"Duda. Atende minhas ligações. Sinto muito por ter lhe machucado com as coisas que lhe disse antes de ir embora. Assim que ler essa mensagem, me liga, por favor. Sei que a última conversa você disse ser a definitiva, mas tenho coisas para lhe dizer. Te espero."
Li o e-mail que Frank havia enviado. Ele sabia que eu estaria no computador trabalhando e minha caixa de e-mail aberta.
Visualizo, apago, bloqueio endereço de e-mail dele e volto minha atenção para minhas tarefas. Aquela havia sido a terceira mensagem em uma única manhã. Algo bem diferente quando namorávamos. Frank passava o dia inteiro para visualizar meu "Bom Dia". Contudo, só aquela manhã, havia excluído três convites para uma conversa. Não tínhamos mais o que conversar. Tudo foi dito na última vez em que nos encontramos e coloquei um fim em nosso namoro, de um ano e meio, dois dias após saber que ele tinha um caso com sua nova vizinha. A quem eu quero iludir? Nosso namoro estava acabado a muito tempo, eu quem não queria enxergar isso por puro comodismo.
Sinto um nó na minha garganta, quando lembro da imagem que me fez notar que eu namorava um canalha, aquela sensação ruim de um caroço me entalando a garganta. Dias atrás, precisei ir ao outro lado da cidade para pegar alguns documentos na casa de um sócio da revista, na qual faço estágio. Estava em uma parada de ônibus, localizada em frente ao motel Só Amor. Quando identifiquei o carro de Frank sair do estabelecimento, ele na direção, ao lado de uma loira. Senti que não conhecia mais o homem que dizia gostar tanto de mim. Entrei no ônibus, de volta para o trabalho, sem sentir meus pés. Sem conseguir pensar. Profundamente em choque, dei a volta na cidade analisando o quanto havia sido boba de não dado importância aos sinais.
O sumiço dele em alguns finais de semana, com a desculpa que estava cansado. Às vezes que me deixou plantada a sua espera e no dia seguinte dava pretexto de muito trabalho. As ligações que duravam apenas quinze segundos, demonstrando que ele nunca tinha paciência de conversa comigo, nos últimos meses. As inúmeras senhas em seu celular. O discurso de que eu deveria fazer isso ou aquilo, na busca de me mudar ao seu gosto.
Se eu aceitar ter essa conversar com ele – o que eu não vou fazer – Frank vai tentar me convencer que posso ser idiota o suficiente para voltar a ser sua namorada fixa enquanto o tal se acha no direito de me enganar com suas aventuras. Sinto nojo e ódio só de imaginar.
Eduarda! Respira.
Ergui os braços, os balancei no ar, fiz uma sessão de respiração profunda, visualizei um lugar bem bonito e em segundos a tensão sobre mim vai aliviando.
Se concentrar no trabalho e selecionar os e-mails que Talita pediu era a melhor coisa a ser feita e a tarefa mais fácil que tinha na minha rotina na revista, naquele momento. As assinantes da revista mandavam alguns relatos amorosos, outros até com testemunhos bem picantes. Minha tarefa consistia em escolher a que tinha uma escrita fluida, uma estória mais interessante, fazia tipo a função de uma peneira para em seguida mandar para Talita. Ela avalia e escolhe quatro para logo depois serem enviadas para o setor da coluna" Conte-me seu segredo" para a publicação semanal.