Capítulo 36

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Escola, casa, trabalho, casa. Minha rotina do dia-a-dia. A qual passei a me acostumar, embora tão repetitiva e desprovida de novidades. Mas tinha aquelas exceções: cinema com Eduardo, açaí com Eduardo, passeio pela praia com Eduardo... Atividades que fazíamos quando um de nós folgava.

Um trato que fizemos em relação a nossa amizade. Claro que também para não deixarmos nossos dias ficarem, verdadeiramente, repetitivos.

Buscávamos, ao menos um dia, uma boa diversão.

E tudo ocorreu dia após dia, até se tornar mês. Sim, mês. Eu já havia completado um mês de funcionária do mercado.

Também não acredito na rapidez dos dias. Mas creio que me acostumei demais com tudo, que não me liguei no tempo. Eu só caí na real, de fato, agora que me vejo com duas crianças segurando minhas mãos no centro da cidade, dois dias depois de receber o meu primeiro salário. Junto ao Eduardo.

Eu havia prometido a Vitor lhe dar algo quando recebesse o dinheiro. Dito e feito. Ele e Beca estão, nesse exato momento, sob minha responsabilidade em uma loja de roupas infantis. Escolha deles.

Eu nunca cuidei de uma criança sozinha, quanto mais de duas. Mesmo que ambos mostram ter a consciência de uma pessoa adulta, eu não confio muito na minha capacidade de cuidadora, então pedi a presença de Eduardo, que aceitou sem pensar duas vezes, alegando adorar crianças. E parece que as crianças também adoram ele.

— Dudu, olha esse! — Rebeca surge saltitante na frente de Eduardo com um vestido azul bebê, tendo pequenas florzinhas o enfeitando mais uma fita de cetim da mesma cor envolvendo a cintura, terminando com um laçinho nas costas. A saia do vestido vai até o meio de suas coxas, conforme ela o coloca em frente ao seu corpo.

— É bem bonito. Combina com você. — diz Eduardo, apoiando as mãos nos joelhos e encarando o reflexo da garotinha, que se adimira no espelho da loja. Ela sorri.

— Então você só quer saber a opinião do Dudu? — finjo chateação.

— Claro que não, bobinha. — se vira pra gente.  — A sua é importante também. Mas você adorou todos que peguei.

— Eu realmente os achei lindos.

— O tio não pensa o mesmo, não é, tio? — olha o rapaz ao meu lado.

Eduardo ri.

— Sinceramente, os anteriores não eram tão bonitos.

Ergo a sobrancelha. Ele e Rebeca acham graça.

— O.K., esse também é bem bonito.

A menina sorri e volta para o espelho, observando e imaginando a roupa em si.

— É um pássaro? É um avião? Não, é o Super-Vitor! — o dito cujo aparece eufórico diante de nós, correndo de braços abertos, simulando estar voando.

Algumas pessoas que passam perto da gente sorriem com a cena.

De repente vejo o garoto nos braços de Eduardo, que o ajuda na simulação e brincadeira. A gargalhada do menino ecoa pela loja, sendo contagiosa.

— Essa blusa não está um pouquinho grande em você, Vitor? — pergunto quando o vejo voltar a pôr os pés no chão, observando-o ser engolido pela blusa com o símbolo do Super-Homem.

O garotinho olha para si mesmo e logo se volta para mim, dando de ombros.

— Não.

Eduardo se põe às suas costas e avalia a etiqueta da roupa.

— Você pegou tamanho G, campeão. — ri.

— Foi a primeira que vi.

— E quando a vestiu não viu que está larga demais? — Rebeca indaga.

Um Amor Fraterno (Entrará em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora