Confissões

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Depois dessas ocasiões infelizes, não consegui evitar entrar em parafuso. De uma forma lenta, mas impactante, me sentia triste, com medo e abalada. Ao pensar que toda vez que ia a um show ou estava envolvida com algo que estava relacionado ao Queen me tornava um alvo de críticas maldosas ou completamente desrespeitada ou ignorada, me fez querer evitar participar dessa parte da vida dos meninos.

Ir ao estúdio era a atividade do Queen mais segura pra mim naquele momento e eles não estavam gravando agora, o que significava que estavam ocupados com entrevistas e shows. Eu até acompanhei algumas entrevistas, mas estar na presença da mídia, me lembrava das matérias maldosas, que julgavam sem dó nem piedade, sem se importar que estavam falando de um ser humano com sentimentos reais.

Comecei a recusar quando Brian me pedia pra ir com ele à televisão ou à rádio. Quando ele perguntava o motivo, dizia que estava ocupada com projetos da escola, o que era verdade, mas não a verdadeira razão de eu não querer ir.

-Não está se sobrecarregando demais, está? - perguntou o meu marido, depois de tantas recusas com a mesma desculpa.

-Não, não, claro que não - consegui sorrir com sua preocupação por mim - só tem ocupado boa parte do meu tempo, só isso...

- Só isso mesmo? - ele ergueu uma sobrancelha, ainda querendo confirmar que eu estava bem.

- É! - sorri, e suspirei, me sentindo sem graça, e colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha - não se preocupa tanto com isso, tá? É só trabalho.

-Ok - consegui convencê-lo, pelo menos naquele momento.

E então comecei a ir embora dos shows mais cedo. Aos primeiros acordes de God Save the Queen, que os meninos sempre tocavam pra encerrar suas apresentações, saía do nosso camarote, usava as saídas de emergência para sair do lugar em que estávamos, pegava um táxi e ia pra casa.

A primeira vez que fiz isso, Brian estranhou demais.

- Tá tudo bem, meu amor? - ele perguntou de mansinho, enquanto estava deitada.

-Eu não me senti bem e achei melhor vir pra casa - improvisei outra desculpa esfarrapada.

-Tá sentindo alguma coisa? - Brian continuou preocupado.

-Não, não... - neguei - acho que foi só cansaço mesmo.

-Entendi, então descansa, amanhã a gente se fala - ele beijou minha testa e me deixou um pouco sozinha.

Eu queria gritar, abraçar ele, pedir pra não me deixar sozinha, mas eu não queria incomodá-lo. Acabei pegando no sono e, no dia seguinte, continuei minha velha rotina. Graças a Deus o que continuava fazendo parte dela era nossas reuniões em casa, o que sempre me deixava feliz e me fazia esquecer todos os problemas e preocupações. E era o meu lembrete preferido de que os membros do Queen não eram o que a mídia falava, eram pessoas normais, homens maravilhosos, os membros da minha família. Assim como as meninas que, mesmo sem eu falar nada, começaram a me dar abraços mais apertados e contar histórias engraçadas com muito mais frequência.

-Não, eu confesso que eu ri - declarou Dominique diante de todos nós sobre ver o clipe de "I'm in love with my car".

-Quando eu fui ver porque ela ria tanto, eu nem acreditei - Roger deixou claro seu desapontamento.

-Mas... - Beyrand começou a rir de novo - quando você imagina um carro no lugar de uma namorada... Por exemplo, como você abre a porta do carro pra ela sair, se sua namorada é o próprio carro? Vai sair de mãos dadas com o carro encostando no capô dele? Não vai precisar de outra pessoa dirigindo? Essa pessoa não vai ser a vela do encontro?

Pelo olhar de ChrissieOnde histórias criam vida. Descubra agora