DUDA
"Não sou o melhor exemplo de homem, mas vou assumir a criança, vou ser presente e ficar ao seu lado para tudo o que for necessário." Foi o que Frank declarou em nossa conversa.
Eu não estava buscando um pai para meu filho. Estava apenas avisando que aquele homem iria ser pai em poucos meses.
A falha foi muito minha, eu permiti que Frank fizesse sexo comigo sem camisinha, sendo que muitas vezes eu sabia que ele tinha no bolso da carteira, confiando deliberadamente na minha memória em engolir o comprimido antes de dormir.
Falar sobre esse assunto com Marcelo era tão complicado. Ainda mais sabendo que ele não curtia a ideia de ser pai, muito menos de ter que fazer esse papel em rodízio.
Quando Marcelo foi me buscar, eu estava procurando as melhores palavras para nossa conversa.
Estava em choque. Não tinha nem feito 24h da minha descoberta da gravidez. Não tinha nem doze horas que precisei enfrentar meus pais. Não tinha nem mesmo oito horas que me esforcei para olhar na cara de Frank e avisar que eu e ele tínhamos um laço para toda a nossa vida.
Estava doendo demais toda a situação.
Marcelo contou que ia deixar tudo e ficar no Brasil por minha causa! Eu nunca permitiria tal loucura. Nunca, jamais iria deixar ele perder o emprego dos sonhos, deixar seu lar para ficar ao lado de uma garota cheia de traumas de relacionamento e esperando o filho de outro!
E diante de todas as merdas que vinha passando. Um ex-namorado na minha cola. Desempregada. Morando em um quarto com banheiro que mal dava para colocar um berço. Com um homem maravilhoso desistindo de tudo para entrar numa furada que é minha vida. Eu só queria terminar sozinha, e precisava dar um motivo forte para que ele fosse embora, para que eu pudesse sofrer sozinha e em paz.
— Eu não te amo.
Contei uma mentira para salvar um erro que ele estava cometendo. E contaria essa mentira quantas vezes fosse necessário até eu saber que Marcelo fez as malas e saiu do Brasil. Até ele entrar no seu escritório, na Flórida, e começasse a trabalhar no projeto que há anos desejava participar.
Eu estava sendo cretina, mas porque eu o amava e preferia ele com raiva e decepcionado do que vê-lo definhar ao meu lado, com todos os meus obstáculos ou talvez me preservando da rejeição quando eu lhe contasse sobre a gravidez.
Não conseguia sentir o chão embaixo dos meus pés. Não conseguia respirar direito. Pensar direito. Eu só queria que Marcelo fosse embora, que ele agarrasse aquela oportunidade com unhas e dentes e realizasse seu sonho. Que ele me esquecesse.
Não importava mais contar sobre a gravidez, o que importava era sair da vida dele o quanto antes.
É verdade, estávamos tentando algo. Passamos apenas um final de semana juntos, e alguns beijos anteriormente. Ia ser melhor terminar agora aquilo que nem começou. Seria menos doloroso interromper naquele instante que vê-lo partir aos poucos.