Quando era criança, gostava de ficar folheando revistas dos mais belos lugares no mundo. Haviam vários lugares que me fascinavam e que prometi a mim mesma que iria visitar quando crescesse, como França, Itália, Alemanha e Espanha. Entretanto, entre essas miríades de perfeições, Florença era o que mais me encantava; eu suspirava e sonhava sobre o dia em que iria colocar os pés na bela capital de Toscana e que talvez eu pudesse apenas abandonar tudo e morar ali, comendo massas e tomando vinhos. Porém, nem meus sonhos mais loucos haviam me preparado para o show que era o lugar.
Quando o avião pousou e sai para a claridade fora do aeroporto, podia jurar que meus olhos brilhavam como os de uma criança com um doce. Talvez fosse a emoção de um sonho ansiado por tantos anos mas, para mim, parecia ser o lugar perfeito no mundo inteiro. Enquanto íamos de carro até o hotel, fiquei o tempo inteiro com o rosto para fora da janela, só faltou colocar a língua para fora e eu seria um cachorro.
As várias construções rústicas eram impressionantes, as basílicas e piazzas eram monumentos que compunham uma parte significativa da cidade, até mesmo o verde das árvores pareciam mais esplendoroso do que dos lugares que eu conhecia. Eu com certeza teria coragem de abandonar tudo e começar uma vida em Florença, era algo que eu desejava desde que me lembrava. Cheguei até mesmo a fazer planos sobre isso com Cal, um ex-namorado.
Conheci Cal, como era chamado por todos, quando tinha 16 anos e lembro-me que fiquei louca por ele assim que coloquei os olhos nele. Naquela época, minhas notas em matemática estavam despencando gradativamente e eu precisava de um professor particular urgentemente; foi quando Cal apareceu para ser meu salvador, que tentaria enfiar algo na minha mente. Ele era uns cinco anos mais velho do que eu, era alto, os cabelos castanhos e os olhos mais verdes que eu já havia visto.
Quando completei 17 anos, começamos a ficar e as coisas evoluíram para um namoro; não cheguei a conhecer seus pais, mas eu sabia que ele estava apaixonado por mim, só estávamos levando as coisas mais devagar. Foi o primeiro namorado, o homem para quem eu dei minha virgindade e meu coração e eu teria me casado com ele se me pedisse. Conversamos sobre Florença certa vez e combinamos que poderíamos nos mudar qualquer dia. Até que um dia ele teve que ir embora para longe e tudo desmoronou.
Enfim, agora eu estava ali, com meu marido, na minha lua-de-mel e eu apenas torcia para que Arthur não fosse me ignorar como na noite passada. Eu ia dar um jeito para que isso não acontecesse.
- Chegamos - ele disse, sai do carro e meu queixo literalmente caiu quando entramos na recepção do hotel.
Cacetada, realmente eu estava no Four Seasons? O lugar era grandioso e um verdadeiro sonho, com seu estilo vitoriano fez-me sentir como se estivéssemos em uma outra época. O lobby era bem iluminado apesar de ainda estar claro, com enormes janelas, flores em tom lilás estavam espalhadas e sobre uma mesinha havia uma estátua de um homem nu, muito parecido com David de Michelangelo, algo marcante na Itália, fazendo-nos lembrar dos grandes pintores e escultores vindos daquele país.
- É lindo - murmurei, olhando ao redor minuciosamente.
- É sim - assustei-me quando ouvi a voz de Arthur perto de mim, tirando-me da nuvem de sonhos em que eu me encontrava.
Arthur caminhou até a recepção, fez nosso check-in e um homem uniformizado colocou nossas malas em um carrinho, nos direcionando até nosso quarto. Caminhamos por longos corredores compostos por bancos almofadados, vasos de flores e paredes pintadas com desenhos que pareciam renascentistas. Paramos em frente a uma porta, o rapaz disse algo em italiano, o qual não compreendi nem uma só palavra, e Arthur respondeu como se o idioma fosse o seu de origem; o cara entregou uma chave, Art deu-lhe uma gorjeta e com um aceno, ele partiu.
Meu marido abriu a porta da suíte e eu engasguei, apenas a habitação era maior do que muitas casas e o hotel fazia a casa branca parecer uma casinha de cachorro. Como o resto do lugar, o quarto era vitoriano. A primeira coisa que me chamou a atenção foi o teto pintado, algo que me fazia recordar de "A criação de Adão" de Michelangelo e "A última ceia" de Da Vinci, ou até mesmo o maravilhoso teto da Capela Sistina.
A cama era enorme, com uma colcha em tom de verde claro com branco e duas almofadas com a mesma estampa estava encostadas na cabeceira, assim como outras duas em verde-musgo. Havia um lustre encantador, um grande tapete macio sob os pés, uma poltrona perto da sacada e várias pequenas mesinhas com abajures em cima, tudo arrumado com muito esmero.
- Uau - exclamei quando observei a vista do amplo jardim que a sacada proporcionava.
- Vamos apenas desarrumar as malas e podemos dar uma volta pelo jardim - Arthur murmurou atrás de mim e mesmo que ele não estivesse me encostando, eu podia sentir o calor que emanava do seu corpo.
- Seria ótimo - falei com um sorriso largo e genuíno.
Depois de arrumadas as roupas, fui até o banheiro e eu não conseguia parar de me impressionar. O cômodo parecia um segundo quarto, uma banheira estava no centro, quadros com árvores desenhadas estavam pendurados em algumas paredes, uma janela permitia a passagem de uma brisa suave e acolhedora, uma penteadeira em um canto, toalhas perfeitamente dobradas ou penduradas, um chuveiro e cortinas, tudo em tons neutros, como marrom e dourado. Quem não poderia ser feliz em um lugar como aquele? Bem, eu poderia.
⚈⚈⚈⚈
Após desarrumarmos as malas, Arthur me mostrou tudo o que havia para ser apreciado no hotel. O bar era bem iluminado por abajures perto do balcão e um lindo lustre, mostrando cada detalhe dos sofás em um tom verde-acinzentado, cobertos por almofadas laranjas e vermelhas, empilhadas em um linha impecável, demonstrando que falhas não eram aceitas naquele lugar; um cadeira almofadada fazia conjunto com o sofá e uma mesinha de centro estava entre ambos os móveis. Art colocou sua mão quente na parte inferior das minhas costas, direcionando-me mais para dentro do amplo espaço, permitindo-me apreciar cada detalhe.
Havia todo os tipos de bebidas imagináveis atrás do balcão, uma pintura estava em um espaço que separava as fileiras de bebidas em duas partes, uma mesa longa distanciava os dois sofás que estavam de costa um para o outro. Vasos de flores estavam colocados sobre o móvel, assim como uma pequena estátua de um homem montado em um cavalo. Mais para o fundo do local havia outra mesa com mais abajures e charutos que pareciam ser do preço de um apartamento de luxo.
Logo seguimos para um espaço destinado ao café da manhã. O cômodo era composto por cores claras e a luz que irradiava pela janela aberta tornava tudo ofuscante demais, mas combinava com a paz destinada à refeição mais importante do dia. As toalhas das mesas eram de um branco imaculado, do tipo que uma manchinha causaria uma pena terrível, as cadeiras também eram da mesma cor mas com o estofado lilás. Flores rosa-bebê davam vida para o ambiente e mais pinturas estilo renascentista estava penduradas na parede da frente. Tudo era muito bonito e puro luxo, algo com o qual eu não estava acostumada.
Caminhamos por um longo corredor e no final entramos onde acontecia os mais maravilhosos jantares. Senti que meus olhos brilharam com a opulência de cada detalhe, cortinas estavam presas ao lado de amplas janelas, todas em dourado de modo que combinavam com o amarelo-ocre das paredes. Rosas vermelhas enfeitavam alguns cantos perto das paredes e o centro da mesa, as cadeiras estavam cobertas por cetim em um tom pastel, castiçais estavam postos sobre a mesa também, prontos para iluminar quando a noite chegasse. Haviam pratos que pareciam porcelana fina, taças de cristais e tantos talheres que não fazia ideia para que eram usados. E em um canto no fundo, lá estavam, mais das obras de arte que cobriam esse "castelo" e um piano negro.
- Vista algo bonito essa noite, viremos jantar - Arthur murmurou no meu ouvido e eu apenas assenti, ainda hipnotizada com tudo. Entretanto, apesar de tanta beleza e riqueza, foi o jardim que mais me emocionou. Era tudo tão bonito, de um verde bem cuidado, a grama baixinha como um tapete, árvores frondosas espalhadas pelo lugar enorme.
Havia um restaurante ao ar livre, perfeito para um chá da tarde e conversas bobas, uma piscina com águas límpidas, com cadeiras e guarda-sóis, além de uma jacuzzi em um canto mais reservado. Quando não havia mais nada para conhecer e voltávamos para a entrada do hotel, tirei os sapatos e senti a grama fofa sob meus pés, fechando os olhos de puro prazer. Se tudo ocorresse bem e eu conseguisse que Arthur não me odiasse (pelo menos isso), iria sugerir para que fizéssemos um piquenique naquela maravilha da natureza.
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ღ Conquistando um Sullivan
RomanceSegundo livro da série Irmãos Sullivans Após várias decepções amorosas, Lídia Prescot havia desistido há tempos de engajar um relacionamento sério e adquirido para si o lema do carpe diem. As coisas tomaram uma reviravolta quando Arthur Sullivan ent...