Marcelo
— Você simplesmente acha? — Indaguei nervoso, para Willy, dentro do carro, indo para o trabalho.
Willy era um dos engenheiros que trabalhava sempre comigo nas grandes construções. Ele era um cretino nato, pegava toda a boa obra sem se importar com as empresas que estivesse concorrendo ao trabalho. E ao longo desse ano estávamos empenhados com o orçamento de uma grande franquia que iria alavancar tanto o meu nome quanto a empresa dele.
— Cara, eu disse acho... — Escutei ele resmungar, parecia falar com boca cheia. — Mas é claro que vamos conseguir essa obra! Alguma vez eu já lhe decepcionei?
— Willy, se você conseguir essa obra, porra, eu não sei nem como vou reagir.
— Só faz o seguinte, vem aqui o mais rápido possível para podermos conversar melhor.
— Não dar! Sai do meio, filho da puta. — Aperto a buzina com violência para um corola que estava a dez por hora enquanto a avenida permitia sessenta. — Estou no Brasil, ajudando meu irmão e não posso deixá-lo sozinho...
— Que tal final de semana bate e volta? Um domingo se caso for mais prático. Você vem até aqui, tomamos algumas bebidas e conversamos sobre o assunto com o cliente. Adianto que só aceito a obra se você vier comigo, não confio nesses arquitetos de merda que paga de futurista na conversa, mas, na prática, não sabem de porra nenhuma.
— Fechado. Pego o primeiro voo no próximo domingo.
— Combinado.
Quando chego ao escritório, Talita me aborda para uma reunião extraordinária com representantes do banco no qual a revista tem conta e empréstimos.
Ela me entregou uma situação que, para Ricardo, estava boa, mas para o banco, não era bem assim. A revista lucrava bem, mas o dinheiro caixa não era muito bem empregado. Conversei com os banqueiros e fechei uma nova forma de pagamento, negociei juros menores oferecendo a disponibilidade de parcelas de curto prazo. Em seis meses a revista voltaria aos eixos e meu irmão estaria fora da camada vermelha de dívidas.
Passei na copa do andar de baixo e tomei um rápido café. Falei com alguns gerentes de setor e anotei mentalmente algumas observações feitas por eles.
Talita havia me deixado em paz durante o início da manhã, mas quando lembrei precisar subir, que teria que voltar a sala e ver Eduarda, toda a tensão voltou para meu corpo.
Chamei o elevador e lá estava Talita. Ela passava batom quando se desconcentrou, sorriu para mim e deu espaço.
— Você foi muito inteligente no acordo com o banco — disse ela, em tom orgulhoso.
Entrei no elevador, mantendo uma distância de segurança entre nós dois.
— Afinal, você sempre foi de resolver mais os conflitos — continuou com a conversa, na qual eu não estava a fim de participar. — Ricardo consegue ter ótimas ideias, mas não tem muita paciência para números. — Ela tocou meu braço. — Ter você aqui, Marcelo, novamente... é muito bom.