A festa

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Tomei meu lugar no banco do passageiro no nosso carro, e enquanto Brian dirigia, tentava me preparar psicologicamente para a festa de Freddie.

Não era a primeira das suas festas que eu ia, sabia muito bem como elas eram e era por isso que eu não gostava de ir. Nunca quis ir atrás dos detalhes do que acontecia debaixo dos panos, tentava ignorar o que estava acontecendo ao meu redor, por mais difícil que fosse. Tudo isso era um forte motivo para eu não ir, mas tinha outro motivo forte que sempre acabava me convencendo.

Freddie nos convidar para ir à sua casa significava que ele queria nos ver, nos ter por perto, ainda nos considerava seus amigos, e assim nos dava espaço pra se aproximar dele, para ajudá-lo, para relembrá-lo do quanto nos importávamos com ele. Porque querendo ou não, mesmo com toda sua pirraça e destempero, meu coração mole ainda se compadecia com Freddie.

Ainda assim, pensando nisso tudo, estava inquieta. De novo estava com uma mão no queixo, batendo o dedo indicador insistentemente na bochecha, um trejeito meu que fazia sem nem perceber, principalmente quando estava muito nervosa com alguma coisa.

-Chrissie, fala alguma coisa, tá começando a me preocupar - pediu Brian, me olhando muito alarmado.

-É só... Você sabe bem o que é - resumi, cansada - e o Jimmy, a Gracey me pareceu uma ótima pessoa, mas não consigo deixar de me preocupar. E se ele sentir saudade da gente e começar a chorar? E ela não souber o que fazer?

-Está esquecendo, meu amor, que Jimmy não é de chorar e a Gracey é uma babá experiente, ela vai saber o que fazer em qualquer situação - Brian me lembrou - a próxima vez que se preocupar, lembra disso.

-Tudo bem - consegui sorrir - obrigada, um dilema resolvido, quanto ao outro...

-Esse é mais complicado - concordou ele - mas, Chrissie, se serve de consolo, Dominique e Roger, John e Veronica vão estar lá também.

-É, nada como ter a velha turma reunida - completei - mesmo com muitos estranhos em voltáa.

E nisso, Brian fez uma careta, completamente confuso, sem saber como me responder, também constrangido com o que íamos encontrar. Eu apenas toquei seu ombro de leve, como se dissesse "não se preocupa meu amor, a gente consegue enfrentar isso".

Então chegamos ao destino final, do lado de fora havia carros e mais carros, quase que cobrindo todo o espaço do quarteirão. O som estava tão alto que mesmo antes de entrar dava pra ouvir os últimos hits do pop e do disco da época. Segurei a mão de Brian, antes mesmo de ele me oferecer, trocamos um sorriso, suspirei, e fui andando até a entrada.

A porta da frente estava aberta, convidativa pra que qualquer um entrasse sem cerimônia, e com certeza, todos os tipos já tinham entrado ali, pela leve olhada que dei no ambiente. Nenhum deles era meu conhecido, e nem havia sinal do anfitrião.

-Bri, Chrissie! - fiquei aliviada ao ouvir a voz conhecida de Roger - guardamos seu lugar.

-Obrigada Rog! - eu sorri ao sentar no lugar que ele nos indicou - como vai Domi?

-Tudo bem - a sra. Taylor sorriu - e você?

-Tudo bem também - dei um sorriso pra disfarçar, mesmo sabendo que a tática não funcionava por completo.

Antes que alguém perguntasse sobre mim, fui salva pela chegada dos Deacon.

-Ainda bem que achamos vocês - disse John ao sentar com a gente - já tiveram a impressão de ficarem meio perdidos quando vem pra cá?

-Nem me fale - eu consegui rir, e depois que estávamos os seis juntos, comecei a me sentir melhor.

Eventualmente entramos numa conversa interessante sobre as músicas que estavam tocando. Eu raramente gostava de pop, mas tinha um fraco por disco, além, é claro, do clássico rock. Quando falamos dos temas das canções, acabamos caindo de novo na velha piada de "I'm in love with my car".

Foi quando nosso anfitrião apareceu, em toda sua pompa e exagero, devidamente trajado como uma rainha, com direito a coroa e manto. Apesar disso tudo, fiquei feliz de ver que ele parecia bem. Seu olhar expressava mais aquele jovem empolgado que vinha compor com Brian no nosso pequeno apartamento há tantos anos atrás, do que o homem rebelde e carente por atenção. Estávamos bem, até Paul aparecer.

Entre eu, os Taylor e os Deacon, não havia ninguém que gostasse de Prenter. Acho que Veronica era a única que não tinha se desentendido com ele, mas todos nós tivemos um momento de confronto. Dominique foi tirar satisfação sobre ele ter comentado sobre ela ser interesseira ao se casar com Roger. "Engraçado você me confundir com exatamente o que você é. Nunca me aproveitei da fama do meu marido por benefício próprio, já você, é claro que faz isso com Freddie" foi o que a sra. Taylor disse na ocasião. O próprio Freddie tentou contornar a situação dizendo que ela estava confundindo as coisas. Ficamos em silêncio, sabendo que o remendo de Mercury não tinha dado muito certo.

Eu tinha enfrentado Prenter antes de irmos pro Rio, Brian lhe dava as respostas mais ríspidas que já vi meu marido dar a alguém e Roger o ameaçava de lhe dar uma surra constantemente.

Era só Paul estar perto que Freddie ficava insuportável, era como se Prenter alimentasse o pior lado do nosso amigo. Depois de algumas provocações entre Paul e Roger, senti a tensão no ar e sinceramente fiquei preocupada de Taylor perder as estribeiras e partir pra agressão física. Felizmente, ele e Dominique saíram antes que o conflito ficasse mais feio.

-Vamos embora também - Brian me disse baixinho, e com todo prazer, levantei rapidamente.

Nos despedimos de Freddie, o deixando pra trás naquela bagunça toda. Meu coração ficou apertado, mas minha paciência tinha se esgotado.

Na saída, encontramos com os Deacon.

-Quando é que ele vai parar? - comentou Veronica enquanto descíamos a rua os quatro juntos - não é assim que o Freddie era.

-Tem razão, os anos só foram piorando ele - John concordou com a esposa, soando um pouco amargo - sinto falta daquele cara que colocava a gente pra cima, otimista com tudo...

-Ele ainda é esse cara, John - Brian tentou consolar Deaky - lá no fundo, você sabe que é.

-Parece que foi ele que esqueceu disso - retrucou John - gente, vocês sabem onde essa conversa vai dar, não quero mais perder tempo com isso, além disso temos que ir ver como os meninos estão.

-Claro, também estou preocupada com o Jimmy - suspirei, comovida pela decepção de John - sinto muito por esse fiasco.

-Ah, você não tem culpa de nada, Chrissie - Deaky balançou a cabeça - era o Freddie que deveria pedir desculpas.

-Infelizmente, isso é muito difícil de acontecer, Johnny - Veronica disse a verdade.

-Tenha um pouco de ânimo, John - Brian tentou mais uma vez, antes de nos despedirmos - boa noite, gente.

Os Deacon nos responderam e tomaram seu caminho, nós fomos para o nosso.

-Sabe que o John tem razão, eu nem consigo seguir meu próprio conselho, acho que minha paciência tá se esgotando também... - confessou Brian durante o caminho de volta.

-Ah, Bri, eu sinto muito, mesmo - automaticamente deitei a cabeça em seu ombro, me apoiando em seu braço, com cuidado pra não atrapalhar ele dirigir - depois da minha própria cota de momentos ruins com Freddie, não sei o que dizer.

-Não precisa falar nada, meu amor - Brian respondeu, cansado - vamos esquecer isso, e... tentar se conformar com o Freddie de agora.

O que meu marido disse era pesado, mas era a realidade. Acho que tinha me cansado de aconselhar Freddie a mudar, todos nós cansamos. Aparentemente, não tinha nada que podíamos fazer. Ainda  assim ele era nosso amigo.


A/N: Mais um dramalhão aí pra vocês! Eu amo os momentos mãe da Chrissie, e sim, a festa do capítulo é a mesma festa do filme, e de novo, evitei transcrever a cena do filme, e esse finalzinho que o John e o Brian conversam acabou surgindo e confesso que fiquei triste também. Às vezes dá vontade de falar pro Freddie igual falo pra um amigo meu "se você fosse meu filho...". Bom, é isso, não esqueçam de comentar, e até a próxima!

Pelo olhar de ChrissieOnde histórias criam vida. Descubra agora