Capítulo 26

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Aos tropeços desço os oito degraus da escada que dá acesso a sala enquanto levo a mochila às costas

- Devagar, maninha. Assim você vai cair. - meu irmão surge da cozinha com sua vasilha personalizada da série Supernatural transbordando de leite com sucrilhos de chocolate.

- Estou atrasada. - informo me aproximando rapidamente dele. - Bom dia e avisa aos outros que já sai.

- Não vai comer nada?

- Como alguma coisa na faculdade. Tchau. - atropelo as palavras ao mesmo tempo que caminho até a porta.

Minha cabeça lateja como consequência de uma noite mal dormida.

Ontem depois da aula, aceitei o convite de Mathias a ir até sua casa. Foi uma tarde bem atipica considerando a minha rotina de me trancar no meu quarto e estudar. Eu almocei com eles e até consegui me sentir mais relaxada e menos vergonhosa na presença deles. Estranhei meu próprio comportamento quando me juntei a Liz e começamos a zombar de Mathias e da senhora..., quer dizer, tia Sônia, ao ver a irritação deles com a derrota do time. Ou quando ambos ficaram inconformados com a escolha de Liz em relação aos filmes.

Tudo foi um grande entretenimento e divertido para mim, uma pessoa que é difícil sair da rotina de todos os dias. De casa para a faculdade e da faculdade para casa. Meus irmãos até que conseguem, raramente, me levar para algum lugar que possa me divertir, mas nenhum que tenha me incentivado a mudar meu jeito caseira.

Mas foi por causa do evento de ontem que eu acabei chegando depois dás dez da noite em casa. Isso não foi um problema, embora meu irmão tenha vindo com seus interrogatórios desnecessários, mas sim a atividade da universidade que eu acabei deixando para última hora, sendo obrigada a passar uma parte da madrugada acordada, dormindo poucas horas e sentindo a conseqüência desde que cai da cama ao perceber meu atraso.

O pior de quando isso acontece é o horário do ônibus que preciso pegar para chegar. Eu tenho consciência da hora exata em que ele passa. É certo que não vou me atrasar se pegá-lo, porém quando o perco é necessário esperar quase uma hora para o próximo passar.

Estou inquieta aqui no ponto de ônibus, que fica a algumas quadras da minha casa. Os poucos passageiros que me faziam companhia na espera, já pegaram seus respectivos veículos públicos tranqüilamente e eu acabei que sobrando sozinha com a minha inquietação.

O sinal fecha mais uma vez para os automóveis, que param alguns metros de distância da calçada que estou deixando apenas a faixa de ônibus livre. Confesso não gostar quando isso acontece, pois tenho a paranóia de que aqueles que estão dentro ou em cima do veículo vão ficar me encarando. Tento ao máximo não olhar para a frente e ficar atenta a alguma aparição dá minha condução, mas é impossível quando uma buzinada chama a minha atenção.

A moto preta é rapidamente reconhecida por mim, logo o piloto também mesmo que o mesmo esteja com o capacete escondendo seu rosto. Quando entende meu reconhecimento, ele manobra a moto desviando de um carro e para rente ao limite da faixa de ônibus.

A viseira do capacete é levantada e isso me dá a certeza.

- Atrasada?

- Não interessa. - volto minha atenção para o longe, torcendo para a chegada do ônibus.

- Sabe que o seu é o que mais demora, não é?

- É mesmo? Eu o pego todo dia, pesquiso o horário de circulação e mesmo assim não sabia disso, obrigada pela informação.

Ele sorri.

- Caramba, minha menina cresceu.

Fico calada. Minha preocupação é com outra situação.

Um Amor Fraterno (Entrará em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora