— Onde você mora Zoe?
Acho conveniente questionar quando já deixamos minha cunhada em sua casa, que não se localiza longe de onde estivemos.
— Precinct 41 no Bronx.
— É sério? — Pergunto preocupada.
— Sim. — É monossilábica em suas respostas.
— Você sabe que é um dos bairros mais perigosos de Nova York, certo? — Não que a big apple seja perigosa. Ela não é, mais esse bairro registra os maiores índices de furtos e outras coisas ilícitas.
— Eu já fui assaltada três vezes, então sim. Eu sei disso.
— Pelo amor de Deus garota! — Exclamo horrorizada. — Onde estão seus pais mesmo? — Indago.
— Filipinas. Eu vim de lá há dois anos para estudar e desde então não voltei.
— Está esse tempo todo sozinha? Fez amigos? — Questiono com o coração apertado.
— Eu não tenho ninguém aqui, a única pessoa que se importou de verdade comigo até agora foi você.
— E na faculdade, amigos? — tento outra vez.
— Só querem papo comigo quando precisam de ajuda, quando não, eles não se importam, ninguém se importa de verdade.
— Eu me importo e a partir de hoje você não vai mais estar sozinha.
Pego sua mão e aperto em um gesto reconfortante, seus olhos estão brilhantes e sei que pode voltar a chorar à qualquer momento.
Quando chegamos ao seu bairro ela me indica o restante do caminho e paro de frente à um prédio de três andares caindo aos pedaços ela desce e eu a sigo, travando o carro em seguida.— Não vai embora agora? Pergunta quando me percebe em sua cola.
— Não, quero ver uma coisa e preciso usar o banheiro.
— Ok.
Ela sai na frente e eu vou seguindo a de perto um tanto horrorizada, a situação do edifício está muito pior por dentro do quê por fora.
Subimos dois lances de escada e paramos na primeira porta à esquerda, quando ela abre a porta e me da passagem eu entro ficando momentaneamente paralisada. Em sua sala as paredes estão mofadas e com a tinta descascada, não há nada além de um sofá velho e aparentemente desconfortável no meio do cômodo, saio andando sem sua permissão e paro em sua cozinha, onde há apenas uma pequena geladeira, um fogão de duas bocas e dois pequenos armários na parede, também à um tanque de lavar roupa e deduzo que nem mesmo lavanderia tem.
Quando volto-me encontro-a me encarando envergonhada, ela rapidamente baixa a cabeça.
— Você poderia por favor levantar a cabeça. — Eu peço extremamente exasperada. — Meu pai sempre disse-me para andar de cabeça erguida e que jamais a abaixasse, pois se eu não me impusesse, ninguém jamais me levaria à sério ou me respeitaria. — Seus olhos estão vidrados aos meus. — Você não é pior que ninguém, então não deixe alguém pensar isso de você, não se submeta a nada que venha lhe denegrir e humilhar, afinal de contas você será uma advogada, portanto tem o dever de deixar essa submissão de lado. Estamos entendidas?
— Sim. — Responde com os olhos brilhando.
— Como consegue viver assim? — Pergunto curiosa.
— É melhor que não ter onde viver, não tenho condições de me preocupar com conforto, então tendo um lugar para onde voltar depois de um dia de trabalho está ótimo.
— Do que seus pais vivem nas Filipinas?
— Meu pai é pescador e minha mãe dona de casa, tenho dois irmãos menores de 12 e 14 anos, eu mando dinheiro para eles, meu sonho era trazê-los para cá, mas meu pai jamais aceitaria sair de lá, por isso estou juntando dinheiro para comprar uma casa melhor para eles, eles não sabem é claro. — Diz e passa por mim. — Você aceita um café, chá, água ou qualquer outra coisa? — Indaga.
— Na verdade eu desejo levá-la comigo para casa comigo.
— Que casa? — Questiona com olhos assustados.
— A minha é claro.
— Você não pode querer levar uma estranha para sua casa. — rebate.
— Você por um acaso é assassina em série?
— NÃOO!!
Sua negação foi automática.
— É usuária de drogas, se prostitui, é traficante de coisas ilícitas?
— É claro que não. — Responde e se encolhe, cruzando os braços.
— Então não vejo motivos. Alguma coisa te prende à este lugar?
— Não, é só que eu não me sentiria confortável. O que sua família iria pensar?
— Eu moro sozinha e minha mãe e meu pai provavelmente irão se orgulhar da educação que me deram, eles não iriam me julgar e nem te julgar, se é isso que lhe aflige.
— O que seus vizinhos irão dizer? Vão achar que temos um caso.
Eu fico em choque por alguns segundos e então explodo em uma gargalhada inevitável. Passo alguns minutos tentando me controlar enquanto lágrimas insistentes molham minhas bochechas, e as risadas insistem em não cessar, minha barriga dói e a respiração fica entrecortada.
Não acredito que ela pensa que sou lésbica! (Nada contra quem é).
— Eu não sou lésbica, se é isso que a incomoda. — Falo secando os olhos e tentando me recompor, mas quando lembro de sua fisionomia constrangida durante meu arroubo, fica um pouco difícil.
— E-e-eu n-não p-p-pensei i-isso de v-você.
Fala envergonhada e gaguejando.
— É claro que pensou. — Falo de maneira divertida, não querendo deixa-la mais embaraçada. — Não se preocupe, que não senti-me ofendida. — Vamos, junte suas coisas para sairmos desse lugar logo, eu quero, posso e vou ajudá-la menina.
Me aproximo alguns passos e surpreendendo a mesma, a puxo para meus braços onde a mantenho por algum tempo e sussurro em seu ouvido: não se preocupe, você não está mais sozinha.
Suas emoções são instantâneas as minhas palavras e ela cai em um choro convulsivo. Eu tento não chorar junto com ela, enquanto faço carinho em seus cabelos e em suas costas, um vaivém ritmado.
O que ela ainda não entende é que colocando-a ao meu lado, também estarei ne livrando de sentimentos conflitantes e inopoturnos que andam me assombrando.
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Marcelo (Spin-off Tudo Culpa dos Croquis)
Romance[+16] Marcelo Fontana. É um delegado de prestígio. Em compensação é um pervertido quando se trata de mulheres. Quer distância de compromisso. Amy Montgomery é americana, veio para o Brasil para participar da cerimônia de casamento de Nicholas Cla...