no futuro, com o que vai ser da banda, o meu presente é muito mais importante, tenho você, a Louisa e o Jimmy pra cuidar.

-Ainda assim parece que tá faltando alguma coisa... - murmurei, com todo cuidado e compreensão.

Não era fácil se desfazer de repente de uma rotina e, sobretudo, de uma amizade, construída ao longo de 13 anos, era uma ruptura grande demais pra se ignorar. Mas o que me dava esperança é que ninguém tinha determinado um fim definitivo ao Queen, ainda havia chances dos meninos se juntarem novamente, ainda acreditava nisso, embora agora fosse difícil para Brian enxergar isso.

Nós nos sentamos em silêncio, naquele mesmo lugar que sentávamos sempre, observando a imensidão do universo sobre nós.

-E a sua tese? - perguntei de repente, associando o que estávamos fazendo ao seu trabalho acadêmico atualmente interrompido.

-Minha tese? - Brian franziu as sobrancelhas, surpreso - acha mesmo que eu deveria retomar o trabalho? Justo agora?

-Talvez não seja o momento ideal, mas você está tendo tempo e é uma coisa que você ama - justifiquei - além disso, eu sei bem o quanto te incomoda ter deixado seu trabalho inacabado.

-Chrissie, isso é... - ele parou, pensando por um momento, então decidiu - eu posso tentar de novo, sim, eu ainda tenho os livros, e andei dando uma pesquisada recente, e bom, parece que é o que me resta a fazer agora. Muito obrigado por me fazer lembrar e sugerir isso.

-Não tem de quê - eu respondi enquanto ele beijou minha bochecha, também me sentindo feliz.

A falta que sentíamos do Queen não foi embora, mas voltar a estudar astrofísica ajudou Brian a lidar melhor com isso. Porém com o tempo, a mídia depois de suas análises mordazes, conjecturou e começou a divulgar por si mesma que provavelmente a banda Queen tinha chegado ao seu fim. Foi aí que meu telefone corporativo não parou de tocar.

Tínhamos duas linhas em casa, uma pessoal e outra para o trabalho. A segunda era só para atender tudo que dizia respeito a Brian como artista e o Queen, e foi nessa linha que recebia propostas de entrevista com Brian pra que ele esclarecesse o que tinha acontecido com a banda, de jornais, revistas, rádios e até da televisão. Minha resposta era sempre de encaminhar a questão ao sr. May e retornar com uma decisão tomada por ele.

Evitamos esse assunto da mídia por um tempo, eu sabia que ele ainda estava abalado, mas vendo que eu não tinha mais como ficar dizendo não a eles, Brian decidiu tomar uma atitude.

-Só tem um jeito disso parar, eu vou ter que dar uma entrevista - disse ele, não muito animado.

-Eu sei, mas se você der uma, talvez mais repórteres venham atrás de você - ponderei - mas se escolhermos um tipo de entrevista que responda todas as perguntas deles, vão reproduzir em massa, e outros não vão querer te procurar mais, tem que ser uma com um grande alcance, só a TV é assim. Logo o que mais expõe a imagem.

-Mas expõe minha entrevista que responde todas as perguntas - Brian estava me entendendo - e não se preocupe com exposição, estou acostumado.

-Então posso dizer um sim a uma entrevista pra o "Bom Dia Britânia"? - quis confirmar.

-É o único jeito - ele deu de ombros, convicto que era a única solução.

-Ainda assim Bri, acho que tem como nós despistá-los - adicionei, pensativa.

-O que quer dizer, amor? - Brian ficou intrigado.

-Vão fazer perguntas diretas, especificamente sobre o Freddie - fui apresentando o que estava pensando - e haja o que houver, não mencione a briga, nem o álbum solo dele, se tocarem no assunto, aí você responde, mas nunca fale sobre isso, porque se vazar sobre a briga, vai ser péssimo pra imagem do Queen e pra cada um de vocês quatro.

-Entendi, Chrissie, é um baita desafio, mas estou disposto a enfrentar - a expressão de Brian foi solene.

Como eu tinha aprendido, enfrentar a situação era o único jeito de resolvê-la de vez.




A/N: Pois é, mais um pouco de drama. Gente, eu amo a Chrissie de assistente, o jeito como ela lida com a situação aqui é incrível, vai ter mais disso no próximo capítulo. Espero que tenham gostado, até a próxima!

Pelo olhar de ChrissieOnde histórias criam vida. Descubra agora