- Eu estava sentindo tanta falta deles - falei quando chegamos em casa, nossa casa. Fiz careta quando uma dor lancinante começou na parte baixa do meu ventre, abraçando-me e me curvando para frente.
- Lídia, está tudo bem? - Art veio rapidamente para o meu lado e quando olhei para cima, vi preocupação em seus olhos.
- Eu estou bem, só preciso me deitar - ele me levou até o sofá e deitou-me cuidadosamente, colocando uma almofada sob minha cabeça.
- O que é isso? - ele perguntou, sentando-se perto de mim.
- Cólicas - resmunguei e tentei manter meu rosto impassível, não conseguindo com muito êxito, meu rosto se transformando pela dor que eu estava sentindo. Eu sempre sofri por conta das cólicas, principalmente antes do meu ciclo, mas nos últimos anos estavam cada vez piores.
- Já foi ao médico?
- Sim - menti - não é nada com o que se preocupar, tomo alguns remédios para melhora-las - essa última parte era verdade.
⚈⚈⚈⚈
Quando a manhã seguinte chegou, trouxe uma segunda-feira chuvosa. Acordei com os pingos batendo na janela do quarto, o céu estava plumboso e parecia escurecer mais a cada minuto. Sentei-me na cama, espreguiçando-me e bocejando, esfreguei os olhos e uma visão saiu do banheiro. Eu ainda estava dormindo e estava em um sonho? Arthur cheirava a sabonete, perfume e algo peculiar dele e eu conseguia sentir seu cheiro em minhas entranhas mesmo que não estivesse muito perto, deixando-me maluca; ele vestia uma camisa impecavelmente branca, uma calça preta e um sapato social.
- Bom dia - cumprimentou com um sorriso, brindando-me com seus perfeitos dentes brancos e alinhados.
- Bom dia - respondi e o observei caminhar até o espelho para dar o nó em sua gravata preta com detalhes pratas - terá que trabalhar hoje?
- Sim, de volta à vida real - ele disse pegando o paletó que estava sobre o encosto da poltrona que havia ali no quarto.
- Ain - ronronei, fazendo bico. Ele se voltou para mim, ainda sorrindo lindamente, e inclinou-se para pegar meu lábio inferior entre seus dentes.
- Logo estarei em casa novamente - prometeu - e o que pretende fazer hoje?
- Vou procurar emprego e uma escola para Brendon - falei, jogando as cobertas para o lado e colocando meus pés no chão frio, estremecendo levemente.
- A escola deixe por minha conta e quanto ao trabalho, agora você tem a mim, não precisa trabalhar se não quiser.
Caminhei em sua direção, esquecendo-me que estava nua sob as cobertas e envolvi seu pescoço com os braços.
- Não quero que me sustente, meus pais fizeram isso durante muito tempo até que consegui desatar o laço - ronronei, puxando seu rosto para mais perto de mim - e, além do mais, ficaria aborrecida aqui sozinha o dia inteiro.
- Entendo - ele me beijou laconicamente e seus olhos percorreram meu corpo de cima a baixo lascivamente - é melhor você se afastar ou não sairei daqui hoje - sua voz estava rouca e profunda, fazendo os pelos do meu corpo arrepiarem.
- E se eu não quiser que você vá? - murmurei e beijei seu pescoço. Arthur se desvencilhou e sorriu.
- Vá, pequena feiticeira - ele me virou na direção do banheiro e deu um tapa na minha bunda.
Ainda com um sorriso idiota em meus lábios, tomei um banho, fiz minhas necessidades, vesti uma calça jeans, uma blusa regata e um par de rasteirinhas e fui preparar o café da manhã.
- Querido, ficará com a tia Anne por um tempo, tudo bem? - falei quando nos sentamos para o desjejum.
- Por quê? - perguntou, enfiando um punhado de ovos mexidos na boca.
- Porque preciso fazer algumas coisas - respondi e não dissemos mais nada.
Eu vivi aqui a minha vida inteira e me emocionei quando pude andar livremente pela cidade, havia me esquecido de como era e fiquei feliz com a multidão que havia, o trânsito barulhento e desrespeitoso e tudo que havia ali. Arthur tinha insistido que eu precisava de um carro para andar nessa cidade e não me deu ouvidos quando disse que não queria que ele fizesse isso, porém, agradeci quando tive que dirigir alguns bons metros para chegar ao restaurante que havia trabalhado antes de ir embora.
Era um espaço lindo, tudo muito bem organizado e havia uma das melhores comidas que já havia provado; era sempre lotado, principalmente por aquelas pessoas que não tinham muito tempo, como empresários e médicos, pois se encontrava bem no centro da cidade.
- Lídia, querida - a gerente do restaurante veio em minha direção assim que passei pela porta, com os braços abertos e um sorriso amigável no rosto.
- Olá, Marília - falei e dei-lhe um abraço de urso.
Marília era uma mulher que havia passado por muita coisa na vida quando era jovem, por três casamentos desastrosos e parecia mais velha do que seus quase cinquenta anos, mas havia superado tudo isso e vivia sempre com um sorriso no rosto; sua filosofia de vida sempre foi não pensar em outro tempo que não fosse o presente, esquecer o passado e não pensar no futuro que logo estaria ai.
- Que saudades eu estava de você - falou e me puxou pela mão para os fundos do restaurante - está de visita?
- Não, estou de volta para ficar.
- Oh, que felicidade ouvir isso - falou, me abraçando novamente - e pretende voltar para junto de nós?
- Se me aceitarem de volta - falei, mordendo o lábio.
- É claro que sim, sempre foi uma das nossas melhores garçonetes e poderá começar quando quiser.
- Posso começar amanhã, se quiser.
- Perfeito - ela bateu palmas e eu me animei, tudo parecia tão familiar.
Eu gostava de restaurantes, havia algo de especial que eu não sabia como explicar; várias pessoas passavam por ali, mesmo que rapidamente, de vários jeitos, tamanhos e cores, conversavam com os amigos ou apenas comiam sozinhos e refletiam. Era realmente bom olha-los de detrás do balcão.
Aproveitando que estava por ali, liguei para Anne e disse que a esperaria para que pudéssemos almoçar. Não demorou para que minha melhor amiga, sua filha e o meu garoto entrassem pela porta; almoçamos, conversamos e me lembrei de quando éramos jovens e sem responsabilidades.
- Como está a relação entre pai e filho? - ela perguntou quando chegamos em minha casa. Vic estava brincando com Brendon no jardim enquanto eu e Anne estávamos conversando e tomando sorvete na sala.
- Ainda não são como carne e unha, mas estão muito mais próximos - respondi, enfiando uma colherada na minha boca - Brendon ainda não sabe como agir perto de Arthur, talvez tenha medo de decepciona-lo ou algo assim, mas Arthur está sendo o mais carinhoso e compreensível possível.
- Arthur é um dos melhores homens que eu já conheci - Anne disse com um sorriso. Minha garganta secou e senti como se tivesse um nó impedindo que eu engolisse, me sufocando e meus olhos picaram com lágrimas.
- Ei, está tudo bem? - ela perguntou, aproximando-se mais de mim.
- Ai, Anne - murmurei com dificuldade - eu me sinto tão arrependida.
- Pelo quê?
- Por ter ido embora sem dizer nada para Arthur - as lágrimas agora fluíam incessantemente.
- Vocês eram jovens, imaturos - minha amiga me consolou - ele não queria obrigações.
- Mas agora que eu o conheço melhor sei que ele não fugiria, Anne, sei que não - funguei - ele iria cuidar de Brendon.
- Não chore - ela me abraçou e ficamos assim até que eu consegui me acalmar.
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ღ Conquistando um Sullivan
RomanceSegundo livro da série Irmãos Sullivans Após várias decepções amorosas, Lídia Prescot havia desistido há tempos de engajar um relacionamento sério e adquirido para si o lema do carpe diem. As coisas tomaram uma reviravolta quando Arthur Sullivan ent...