— E essa foto ela está indo para a aula de dança... — Mostrava minha mãe, do álbum de fotos vergonhosas da minha infância.
Enquanto Dufo bagunçava o sofá, meu pai enfiava mais comida em meu prato, minha mãe me matava de vergonha.
Estávamos na bancada, apertado, cotovelos batendo em cotovelos. Bruna não havia parecido. A comida estava pela metade e parecia que ninguém ali estava com pressa de ir embora.
— Duda odiava fazer exercício físico, então a colocamos em uma...
— Mamãe!
Marcelo sorriu.
— Tudo bem, você não gostava muito de correr, nem pedalar — tentou amenizar, mas não ajudou em nada. — Então a colocamos em uma escola de dança. Ela sempre foi muito cheinha.
Quero ressaltar que minha mãe e meu pai também são, mas minha mãe tinha medo de que eu ficasse igual a minha tia Albaniza, se enchendo de comida, desconsiderando ordens médicas.
— Nesse aqui foi o aniversário de oito anos — Apontou para uma foto minha, rechonchuda, vestida de fada rosa e com vários dentes faltando em um largo sorriso.
Escondi meu rosto entre as mãos, resmungando uma oração para o pesadelo acabar.
Marcelo se divertia.
Meu pai enfiou mais lasanha no meu prato.
Minha mãe tirou mais fotos da bolsa e colocou sobre a bancada mostrando eventos lindos da nossa família. Piquenique. Viagem em família para casa de parentes distante. Aniversario. Jogos em estádios lotados. Ceia de Natal. Eu tinha a família mais amorosa e feliz que já consegui encontrar.
— Acho melhor eu ir — disse ele, sério ou era tristeza? Não soube entender. — Está ficando tarde.
— Mas já? — Inquiriu minha mãe.
— Tenho um ótimo conhaque no carro — revelou meu pai.
Eu não parava de olhar para Marcelo, querendo entender essa repentina mudança de humor.
— Agradeço muito a hospitalidade de vocês, mas realmente preciso ir. — Senti ele distante, frio.
Andei até ele.
— Te deixo até a porta.
Marcelo apertou a mão de meu pai e beijou o rosto da minha mãe, depois saiu do meu apartamento.
Em silêncio descemos até o andar de baixo. Na calçada, ele tirou as chaves do bolso, e não olhou para mim.
— Nos vemos amanhã?
— Sim — ele disse com um sorriso sem graça.
Segurei sua mão.
— Algum problema, Marcelo? Algo que eu deva saber?