Nos estúdios da EMI

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Agora que o Queen tinha uma gravadora oficial e um contrato, e sendo conhecidos aos pouquinhos, (mas nem tanto se fosse comparar às paradas de sucesso da época), a prioridade dos meninos na sua carreira teve que se voltar toda para serem músicos, quase que em tempo integral, o que era complicado no momento.

Freddie já tinha se formado em Desenho em Ealing Art College, ainda faltava um ano pra que John terminasse Engenharia Eletrônica, Roger tinha desistido de vez de Odontologia e eliminou umas matérias em Biologia, só queria ver se ele se formaria mesmo, ele era um excelente baterista, mas não um aluno tão bom assim. Já Brian, como ele me preocupava, já que tinha três ocupações. Os meninos faziam muito menos shows agora, já que era John Reid que gerenciava as apresentações e escolhia onde iriam se apresentar, o que fez com que a banda tivesse mais tempo para estudar e descansar.
Mesmo assim, a maior parte do tempo de John, Roger, Freddie e Brian era dedicada ao Queen.

Por isso nos últimos meses, seus ensaios e encontros, que agora já não aconteciam mais nas nossas casas, mas nos estúdios da EMI, eram para compor mais músicas novas, já que o plano para aquele ano era lançar dois discos. Brian compunha mais em casa, levando as ideias prontas para quando se encontravam no estúdio.

Quando ele se sentava na sala com a Red Special em mãos, caderno e caneta logo ao lado, tocando e cantando baixinho, ficava sem graça de ficar ali observando ele, mas eu amava fazer isso. Ao perceber que ele ia fazer uma pausa, aproveitei para perguntar.

-Brian? - chamei, meio hesitante.

-Que foi, meu bem? - ele se virou pra mim sorrindo.

-Nunca te perguntei isso, mas... - eu fiz uma careta de frustração - se importa de eu ficar olhando você compor? Quer dizer, não te atrapalha de algum jeito?

-Ah, não, não - Bri balançou a cabeça agitando os cabelos - justamente porque você fica bem quietinha eu consigo me concentrar e fazer o que eu preciso, mas eu preciso te confessar uma coisa.

-O que? - achei que ele tinha achado algo ruim em eu ficar observando ele.

-Se eu ficar olhando muito pra você invés de você ficar olhando pra mim, não consigo pensar em mais nenhuma nota ou música, só em você - ele se aproximou de mim enquanto falava, sentando do meu lado.

-Para com isso, Brian Harold May! - eu ria, mas estava comovida - já que respondeu minha pergunta, vamos voltar a falar sério. Eu ouvi você treinando um solo tão lindo e fiquei pensando sobre o que era a música.

-Como era o solo? - meu noivo perguntou, focado e interessado - cantarola ele pra eu ver qual é.

Cantarolei como eu me lembrava e Brian ergueu as sobrancelhas, seu rosto se iluminando, animado ao reconhecer a música.

-É isso aqui - ele retomou, e tocou na Red Special.

-Posso dar uma olhada na letra? - eu realmente estava curiosa.

Ele passou seu caderno pra mim, animado e interessado na minha opinião. O título em cima era "Some Day One Day", escrito na caligrafia corrida de Brian. Fui lendo a letra, reconheci algumas coisas ali que pareciam coisas que meu noivo tinha passado, tinha um pouco de insegurança, mas certa esperança.

-É sobre... - pensei bem no que ia dizer - medo de não dar certo viverem de música?

-É, um pouco - ele suspirou e de repente ficou triste - tem sido ótimo termos uma gravadora e sermos músicos profissionais e tudo mais, mas, se os discos não venderem, se não tivermos um hit grande o suficiente pra irmos pra TV, nosso salário não vai aumentar, e eu vou ter que continuar sendo professor, aliás, eu vou precisar ainda dar aulas até um pouco depois do nosso casamento...

Pelo olhar de ChrissieOnde histórias criam vida. Descubra agora