11 - Pior inimigo

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No dia seguinte, mais uma vez acordei no silêncio. Se fosse chutar, na noite de ontem, eu havia pregado no sono pelas dez e mesmo conseguindo esse feito, eu ainda conseguia ouvir a batida latina tocando baixo do primeiro andar. O que indicava, que as outras pessoas da casa dormiram bem mais tarde que eu. Não me abalei com o feito.

Assim que me certifiquei de que era a única acordada, vesti minha roupa de banho e com uma tigela de comida e um livro, eu me deitei na areia a fim de pegar um bronzeado.

O silêncio me afogou. Trazendo consigo pensamentos insanos que tiravam de mim minutos em vão ao idealizar e lembrar de coisas que não deveria.

O silêncio era o meu pior inimigo.

O que mais rodeava a minha cabeça no momento, era os acontecimentos de ontem. Eu lembrava perfeitamente de cada detalhe. Da sensação queimante trazida pela vodka ao ser ingerida por mim. De como uma gargalhada facilmente escapava da minha garganta ao ver os meninos fazendo alguma graça. Da minha ansiedade respondendo perguntas ou fazendo desafios. Do meu desespero ao ser trancada no guarda roupa com Joel. Dos seu braços transmitindo o melhor calor que eu poderia receber. Das minhas lágrimas saltando de meus olhos. Do silêncio conturbante que impedia a nossa comunicação.

Eu não bebi a ponto de esquecer dos detalhes.

Não me arrependia do momento. Coisa que seria possível de se acontecer, já que eu sempre julgava a mim mesma pelas minhas próprias ações. Mas eu ainda não cheguei ao ponto de estar cem por cento confortável ao lado de Joel.

Quando nos separamos, achava que toda a raiva que eu senti no dia em que descobri dos seus atos fosse acompanhar os meus anos e até mesmo quando o reencontrase, ela estaria presente toda vez que trocassemos um olhar. Mas vivendo isso hoje, eu percebo que rapidamente aquele sentimento se dissipou. Tão passageiro como uma tempestade.

Sabe a fase pós chuva? Onde o céu fica acinzentado e sempre há a dúvida de se a água irá cair novamente ou não, a espera do sol aparecer como usual? Essa era eu. A minha representação feita pela natureza. Eu esperava pelo meu arco íris, mas ainda estava processando se uma tempestade chegaria mais uma vez, ou não.

Queria ser uma tempestade de verão. Aquela que caía para abafar o calor e depois ia embora tão facilmente quanto veio. Mas na verdade, era aquela chuva de outono, que seguia por dias e dias confusa.

Eu não sabia quando seria a hora certa para eu e Joel conversamos. Não sabia se essa tão esperada conversa seria notada por mim. Ela até mesmo podia estar acontecendo e eu nem mesmo repara-lá, pois ela está sendo feita por poucos contatos e meros olhares. Desejava que se fosse assim, ou que continuasse assim. Temia ter que repetir o discurso dos meus sentimentos para o garoto. Admitir que ele tem o meu coração mais do que deveria. Ter que lidar com uma discussão com Pete por contar a ele que não me sentia confortável no relacionamento.

Eu sou tão estúpida. Queria ter treze anos novamente.

O meu inimigo, graças a uma brasileira, foi derrotado cerca de uma hora depois. Ganhando a presença de uma loira que somente por suas caretas, sofria pela bebedeira da noite anterior. Digamos que Ceci não saiu tão ilesa do eu nunca. Talvez ela não se lembrava dos mesmos detalhes que eu.

- Bom dia. - a sua voz rouca sauda, enquanto ela se deitava na espreguiçadeira ao meu lado. Cecília também vestia sua roupa de banho.

Eu a comprimento de volta e com isso ela bebe mais da sua água.

- Eu acordei no quarto de Zabdiel. - ela anuncia. E eu não encontro um motivo concreto para a loira estar me contando isso.

A olho confusa.

- E isso significa que..

- E isso significa que dormimos juntos novamente após quase um ano depois. - ela completa a minha frase, apoiando sua cabeça em seu ombro me olhando de lado.

- E... - eu continuo confusa, e meu olhar a fez confirmar isso, fazendo com que ela se ajeitasse na espreguiçadeira, retornando a falar.

- E eu não lembro da noite passada. - ela adiciona, sua sentença sendo a gasolina para os meus olhos se arregalarem e meu corpo se elevar.

- Você o que?!

Cecília faz uma careta pela minha retórica.

- Nós transamos, mas eu não lembro de nada. Richard fez umas bebidas ontem depois que você e Joel foram para os quartos e eu e Zabdiel acabamos bebendo de mais daquilo. Minha última recordação é nós sem vocês dois comentando sobre a relação tensa que vocês tem, após isso são somente flashes em que eu estou com Zabdiel. - ela explica e eu ignoro o fato de que Joel também não voltou para a sala após irmos para o guarda roupa e que eles falaram da gente.

- Cecília... - eu não encontrava palavras para ser ditas a brasileira. Ela havia vacilado e ambas de nós sabíamos disso. - Você falou algo para ele? - ela balança a cabeça para os lados. - Você acha que ele também lembra de algo?

Ela fixa seu olhar em um ponto da areia, pensando por alguns segundos em minha pergunta.

- Pelo o que eu me lembre, bebemos a mesma quantidade. - minha amiga dá de ombros, ainda sem me olhar nos olhos.

- Então pode ser que ele também não se lembre de nada. - eu aponto e os olhos esmeralda me encaram.

- Pode ser... mas do mesmo jeito me sinto culpada.

Eu balanço a cabeça para os lados.

- Não pense assim, você sabe que tudo pode acontecer.

Ela suspira ainda hesitante, mas assente.

Por alguns minutos ficamos em silêncio, até eu me recordar que precisava de conselhos sobre meu atual relacionamento.

- Eu e Pete brigamos. - eu anuncio e assim ganho a atenção da brasileira.

Ela une as sobrancelhas enquanto umedecia os lábios.

- Por quê?

Eu suspiro, desviando o olhar para minhas unhas.

- Porque ele queria que eu passasse o próximo mês com ele em Nova York. Mas eu disse que não podia e então ele surtou, dizendo que eu nunca tinha tempo para ele e essas idiotices. - eu explico, ainda sem a encarar.

A ouço bufar e com isso movo meu olhar para observar sua careta.

- Mas que ridículo! No próximo mês estaremos arrumando o nosso apartamento. - ela diz, ressaltando o fato de que iríamos nos mudar.

Foi meio que uma decisão de última hora. O nosso agente quis nos transferir para a agência da Flórida pois conhecia o nosso desempenho e sabia que na cidade calorosa iríamos nos dar bem. Não recusamos, já que ambas de nós já estávamos cansadas de todo o drama das modelos de Nova York. O mesmo quem escolheu o apartamento e nos assegurou que iríamos gostar. Já estava tudo assinado, mas precisamos fazer toda a mudança pois não havia mobília nenhuma no local.

Eu assinto.

- Foi o que eu disse, mas ele não compreendeu.

Ela revira os olhos e por alguns minutos reclama do nosso relacionamento. Sendo sincera, não prestei atenção em tudo o que ela havia dito, pois já estava cansada do mesmo discurso de sempre. Eu só concordava, dizendo poucas palavras e felizmente fui salva por Erick e Christopher que propunhavam um dia em Santa Mônica.

Não demorou mais que uma hora para que estivéssemos na estrada a fim de chegar no pier mais conhecido da Califórnia e desfrutar o nosso dia nos brinquedos do parque como se fôssemos sete crianças vivenciando seus melhores dias de vida.




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