Na minha infância, eu gostava de chamar os poucos coleguinhas que eu tinha para brincar na minha casa ou até mesmo na rua, sob os olhos de algum adulto. Era uma brincadeira atrás de outra até cansarmos, ou até iniciarmos alguma discussão besta para saber quem ficaria com tal brinquedo, ou até mesmo alguma criança aparecer machucada... na maioria das vezes, eu.
E toda vez eu procurava alguém para culpar e assim poder ficar com raiva, chorar e dramatizar.
Como na vez da bola extremamente rosa de Laurinha, a qual jogávamos vôlei mais Pedro e Sandra dentro do meu quarto. A cama ficara representando a rede e assim, sem saber como funcionava o esporte, apenas lançávamos a bola uma dupla para a outra.
Num certo momento a bola viera para mim, eu não a peguei direito e isso a fez bater no meu rosto. Doeu. Meu nariz fora o que mais reclamou. Quis chorar. Olhei para a moreninha dos cachos de chocolate, a Sandra, e a fuzilei. A culpei, dizendo que fora de propósito. Ela rebateu. Iniciamos um bate-boca. Minha mãe apareceu e acabou com tudo aquilo, até mandou meus amigos irem pra casa.
Eu sabia que estava errada. Em todos os casos, eu sabia. Mas não queria estar errada, muito menos assumir que estava errada. Isso me leva à raiva.
E é exatamente o que está acontecendo aqui.
Eu violara a privacidade do meu irmão, e ele está com uma carranca enquanto dirige; ignorando completamente minha pergunta de exatos quatro minutos atrás. Não olha pra mim, apenas presta atenção no que tem à sua frente.
O celular fora guardado no seu bolso. A música foi desligado e só o barulho de outros automóveis é escutado. Mas entre nós, nada. Seria um silêncio bom para cochilar se eu não já tivesse perdido essa vontade por estar angustiada atrás de uma resposta. Apenas um "não" ou um "sim".
Eu errei — reconheço mas não admito em voz alta —, mas esse peso não cai somente em meus ombros. Mathias tem sua parcela de culpa. Estou errada em vasculhar sua rede social, no entanto ele me mostra estar errando também por estar, possivelmente, mentindo pra mim. E pra Alina — principalmente.
E seu silêncio só me faz pensar que a resposta para minh pergunta é o "sim".
Quem cala, consente
Estou com raiva. Pelo seu silêncio, pela incerteza, por estar cinquenta porcento errada...
***
— Acho que meu irmão está mentindo pra mim...
[23:11 PM]Envio para Thiago rapidamente, com medo de molhar meu celular com a água do chuveiro. Sim, estou digitando ao mesmo tempo em que estou no banho.
Eu não podia esperar. Ainda estou inquieta com a falta de uma resposta de Math. Depois do episódio no carro, ele se calou e assim prosseguiu até chegarmos em casa. Nem um "tchau" me falou quando cada um se trancou em seu quarto. Pensei em ir atrás, me desculpar e depois exigir uma explicação, no entanto decidi que era melhor ficar no meu canto por ora e não deixá-lo mais bravo ou chateado comigo.
Antes mesmo que eu deixasse o aparelho à uma certa distância, livrando-o de problemas, recebo uma resposta.
— Minha luz, quando é que seu irmão fala a verdade?
[23:11 PM]— Ele não mente pra mim, mas dessa vez é diferente e eu tenho minhas dúvidas.
[23:12 PM]
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Um Amor Fraterno (Entrará em Revisão)
Ficção AdolescenteLiz e Mathias Collins têm o típico relacionamento de irmãos: se irritam mas se amam; e, para Liz sempre foi e sempre será assim. Mas tomar uma decisão que julga ser a certa, resulta em um atrito nesse relacionamento. "Um Amor Fraterno" conta a histó...