Capítulo 31

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Marcelo

Que lugar desgraçado. Tem mato pra tudo que é lado. Espero que nada aconteça hoje, o que é querer pedir muito. Faltam vinte minutos para o horário marcado mais já cheguei e só vejo mato.

Sei que o que vai acontecer aqui não vai ser bonito, de maneira nenhuma. O cara além de um dos chefes do narcotráfico ainda é um político corrupto de muito prestígio, uma vergonha para nosso país.

Não entendo como um país lindo, praticamente autosustentavel como o nosso, se deixa enganar por tantos bandidos engravatados. É deprimente ver tudo ruir por água abaixo.

Eles usufruem do dinheiro, e a classe trabalhadora paga.

FP Sardinha é um dos piores que tem, o cara tem uma lábia, engana todo mundo direitinho, e só em pensar que eu posso falhar e ele continuar impune a raiva me consome.

A vida definitivamente não é justa.

Estou olhando para frente quando uma batida na janela, quase, quase me faz sobressaltar. Eu desço do carro e encaro o traficante em minha frente.  Uma vontade de dizer umas verdades não me faltam, mas no momento é melhor continuar em silêncio. Faz um sinal para que o siga e sai andando em minha frente. 

Ajeito a pulseira em meu pulso, nunca pensei que fosse agradecer tanto por ter comprado esse treco, no início achei que eu tava ficando maluco, mas vejo que foi a decisão mais acertada da minha vida. Praticamente não se nota que tem um rastreador, na verdade a não ser que tirem do meu braço, não tem mesmo como perceber. Deixei todas as coordenadas com Dênis e neste momento provavelmente já está juntando todo o pessoal e o reforço que pedi.

Eu posso até morrer hoje aqui, mas nada vai sair como Sardinha planejou.

Vocês não pensaram que eu viria para cá sem dar pistas de nada né? Espero que não. Acho vocês muito inteligentes pra isso.

Andamos quase trinta minutos dentro do mato, acho que o cara tava dando voltas e voltas, fazendo um caminho mais difícil para que eu não lembre posteriormente.

Nesse meio tempo fico pensando em J e sua família. Como ele deixou que isso fosse acontecer,o cara é um dos mais experientes, não me conformo de jeito nenhum. Mas nada posso fazer por hora, espero que todos estejam bem, não quero perder ninguém da minha equipe.

Ultrapassamos uma pequena ponte por onde passa um riacho e pronto. Estamos em frente a um galpão, posso ver a movimentação do lado de fora do mesmo.

Respiro profundamente e acompanho o traficante a minha frente que já está bem adiantado. Ele empurra uma das portas e sou seguido com os olhos, existem muitos bandidos aqui, e quase todos sustentam um sorrisinho sarcástico.

Eu semicerro os olhos em direção a todos eles, uma forma de demonstrar que aquilo não me atinge. Mentira né meu povo, posso até não demonstrar mais estou gelado, não de medo, mas de preocupação com o que pode vir a acontecer aqui.

Minha mãe tem um treco se eu morrer, afinal de contas ela nunca quis que eu fosse delegado, me apoiou, totalmente contrariada mais apoiou. E minha irmã? Quem vai fazer alguma coisa com relação a pirralha. Papai não daria jeito nela nem se tentasse, eu sou o único que consegue da um sermão e um pouco mais de juízo.

E o principal e que infelizmente não sai da minha cabeça neste momento. Amy! Como ela vai ficar? Ainda mais agora que nos declaramos, numa situação inusitada pra cacete, o momento mais inoportuno, mas mesmo assim foi algo que mexeu comigo e me deu forças para tentar continuar vivo, enquanto estiver neste inferno.

O pior de tudo é que fico me perguntando se ela fez o que pedi. Tão teimosa aquela ali.

Meus pensamentos são interrompidos quando vejo Filho da Puta Sardinha vindo até mim com um sorriso de orelha a orelha. Maldito! Se pensamentos aniquiladas alguém ele viraria pó neste instante.

— Fontana! — Ele exclama. — Espero que esses maus educados tenham lhe tratado com cortesia.

— Vá direto ao ponto Sardinha. Estou sem paciência para suas gracinhas.

— Ta nervoso cara? — Ele indaga ao aproximar-se de mim, mas claramente é uma pergunta retórica, já que ele mesmo responde. — Não precisa ficar assim, seu que está ansioso por nosso acordo que beneficiará não somente a você, mas primeiramente a mim, o cara mais legal e compreensivo que você já conheceu. — Vamos para meu escritório, iremos tratar dos nossos assuntos lá, com mais privacidade. — Fala isso e me dá as costas, saímos de onde estamos e adentramos um lugar que me deixa completamente horrorizado.

Tem muita gente embalado drogas aqui, um casal trepam ensandecidos mais ao canto e não se importam bem um pouco por terem uma plateia. Quando paramos em frente a outra porta, ele chama um de seus cães de guarda que estão próximos e da alguma coordenada para o mesmo que acena positivamente e vai embora.

— Seja bem vindo à um dos meus cafofos, delegado. Espero que aprecie seu tempo por aqui.

— Tenho certeza de que não quero apreciar nada.

— Tão amargo, que alguma bala, um bombom ou um bolo.

— Onde está J e a família dele? — Indago ficando nervoso.

— Tu é ruim mesmo companheiro. Fica cortando meu barato e minhas falas. Tu é chato pra caralho!

Ele vira-se, ficando de costas para mim e mexe em algumas gavetas. Depois coloca sobre a mesa, uma pequena máquina de contar dinheiro e abre outra gaveta, tirando maços e mais maços de notas.

Tudo dinheiro do tráfico. Dinheiro sujo.

Foco observando calado enquanto ele coloca algumas notas e vai deixando que a máquina faça seu trabalho.

— Quanto vai querer? — Ele indaga me olhando nos olhos depois de um tempo. — Quanto vai querer pelo seu silêncio? Estou disposto a pagar qualquer preço.

— Que pena que não estou à venda. — Respondo arqueando a sobrancelha.

Sério que ele achou que eu fosse de sua laia? Incrível como o ser humano pode ser escroto sem caráter.

— Não vamos ficar perdendo nosso tempo delegado. Sabemos muito bem que se não aceitar minha proposta amigável, teremos que fazer algo para calar sua boca, e estou sendo tão bom, não costumo ter piedade, mas gostaria de poupa-lo nesse caso.

— Não me poupe. Eu jamais irei me vender, nunca perderei minha essência e minha honra, e isso não está em discussão.

— Você não está pensando direito. — Fala e coloca muito mais dinheiro em sua mesa.

— Estou ótimo Sardinha, nada do que disser me fará desistir de colocá-lo atrás das grades, onde é o seu lugar.

— Tudo bem, vamos fazer do modo difícil então. — Ele aperta um botão, não sei onde já que não vi, mas ouvi o barulho e minutos depois o capanga com quem ele falou antes de entrar na sala aparece.

— Sim chefe. — O cara fala.

— Pode levá-lo, ele não quer colaborar espontaneamente, então vamos ver se muda de ideia.

E eu não preciso que diga mais nada, sei muito bem qual método ele tentará para ver se mudo de ideia, um método que quase roubou a vida de uma pessoa muito querida.

Quando me levanto e estou passando pelo limiar da porta ele diz.

— Cascão, de preferência bem lento. — E então solta uma risada imbecil. Acho que ele estava tentando me causar medo. No entanto estou a serenidade em pessoa.

Dênis filho da puta! Venha logo!

Esbravejo mentalmente.

Marcelo (Spin-off Tudo Culpa dos Croquis)Onde histórias criam vida. Descubra agora