Capítulo: 43

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Adotada.

Você não é uma filha legítima.

Você não é minha irmã.

As palavras eram lanças afiadas que não só pertubavam minha cabeça como também pareciam ter perfurado meu peito. Na pior forma possível. Num golpe terrível.

Tudo fora uma mentira a qual acreditei. Tudo fora bem arquitetado para ser escondido de mim. Para que eu ficasse vivendo a minha vida às cegas; sem saber a verdade.

Por que me privaram da verdade? Por que me esconder algo que era direito meu saber? Por que não pensaram em como me sentiria quando soubesse? Quer dizer, eu saberia algum dia? Ou ficaria alheia à minha verdadeira história?

Tantas perguntas.

Adotada.

Eu não vejo problema nisso. Pelo o contrário, eu acho uma atitude linda. Ganhar uma família. Ser de uma família.

Isso me faz lembrar da breve conversa que tive com Mathias quando descobri que os irmãos de Alina são adotados. Ele poderia ter me dito, mas preferiu continuar escondendo. Guardou esse segredo até não aguentar e lançá-lo contra mim num momento de raiva e frustação. Sem cuidado com as palavras ou com o que elas poderiam causar em mim. E elas doeram. Muito. Porque foram ditas com tanto rancor e ríspidez, que me fizeram questionar se aquele era o Mathias que eu cresci chamando de irmão.

Eu posso ter passado dos limites. Entendo que se Alina não soubesse da aposta e fosse o tipo de pessoa precipitada que não escuta e já tira conclusões, tudo estaria no fim do poço e ela estaria odiando ele nesse exato momento. Mas Ali escutou e no fim sabia de tudo, mas ele nem me deixou falar.

Respiro fundo pela terceira vez desde que cheguei aqui.

A princípio não sabia que rumo estava tomando. Meus pensamentos estavam tão ocupados, que minha pernas tomaram controle sobre si. E quando meus chinelos começaram a afundar na areia eu percebi que estava na praia.

Foram bons quilômetros que valeram à pena, porque, no pier, quase sozinha, eu posso pensar em tudo enquanto escuto e sinto o cheiro do mar. É fåcil de relaxar e distrair. E um bom ponto a qual ninguém virá encher meu saco. Quem me conhece sabe que não sou chegada a praia. Seria o último lugar que viriam.

Mas quem viria? Pra quê viria?

Rio sozinha, sem humor; amarga.

Meu celular vibra mais uma vez no bolso da minha vermuda. Já até perdi as contas.

Entre o período do fim da tarde até agora, à noite, esse aparelho não parou cinco minutos inteiros.

Eu sei que são ligações e mensagens mesmo não tendo o pegado para olhar. Seja quem for, eu não tenho cabeça para falar com ninguém.

Eu ignoro aquela vibração, esperando que pare logo, enquanto encaro o reflexo da Lua na água. Ela ão está totalmente cheia, mas ainda assim está bonita.

O aparelho volta a pertubar. Sequer percebi quando parou.

O pego, não para atender ou visualizar alguma mensagem, mas sim para olhar as horas.

O visor mostra meia-noite e cinquenta, o que me faz arregalar os olhos.

Estou tanto tempo assim fora de casa?

No entanto o visor mostra também as notificações perdidas como: mensagens no WhatsApp, SMS's e ligações. Algumas do papai, mas a maioria é do Mathias.

Não duvido que mamãe esteja os obrigando a usar seus celulares para falar comigo. Papai até posso imaginar que esteja preocupado também, mas Math...

Meu coração se aperta em imaginar meus pais procupados sem saber onde estou, já que nunca fui disso. Então decido ser breve no aviso:


Diga aos dois que estou bem.


E envio.

Sei que isso não vai ajudar a acalmar o nervismo e a preocupação de dona Sônia, mas é uma boa coisa. Ao menos saberão que nada me aconteceu. Fisicamente.

Volto o olhar pra tela quando o celular anuncia a chegada de uma mensagem.


Liz, onde você está?


Ele pergunta, mas sei que não é bem ele que quer saber. Mamãe deve estar enchendo a cabeça dele.

Uma nova mensagem chega.


Responde! Cadê você?


Mas não digo nada. Já dei meu sinal de vida. Por agora basta.

Desligo o aparelho por completo. Não quero ser pertubarda.

Bocejo. O sono querendo me pegar, mas não quero me entregar porque não quero ir pra casa. Não quero ter que chegar e encará-los.

É, sou uma covarde.

Um Amor Fraterno (Entrará em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora