Paciente Teimoso

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Insistiram muito pra que eu fosse pra casa, inclusive Brian, mas eu não poderia deixá-lo ali. Pelo menos aquela primeira noite no hospital eu queria passar ali. O Dr. Reeves que tinha atendido e cuidado do meu marido até agora acabou concordando. John Reid e os meninos se despediram de nós, desejando melhoras a Brian mais uma vez.

Agora estava sentada na cadeira onde Roger estava antes, observando meu marido, por mais cansado e debilitado que estivesse, Brian se recusava a dormir.

-Você precisa descansar – insisti.

-E você também – murmurou ele de volta – não queria te dar todo esse trabalho, te deixei preocupada, deixei todo mundo preocupado, até o Roger entrou em desespero.

-John me contou como você estava, não era pra menos que isso a reação deles – respondi – mas...

Parei de falar, já que percebi que o que diria em voz alta soaria estranho e até uma crítica cruel. Desde que conheci Brian sabia que ser músico era um dos seus maiores sonhos, e agora, ele estava vivendo tudo isso, shows e mais shows, viagens, gravações, mas deduzi que toda essa correria era o que provavelmente tinha feito ele ficar doente. Por mais que fosse um sonho, toda essa loucura valia a pena? Era injusto eu fazer uma comparação dessas, não podia medir as coisas dessa maneira. Se fosse parar para pensar, todas as profissões tinham um risco.

Não era só isso que tinha me deixado triste, a forma como a recepcionista me barrou, como se eu fosse uma mera desconhecida, ou uma fã imprudente se aproveitando da situação, era como se eu estivesse sendo proibida de ver meu marido só porque ele era um guitarrista famoso e eu podia estar fingindo ser a esposa dele só pra vê-lo. Que absurdo!

Não notei que fiquei encarando a porta do quarto, com uma mão no queixo, meu dedo indicador batendo nervosamente na minha bochecha, até Brian me chamar.

-Chrissie, o que foi? – eu me virei pra Brian e notei o quanto ele estava preocupado.

-Eu... – tentei me recompor dos meus devaneios – só estava pensando se... Você se alimentou e descansou direito durante a viagem? Talvez foi por isso que você ficou mal.

-Eu descansei conforme podia, mas, talvez foi por um acúmulo de cansaço mesmo – ele respondeu pensativo – quanto à doença, eu agora tô mais tranquilo, só estou preocupado com você.

-Eu estou bem, Bri – tentei disfarçar – acho que tudo que precisamos agora é dormir um pouco.

-Tudo bem – ele não insistiu mais, o cansaço finalmente o venceu.

Eu me deitei em seu peito, o abraçando com força, estar com ele ali me lembrava de que independente do que tinha acontecido e do que eu tinha pensado, naquele momento ele era apenas meu marido, que prometeu me amar pra sempre, até o resto de nossas vidas, não importasse as circunstâncias.

Na manhã seguinte, por mais relutante que estivesse, voltei para casa e deixei em ordem o que eu precisava. O Dr. Reeves, depois de fazer mais alguns exames, concluiu que levaria 4 meses até que Brian se recuperasse totalmente. Ele aceitou esse tempo com certa tristeza. Se tinha uma coisa que Brian odiava era ficar muito tempo parado sem fazer nada, enquanto ele podia estar estudando um fato científico novo ou fazendo uma música nova. Mas era muito mais que isso que o preocupava. Eu também vi que para acompanhar seu estado teria que pedir licença do emprego.

-Não faz isso, Chrissie - Brian me pediu quando contei - não pode parar sua vida por mim...

-Não é isso que estou fazendo, sério, a decisão é minha, você precisa de mim, eu te amo e eu vou cuidar de você, sem essa de "parar sua vida por mim", você é uma parte muito, mas muito importante da minha vida, entendeu Brian? - soei meio brava, mas ele entendia que era pro seu próprio bem.

Às vezes deixávamos nossa insegurança transparecer. No meio dessa situação, uma trégua que surgiu entre nós era termos concordado em eu passar o dia no hospital e dormir em casa. Aos poucos fomos nos acostumando a essa rotina de hospital, os meninos e as meninas vinham nos ver sempre, e, por enquanto o Queen tinha parado todas as suas atividades.

-Isso não tá certo, gente - Brian retrucou quando eles contaram sobre a pausa - eu estou... atrapalhando vocês... deveriam...

-Continuar a banda sem você? Te substituir? - Freddie adivinhou - é, talvez a gente faça isso... Quem sabe a gente arranje um guitarrista mais inteligente que você...

-Como se fosse possível achar outro guitarrista astrofísico por aí - John adicionou.

-É sério, gente - Brian riu, mas depois fez uma careta, sentindo dor do efeito dos remédios - eu tenho medo, mesmo, que vocês coloquem alguém no meu lugar...

-Ninguém vai te substituir! - Roger bateu na cama, o que fez Brian gemer de dor novamente - desculpa... Mas se fizerem isso, vão se ver comigo.

-Que bom saber que vocês sentem minha falta... - meu marido sorriu para os amigos, comovido.

Roger, Freddie e John se despediram e quando ficamos a sós, tive que perguntar.

-Ficou com medo mesmo Bri, de ter que deixar a banda? - aquilo foi o suficiente pra partir meu coração, e esquecer todas as consequências ruins da fama.

-Eu não quero ter que fazer isso nunca - Bri não conseguiu conter as lágrimas - eles são minha família, Chrissie.

-Eu sei, e você viu, se depender deles, você não vai a lugar nenhum - falei com firmeza, pra que ele não duvidasse.

-Meu amor, faz um favor pra mim? - Brian voltou a me chamar.

-Claro, pode falar - estava disposta a atender seu pedido.

-Quando você ir pra casa, traz o meu caderno e a Red Special - ele me disse, fazendo aquela carinha que conseguia me convencer sempre, mas não agora.

-De jeito nenhum! - eu discordei e fiz uma careta - você está em recuperação e repouso, não vai trabalhar agora, não senhor, e além disso, isso aqui é um hospital, sabe, tem uma regra básica que você precisa fazer silêncio, e tocar uma guitarra faz barulho, então sinto muito, meu amor, mas não vou poder fazer isso.

-Chrissie... - Brian tampou os olhos com as mãos e começou a rir, não sabia se era de nervoso, de frustração ou da minha cara.

-Não adianta você rir, não vou trazer sua guitarra - eu acabei rindo também.

-Faz o seguinte - meu marido respirou fundo, pronto a propor outra trégua - arruma um papel e uma caneta pra eu pelo menos escrever a letra, escrever não exige tanto esforço assim.

-Tá bom - consegui concordar e esse pedido eu concedi.

Mesmo recostado na cama de hospital, Brian escrevia e murmurava uma melodia, bem ao seu jeito de compor. Por mais entusiasmado que ele estivesse, aquela composição teria que esperar mais um tempo pra ficar pronta.

A/N: Oi gente! Então né, depois do susto, trouxe um pouco de angst pra vocês, alguém pediu? Enfim, está aí. Mas isso é uma coisa que eu queria explorar, a Chrissie como uma pessoa tímida e insegura, vai ter dificuldade de lidar com a fama dos meninos, mas ela vai conseguir, garanto pra vocês. Outra coisa da vida real aqui é que realmente o Brian ficou com medo que substituíssem ele quando ele ficou doente (como se fosse possível né?) ah e a música que ele teve a ideia aqui é Now I'm Here, que ele fez logo depois de se recuperar. E cês viram? Até brigando, Brian e Chrissie são fofos. Até a próxima!

Pelo olhar de ChrissieOnde histórias criam vida. Descubra agora