Quando eu parei na frente de sua mesa, ambos ficamos em silêncio por alguns instantes, dando tempo da minha cabeça mergulhar mais fundo. "Por que você não o conquista?", minha amiga havia me perguntado e a resposta parecia simples: eu não quero sofrer novamente, eu não confiava nos homens. Porém, agora tendo Arthur ali na minha frente, sentia minhas defesas caindo e a verdade sendo jogada na minha cara. Eu amava aquele homem.
Apesar disso, não poderia deixar os muros que eu havia construído minuciosamente ao redor de mim e do meu coração desabarem por conta de um rosto bonito. O problema era que Arthur Sullivan não era apenas um rosto bonito, era inteligente, pecaminosamente lindo, bem humorado e tinha um sorriso de derreter corações e calcinhas.
- Posso ajuda-lo? - perguntei e eu merecia um Oscar por conseguir fingir a calma que eu estava longe de sentir.
- Então é aqui que você se escondeu todos esses anos? - ele perguntou tranquilamente, encostando as costas na cadeira.
- Não me escondi de ninguém - falei entredentes - diga logo o que quer, Arthur.
- Nossa, você costumava ter mais senso de humor - ergueu os braços como se estivesse se rendendo.
- O que está fazendo aqui? - perguntei.
- Vim almoçar.
- Estou perguntando aqui na cidade, não se finja de idiota - respirei fundo e me controlei - me desculpe.
- Tudo bem e eu não vim atrás de você, se é o que a preocupa - disse, pela primeira vez com um ar sério e era estranho vê-lo usando tal tom - foi apenas um acaso, destino, seja lá o que for. Fiquei surpreso quando a vi do outro lado do balcão, mas pensei que ainda fossemos amigos.
Amigos. Essa palavra era como uma punhalada no peito, mas não ia deixa-lo perceber como havia me afetado.
- Tudo bem, podemos ser amigos - respondi e forcei um sorriso - o que vai querer?
- Que você se sente e almoce comigo - sorriu lindamente e eu quase desmaiei ali mesmo.
- Estou trabalhando, terá que se contentar em almoçar sozinho - respondi.
- Poxa, depois de tanto tempo assim que me trata? - fez bico e pela primeira vez eu sorri.
- Não posso, Arthur - respondi e olhei na direção das duas mulheres atrás do balcão que nos olhava atentamente, em seguida, voltei a vista para o homem perto de mim. Arthur me deu seu sorriso espetacular, de conquistador e se levantou. Fiquei ali parada, observando-o andar com as mãos dentro dos bolsos da calça social e um balanço de um felino, o charme e o perigo personificados; ele se debruçou sobre o balcão e eu me aproximei alguns passos para que pudesse ouvir o que ele ia dizer.
- Boa tarde, garotas - falou com a voz rouca que poderia enfeitiçar até as mulheres mais frígidas, combinando com um sorriso de matar. As duas mulheres não tiveram nenhuma chance. Lúcia estava apoiada no balcão, os olhos sonhadores como se a qualquer momento ela pudesse roubar esse homem para ela e até mesmo Marta, que já era uma mulher mais experiente, estava deixando-se levar pelas artimanhas de Arthur, que sabia como usar seu charme e carisma.
- Boa tarde - responderem em uníssono.
- Sabem, eu não sou daqui e é algo realmente deprimente almoçar sozinho. Por sorte, eu conheço aquela bela moça que está perto da minha mesa e a convidei para se juntar a mim - ele olhou para trás e sorriu ao ver que eu corava até a raiz dos cabelos - e vejam como ela fica linda quando cora - disse ainda me olhando e, como se fosse possível, senti-me mais quente - então, vocês se importariam se ela me fizesse companhia apenas por alguns minutos, queridas? - eu não conseguia ver, mas sabia que ali estava o sorriso que o fazia conseguir tudo o que queria.
- Imagine, não há problema algum, senhor... - disse Marta.
- Me chame de Arthur - falou e se inclinou sobre o balcão, dando um beijo na bochecha da mulher - e agradeço muito - acrescentou, piscou para Lucy com um olho e virou-se em seus calcanhares. Arthur caminhou com toda sua elegância e altura em minha direção, um sorriso triunfante e divertido em seu rosto bonito.
- Você não presta - murmurei, erguendo a cabeça para olhar em seus olhos quando ele parou na minha frente. Arthur era um homem alto, por volta dos 1,87 de altura (não tão alto se comparado com o irmão, Nick, que passava dos 1,90). Eu tinha 1,73 e ainda tinha que erguer a cabeça se queria encara-lo. Arthur estava bem perto e eu sempre achei que ele ficava com cara de bebê quando se barbeava totalmente, do jeito que estava agora; não consegui evitar pensar em como eu queria pega-lo no colo e ninar, e depois coloca-lo na cama, junto comigo. PARE COM ISSO, LÍDIA, me repreendi.
- Sente-se - ele murmurou no meu ouvido quando passou por mim e sentou-se em seu lugar.
O almoço transcorreu tranquilamente, com uma conversa envolta em assuntos triviais, entretanto, não consegui me sentir totalmente relaxada. Como ele podia agir como se fossemos velhos amigos que se encontraram depois de um longo tempo e agora colocam o papo em dia? Sua ignorância sobre a existência de Brendon poderia ajuda-lo a se manter desse modo, assim como as várias amantes que ele teve depois de mim. Comi mais rápido do que o normal para que eu pudesse voltar logo para o meu trabalho e forçar minha mente a esquecer que me encontrei com Arthur novamente.
- Ei, vai tirar a mãe da forca? - perguntou em tom de brincadeira.
- Por quê? - questionei, enfiando a última garfada na boca.
- Está comendo igual um pato, só colocando na boca e engolindo.
- Não estou não - retruquei e ele arqueou uma sobrancelha - eu preciso voltar ao trabalho - me levantei, peguei meu prato e estiquei o braço para pegar o dele; tentei ser rápida ao fazer isso, mas Arthur conseguiu segurar meu pulso.
- Está fugindo de mim? - perguntou com seu sorriso enviesado, porém, seus olhos estavam mais sérios do que nunca.
- Por que eu estaria? - mandei de volta, não querendo responder aquilo.
- Ah, respondendo com outra pergunta, isso nunca é um bom sinal - ele me soltou e eu me endireitei - podemos nos ver depois?
- Eu não posso fazer isso - murmurei e sai de perto dele como se estivesse sendo perseguida.
Levei os pratos para a cozinha, corri para o banheiro e me tranquei lá dentro. Eu queria chorar. Por que depois de sua rejeição eu não o odiava? Ou por que eu não conseguia agir naturalmente como ele, como se o que tivemos não houvesse significado nada para mim? Como eu ia apresenta-lo para Brendon? A única coisa a se fazer era dizer para o menino que eu não o tinha encontrado, que ele provavelmente havia partido e o que eu torcia para que fizesse.
Voltei para o trabalho momentos depois e o homem não estava mais ali. O resto do dia passou rapidamente e quando o relógio badalou marcando as 18:00 eu fui dispensada e a mulher do turno da noite chegou.
Contei tudo para Anne assim que cheguei em casa, enquanto tomava uma xícara de chá para acalmar os nervos que ficaram à flor da pele apenas com a lembrança.
- Diga à ele, Lidy - Anne falou - você achou que nunca mais o veria e agora ele está aqui, quais as chances disso acontecer? Nada acontece atoa.
- Tenho medo da reação dele - falei, mordendo o lábio.
- Será pior quanto mais demore - ela estendeu a mão para meu celular que estava em cima do balcão, digitou e colocou na orelha; franzi o cenho, pensando no que diabos ela estava fazendo e quando ela colocou no viva-voz e eu ouvi o tom grave de Arthur, entrei em pânico. Anne estendeu o aparelho para mim e moveu os lábios dizendo "fale", mas eu apenas desliguei o aparelho e coloquei a cabeça entre as mãos. Meu celular começou a tocar e olhei no visor.
- É ele - resmunguei - sorte que ele não tem esse número, Anne. Não tinha o direito de fazer isso.
- E você não tinha o direito de tirar cinco anos do seu filho do pai e você o fez - ela disse brava e colocou-se de pé - quantos anos mais vai deixa-lo no escuro sobre isso? Pare de ser uma covarde.
- E se ele quiser tirar Brendon de mim? - as lágrimas começaram a descer incessantemente.
- Então, eu estarei do seu lado para o que der e vier - Anne falou e subiu para seu quarto.
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ღ Conquistando um Sullivan
RomanceSegundo livro da série Irmãos Sullivans Após várias decepções amorosas, Lídia Prescot havia desistido há tempos de engajar um relacionamento sério e adquirido para si o lema do carpe diem. As coisas tomaram uma reviravolta quando Arthur Sullivan ent...