Ideias

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Desde que descobri que estava grávida, tinha passado por sensações diferentes, coisas que nunca imaginei passar antes na minha vida, ou que pelo menos, não sabia que passaria. Quando eu era uma menininha, costumava brincar de boneca, sonhando em ser mãe um dia. Conforme cresci, tive esse sonho frustrado, com o medo de que ninguém nunca me amaria como eu era. Então de repente, graças à insistência de uma boa amiga, fui ao show de um certo guitarrista e sua banda, e a partir daí, o resto é história. Tinha me casado e logo teria meu filhinho nos braços.

Era estranho, sentia cada movimento, cada fase de crescimento, eu mudava conforme o bebê crescia, e nada relacionado a ele passava despercebido por mim. Ele estava ali dentro de mim, eu mal podia acreditar, era o verdadeiro milagre da vida. E antes mesmo de nascer, nosso filho participava de tudo que dizia respeito ao Queen, já que não deixei de acompanhar Brian como sua assistente.

Então, quando mais um novo ano chegou, os meninos se puseram a trabalhar em um novo álbum. Brian, de novo, como eu tinha notado ao longo dos anos, continuava se inspirando em diferentes coisas pra compor. Me impressionava ele conseguir ter ideias diferentes uma das outras e fazer músicas muito distintas pra um mesmo disco. Era essa a sensação que tinha quando comparava "All Dead, All Dead" e "Sleeping on the Sidewalk" .

Fiquei assustada quando ele me mostrou a primeira delas, quando estávamos em casa.

-É muito triste - fui bastante sincera.

-É só uma reflexão sobre o fim das coisas, aquele sentimento de devastação que se tem quando se perde alguma coisa, você pensa naquele primeiro momento de choque que não vai poder recuperar o que perdeu - meu marido foi me explicando sua inspiração - só a morte é tão definitiva assim.

-Bom, é um tema triste - voltei a comentar - mas é algo que as pessoas passam, todos nós na verdade.

-Sim, é triste, mas é a realidade - concluiu Brian.

Mesmo sendo triste, ainda gostava de "All Dead, All Dead" porque meu amado a tinha feito, e porque entendia seu ponto de vista em fazê-la.

-Eu gostei mais de "Sleeping on the Sidewalk" - confessei em outro dia - é bem divertida, você pegou uma anedota e conectou tudo com as rimas.

-Não esqueça o refrão repetitivo - apontou Brian - é o que caracteriza como uma música propriamente dita, é o tema recorrente, por isso fica voltando e voltando nele.

-Como você fez com "39" - comparei - mas "Sidewalk" muda ligeiramente, conforme a história da canção pede. Uau... eu analisei essa até demais.

-Eu não me importo - Brian sorriu, aprovando minhas reflexões - sua opinião sempre conta muito pra mim.

-Obrigada - não tinha outra palavra que podia dizer, estava grata por Brian considerar minha opinião e me considerar como a pessoa mais importante do mundo.

Na verdade, dividia esse posto com nosso bebê agora, e eu não tinha nem um pingo de ciúmes por isso. Então, conforme chegávamos mais perto da data prevista pro parto, os meninos continuavam trabalhando. John tinha feito para o novo disco "Who Needs You" e "Spread Your Wings", outras duas das minhas favoritas. A primeira me deixou preocupada com Deaky, comecei a pensar se alguém tinha ameaçado ele e pegado no seu pé, ou pior, se ele tinha respondido a pessoa conforme a letra da sua música.

Quando os meninos terminaram de gravá-la, tive que perguntar ao John para satisfazer a minha curiosidade.

-Essa letra é indireta pra alguém? - fui bem sincera.

-O que? - ele estranhou minha pergunta, mas depois riu - bem, um pouco, quer dizer, sabe quando você fica de saco cheio de umas certas situações? Foi meu jeito de dar uma resposta definitiva pra elas todas.

Pelo olhar de ChrissieOnde histórias criam vida. Descubra agora