3 - Primeiro Show

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Se tem uma coisa que eu definitivamente não suporto, é acordar cedo. Ter que interromper meu sono para comparecer em reuniões, pegar aviões ou tirar fotos, era o meu pior pesadelo. Mas com toda a certeza, ter que acordar as quatro da manhã numa sexta feira para buscar uma certa brasileira no aeroporto, seria algo que entraria na minha lista negra.

Eu devia amar muito Cecília.

O caminho até o LAX foi tranquilo, me concentrei no silêncio enquanto dirigia com cuidado. A estrada estava praticamente vazia por conta do horário, o que facilitou na minha ida.

Por pura preguiça, esperei por Ceci no carro e vinte minutos após minha chegada, a loira bateu no meu vidro.

Eu sorri fraco destravando o carro e recebendo sua presença no banco do passageiro, mas não antes dela colocar os seus pertences no porta malas. Passaríamos o resto da nossa semana em LA, junto com o peguete de Cecília, para que depois pudéssemos ir ao nosso novo apartamento em Miami.

- Oi. - ela sorri e eu a envolvo em um abraço carinhoso.

- Olá. - eu digo de volta, a soltando do abraço. - Como foi o voo?

E assim os meus próximos quarenta minutos são preenchidos pela voz animada de Cecília. Não havia maus tempos para a garota. Ela estava radiante o tempo todo. Diferente de mim, que na primeira oportunidade já estava reclamando e colocando a culpa na minha falta de sono, no clima e até se alguém estivesse respirando muito alto ao meu lado. Eu era um caos.

Quando chegamos em Hesperia, minha amiga não parou de se impressionar com o fato de que a cidade era literalmente um deserto, não tínhamos lugares importantes e somente as pessoas um pouco melhores de vida possuíam um gramado em suas casas. Resumidamente, o local era pequeno o suficiente para que todos se conhecessem e fofocarem da vida um do outro.

Ao chegarmos em casa, com o máximo de silêncio que pudíamos fazer, subimos as duas malas de Cecília no meu quarto. Minha cama de casal era espaçosa o suficiente para acomodar nos duas.

Ela não quis tomar banho, então eu somente vesti de volta o meu pijama e deitei na minha cama. Sem me importar muito se a loira havia feito o mesmo ou não.

Acordamos juntas com batidas na porta e eu quase praguejei em mil línguas o fato de que já era horário do almoço.

Minha mãe conheceu Cecília e em cinco minutos de conversa, a mais velha já amou minha amiga. Devidamente higienizadas, nós descemos as escadas comentando sobre algumas modelos da agência e quão rudes elas podiam ser.

Federico quando viu a brasileira, tentou jogar o seu melhor charme, mas ouvir que mais tarde iríamos para o show do "conhecido" - palavra usada por Cecília, não por mim -, ele decidiu manter suas segundas intenções para ele.

Eu até que estava ansiosa, seria a primeira vez que eu iria em um show, simplesmente porque eu não conhecia nenhum cantor o suficiente para poder assisti-lo ao vivo. Então eu queria ver como seria essa experiência.

Nossa tarde passou de uma forma até que rápida. Com o sotaque brasileiro sendo escutado quase noventa por cento do tempo. Nos outros dez por cento, Cecília experimentava os doces da minha mãe.

Fomos começar a nos arrumar pelas cinco, para que ambas de nós pudéssemos lavar os cabelos e os ajeitar. Quando me senti satisfeita com alguns cachos bagunçados nas pontas do meu cabelo, tomei meu tempo fazendo uma maquiagem leve e então eu passei cinco minutos em frente ao meu guarda roupa a procura de algo que me agradasse, que resultou em um jeans meio largos e uma camisa branca caída em meus ombros amarrada na altura do meu umbigo.

Enquanto montava uma mala de roupas pequena, Ceci ajeita alguns pontos do seu visual e então finalmente estamos prontas para ir até Los Angeles. Descemos até a sala e logo minha família vem até nós.

- Tome cuidado, mija. - minha mãe me abraça, e eu sorrio pela sua preocupação. Ela sabia o quão estabanada eu podia ser. - Tanto em se perder na arena, quanto em Los Angeles com o namoradinho da sua amiga.

Eu quase me engasgo com uma risada, mas não deixo de assentir e abraçar meu pai e meu irmão, que disseram praticamente as mesmas coisas. Logo eu e Cecília estávamos no carro e a loira procurava pelas músicas do seu peguete para que não sejamos as únicas nas quais não sabem nada sobre ele.

- Achei! - ela diz após alguns minutos e rapidamente conecta seu celular com o rádio do carro da minha mãe. - Uhhh, ele é de uma banda. - ela zomba e coloca uma música, o ritmo latino inunda o carro e eu começo a prestar atenção na letra.

- CNCO? - eu pergunto, ao ouvir a voz masculina perguntar quem a deixava louca e um coro responder o conjunto de letras.

Minha amiga dá de ombros.

- É o que está no Spotify, eles são em cinco. - ela avisa e eu assinto. - Eles são bonitos. - eu rio, mas não sinto vontade de vê-los, por isso não digo nada, nem mesmo ela, e então nós vamos conversando sobre as letras das músicas que tocavam.

Foi um pouco complicado achar a arena, o que resultou em muitas risadas e nós chegarmos no local no exato momento em que as luzes foram desligadas e as fãs gritavam pois a abertura começava.

- Meu Deus, quanta gente. - eu comento, quando finalmente chegamos na área reservada onde só possuía uma mulher loira, um homem e alguns segurnaças ambos conversavam entre si e quando nos viram, acenaram com a cabeça e um sorriso, no qual retribuímos.

- Sim, parece que eles estão conquistando mais e mais. Tanto a América Latina quanto os outros continentes. Zabdiel estava me contando quando eles foram para a Ásia, foi uma loucura. - a brasileira praticamente grita, para que eu pudesse ouvir sua voz acima dos berros das fãs. Faço uma careta.

- Zabdiel? - minha voz soa confusa.

- O carinha que eu estou falando.

Eu assinto, e vejo que estava prestes a começar, e justo agora eu precisava ir ao banheiro. Aviso minha amiga, e começo a correr para procurar o lugar certo, no exato momento que entrei na cabine, os gritos aumentaram e eu identifiquei que a banda havia subido no palco. Voltei rapidamente para o local que Ceci estava, a mesma que mexia levemente seu corpo junto do ritmo latino.

Eu andava de cabeça baixa para que eu não trombasse em ninguém e quando finalmente cheguei, olhei para os meninos que cantavam e quase senti que desmaiaria.

Meus olhos passam pelos meninos que usavam roupas douradas, e ver especialmente o menino que usava uma bandana preta na testa fez com que sentimentos voltasse e eu me sentisse confusa com o que via. Minha intuição foi confirmada quando o californiano virou de costas e eu pude ver seu nome estampado na parte de trás da sua jaqueta.

Sete anos. Fazia sete anos desde a última vez que eu havia o visto. Ele obviamente estava diferente, mas o formato e a cor dos seus olhos para mim sempre seriam inesquecíveis.

Eu desatei a chorar. Não fui capaz de segurar minhas lágrimas. Era mesmo Joel em corpo e alma. E aqui estava eu, o vendo realizar seu sonho enquanto minhas lágrimas escorriam pelos meus olhos. Eu agradecia por Cecília estar focada o suficiente nos cinco garotos dançando e cantando e não perceber que eu chorava.

Ele, de alguma forma não havia me visto e eu implorava para que ele não fosse capaz de o fazer. Mas eu estava errada, quando Joel estava prestes a cantar o refrão seus olhos se encontraram com os meus e isso o fez paralisar, sem ser capaz de cantar sua parte e os outros quatro garotos o olharem confusos. Eu sabia que ele havia me reconhecido, seus olhos - mesmo longes - haviam mostrado isso, mas logo ele se recompõe e volta a cantar.

Meu coração bate forte em meu peito, e o sentimento me faz lembrar do exato momento que eu senti isso pela primeira vez.

Sólo YoOnde histórias criam vida. Descubra agora