Capítulo 46

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  - Aqui! Toca pra mim! - alguém grita.

- Vamos lá, garotos! - o treinador berra, batendo as mãos, incentivando.

  - Luca, pra mim, cara! - outra voz pede a bola.

Eu não estou atento ao jogo. Embora estivesse correndo junto aos demais atrás da posse da bola, eu não consigo me concentrar.

Não sei, talvez saber que a pessoa de extrema importância pra mim não quer falar comigo porque eu a desprezei e a magoei num momento de raiva, deve ter causado esse desânimo.

Foram palavras que saíram sem filtro. Eu não pretendia contar sobre a adoção daquela forma. Na verdade, eu nem pretendia contar. Tinha prometido aos meus pais desde o ínicio que essa parte ficaria para eles, porque eu iria ser aquele que a confortaria quando ficasse desapontada, chateada ou qualquer reação negativa por ser adotada - o que não ocorreu, porque, diferente do que pensei, ela se seu muito bem com a situação. Mas eu não cumpri, fui um completo idiota.

  - Porra, Mathias! - o xingamento me tira do devaneio, me fazendo perceber qu me desliguei da partida. Então percebi também que a outra equipe havia marcado um gol.

  - Cara, o que está acontecendo contigo? - André se aproxima, indignado. - Já é a segunda vez que tu entrega a bola de bandeija pro outro time.

  - Foi mal, só estou um pouco desligado. - digo, agora chateado com minha alienação.

  - Um pouco? Você está *completamente* desligado. - aponta. - Você não está marcando ninguém, não está indo atrás da bola, não pega quando te passam a posse e quando pega permite que o adversário a roubem. Você está passando mal?

Respiro fundo.

- Não é nada demais, só uma dor de cabeça. - minto.

Ele sabe que não falo a verdade, e isso o faz me observar atentamente. Antes que possa dizer algo o apito soa.

  - Ao jogo, rapazes! - o treinador ordena.

O treino continua, e eu tento ao máximo não ficar pensando nos meus problemas pessoais.

Mais tarde, no intervalo das aulas, eu preferi ficar sozinho num canto da universidade, longe do barulho dos outros alunos. Não fui questionado pelos meus amigos, apenas disse que não estava muito bem e isso bastou. Ao menos pra mim.

  - Soube que está estranho hoje. - a voz feminina que eu conheço bem chama a minha atenção.

Alina se acomoda ao meu lado no chão, perto das escadas do ginásio. Logo desvio os olhos dela, negabdo com a cabeça.

  - Só estou pensativo. - dou de ombros, desdenhando.

Percebo pela visão periférica que ela me observa atentamente, como uma análise. Mas não demora quatro segundos para dizer:

  - É a Liz?

Eu apenas confirmo.

  - Como ela está? Ou melhor, como vocês estão?

  - Tirando o fato de que ela não olha pra mim direito e muito menos fala comigo mais do que uma simples saudação, estamos bem. - digo desanimado.

Há dois dias em que estamos nessa situação, e em todas às vezes em que tento puxar assunto com ela, suas respostas se resumem a uma única palavra, curta e grossa.

E não adiantou a tentativa de me desculpar com uma barca de açaí, porque somente aquela coisa roxa foi aceita. Eu riria daquele momento se eu não tivesse percebido a mágoa entre seu olhar raivoso.

Um Amor Fraterno (Entrará em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora