MARCELO
— Não, você não fez isso! — Ricardo parecia decepcionado.
Estava me preparando para recepcionar a reunião de amanhã. Havia feito muita coisa durante todo o dia. Acertado minhas dúvidas e ajustado minha vida para ficar definitivamente no Brasil.
Na sala, tarde da noite, eu encarava os olhos confusos do meu irmão. Então disse:
— Terá outra oportunidade, Ricardo.
Ele se sentou no sofá de frente para mim e encarou meus olhos como se implorasse.
— Sabe há quanto tempo você vem sonhando, idealizando esse projeto, cara? Isso sem contar o tempo que você ficou trancafiado na sua sala fazendo orçamento, organizando projetos?
— Desde que entrei na faculdade de arquitetura idealizo um projeto como esse — respondi, lendo uma lista de pessoas que iriam aparecer na festa. — Tá de zoação, Renan vai estar na festa? Cara, faz tanto tempo que não o vejo.
Ricardo tomou a lista da minha mão. E de forma séria me encarou.
— Você saiu esse final de semana dizendo que iria falar com seu amigo, aquele que havia colocado você na equipe da maior construção já projetada nos EUA.
— E Europa — completei.
— Europa?
— Sim, eles vão construir o mesmo edifício por lá também, o que dará mais de três anos para projetos. — Peguei a cerveja que estava ao meu lado e bebi. — Quer uma? Pego pra você.
— Ainda não posso. Como pode ficar tranquilo ao me dizer que colocou seu sonho no ralo, Marcelo? Você ao menos tem ideia do quão estúpido está sendo?
— Querer ficar no Brasil pode até ser um passo para a estupidez. Sei que lá fora sempre terei muito mais portas abertas, mas Eduarda não está nos Estados Unidos, muito menos na Europa, ela está aqui, e é aqui que irei ficar.
Ricardo passou a mão no rosto, impaciente, continuou:
— Eu te amo demais para não encher essa cabeça duro de pancadas. Porra, Marcelo! Você pode estar apaixonado, mas paixão repentina não se sustenta por muito tempo. Depois de algum tempo, em uma briga qualquer, você vai sentir-se frustrado, e pensar na oportunidade que esteve em sua mão e que descartou fácil para ficar perto de uma garota que não pode acompanhar seu ritmo.
Larguei tudo e dei atenção a Ricardo. Visivelmente decepcionado e contrariado ele tentava me fazer mudar de ideia, mas estava feito. Tomei a decisão. Disse que não iria viajar.
— Sabe por que eu não contei para Duda sobre o projeto? — Expliquei. — Porque quando fui para os EUA eu estava com dúvida, cada dúvida do tamanho de uma enorme cratera. Com as ideias bagunçadas, nervoso e sem saber como fazer.