DUDA
Marcelo havia aceitado um emprego fora do país, possivelmente havia interferido no emprego que Ricardo conseguiu para mim, mas também me pediu em namoro.
Queria ele pertinho de mim.
Queria sentir seu cheiro quando nada mais importasse.
Queria abraçá-lo quando estivesse cansada.
Queria beijar aquele homem quando o dia acabasse e a saudade apertasse no peito.
Queria discutir com ele, cara a cara, quando tivéssemos nossas divergências.
Queria fazer amor na minha cama.
Não queria viver longe, com coração minúsculo na palma da mão, contanto os dias que – talvez – pudéssemos no ver com mais frequência.
Não queria sentir raiva, em algum momento, de Marcelo, e ter que me contentar com ele se explicando ao telefone, numa chamada face time.
Não Queria ficar sozinha em meu quarto, e Bruna gritando como uma jamanta de tanto prazer, enquanto eu estivesse conversando embaixo dos lençóis como foi meu dia de merda sem ele.
Todas essas questões vieram em minha cabeça durante todo o dia.
Mas apenas uma colocou por terra meus pensamentos de ficar ou não com Marcelo, e entre todas elas, esse motivo era o mais forte de todos, o mais importante.
— Está aqui. — Bruna colocou a pequena sacola em cima da bancada da pia.
Ergui os olhos, pálida, sentindo-me fraca por vomitar todo o almoço que engoli com lágrimas nos olhos, no refeitório da empresa. Cinco minutos depois, estava com a cara no vaso. Vinte minutos depois, Bruna estava indo me buscar. Meia hora depois, enjoei e lá estava eu no vaso novamente. Quarenta minutos depois, Bruna comprou um teste de gravidez. E quando me dei conta, precisei chorar.
A possibilidade de estar grávida do meu ex-namorado estava tão alta que queria diminuir a situação fingindo que eu estava passando por um pesadelo e logo iria acordar. Mas não poderia. Fizemos sexo sem camisinha várias vezes antes do término, antes de eu descobrir que ele me traía. Porque no fundo, eu acreditava que estávamos passando por uma situação complicada, que poderíamos resolver como um casal que tenta reverter a situação crítica e voltaríamos a nos apaixonar. Mas não foi assim.
A menstruação que não vinha. A fome desenfreada que imaginei ser nervoso, não passava de alguém crescendo em minha barriga roubando minha comida. As roupas que não cabiam, e precisei comprar algumas novas para poder sair com Marcelo. Os hormônios me deixando louca e querendo sexo a toda hora. Desejos matinais esquisitos.
"Você detesta cachorro-quente, Duda!" — disse Bruna, entrando no meu quarto, na manhã que cheguei dos EUA com Marcelo.
Eu desconfiava, embora a possibilidade passasse tão vago na minha mente que não escutei, tampouco quis escutar as vozes baixas que me sussurrava. Dormi um pouco e depois fui para o trabalho. Ainda que eu não desejasse pensar sobre o assunto, aquilo estava dentro de mim.